Morreu Wolfgang Schäuble, conhecido político alemão da CDU, esta terça-feira à noite, aos 81 anos. O ex-ministro das Finanças alemão, com cujo rosto os portugueses se familiarizaram durante o período da troika em Portugal (2011-2014), partiu “tranquilamente”, disse a família ao jornal alemão Bild, o primeiro a dar a notícia.

Schäuble, que ficou paraplégico no início dos anos 90, tinha chegado ao Bundestag (Parlamento alemão) em 1972 e permaneceu como deputado ininterruptamente até quase à sua morte. Foi, mesmo, escolhido para presidente do parlamento alemão após a saída do cargo de ministro das Finanças, que aconteceu em 2017. Foi presidente do Bundestag até 2021.

Antes disso, como ministro do Interior de Helmut Kohl, liderou as negociações para a reunificação das duas Alemanhas — uma tarefa que consolidou a sua popularidade entre os alemães, criando muita especulação sobre se poderia vir a ser chanceler. Foi precisamente nesta altura que foi vítima de uma tentativa de assassinato que o deixaria paralizado, quando um homem com problemas mentais disparou três vezes sobre ele num comício.

Em 2019, deu uma entrevista onde reconheceu viver com alguma “tristeza” pela forma como os principais responsáveis políticos – onde ele se incluía – geriram a crise da dívida. “Hoje, penso como podíamos ter feito as coisas de forma diferente”, afirmou, nessa entrevista.

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Mais recentemente, em outubro de 2022, Schäuble falou sobre a crise energética que se agudizou com a invasão russa da Ucrânia. À entrada num inverno em que se temia que muitas pessoas pudessem passar frio devido ao aumento dos preços da energia, o ex-ministro das Finanças foi perentório: “Vistam uma camisola, ou duas camisolas”.

O ex-ministro pediu aos seus concidadãos que “não sejam choramingas – é preciso reconhecer que há muita coisas que não podem ser tomadas como garantidas”. E, sobretudo, deve-se lutar contra uma ideia de que o Estado tudo providencia: “Se dermos a entender às pessoas que tudo é infinito (…) então elas vão ficar com a sensação de que o Estado pode fazer tudo – e isso não é sustentável”.

Sobre Portugal, Schäuble teceu vários elogios à forma como foi cumprido o programa da troika e como o País manteve o rumo nos anos seguintes, conseguindo aproveitar as condições monetárias favoráveis para consolidar as contas públicas. O alemão chegou, mesmo, a elogiar o português Mário Centeno pelos resultados orçamentais no pós-troika.

Em maio de 2017, Schäuble disse que “há 12 meses, era tudo tão diferente. Portugal estava à beira das sanções económicas da União Europeia e o sucesso do seu novo Governo de coligação de Esquerda estava longe de ser assegurado. Hoje, já não viola as regras orçamentais da União Europeia e prepara-se para pagar antecipadamente 10 mil milhões de euros ao FMI”. Foi nessa altura que Schäuble chamou a Centeno “o Ronaldo do ECOFIN”.