Mais do que a vitória com reviravolta frente ao Aston Villa em Old Trafford a seguir ao Natal, naquilo que na teoria poderia ser um gatilho para deixar uma outra imagem na segunda metade da temporada, a realidade do Manchester United mudou nos últimos dias do ano depois da confirmação da compra de 25% do capital social por parte do milionário Jim Ratcliffe. Não deixando de ser uma parte minoritária do clube, o CEO da Ineos passava a ter do seu lado a parte da gestão desportiva que há muito parece arredada dos red devils pelo que se vê nas escolhas erráticas que têm sido feitas nos últimos anos. Ou seja, o próprio Erik ten Hag iria ter outra “sombra”, no bom e no mau. No entanto, e face ao calendário carregado, iria chegar ao final de 2023 sem tempo para ter uma conversa com o novo responsável entre palavras de confiança no futuro.

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“O nosso calendário está tão condensado que não tivemos ainda tempo mas essa conversa vai chegar, estou ansioso por isso. Eles querem trabalhar comigo, eu quero trabalhar com eles, haverão conversas entre nós, várias reuniões e veremos como corre. Agora estou apenas focado no jogo com o Nottingham Forest, nesta altura não quero qualquer tipo de distração. Nos próximos dias ou meses teremos tempos, saberei mais nesse momento. Mas é algo bom, muito positivo e estamos ansiosos para trabalhar em conjunto”, apontou o técnico neerlandês, dando como certa uma continuidade que com os atuais resultados não seria assim tão certa. Era sobretudo que faltava: resultados. Se a imagem deixada na segunda parte do encontro com o Aston Villa foi a de uma equipa com um enorme coração que consegue recuperar de desvantagens de dois golos, o desenho da época apontou para um projeto irregular, mal pensado e em constantes soluços. E era isso que “minava” aquilo que podia ser a confiança dos jogadores, como admitiu Bruno Fernandes.

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“A crença tem de estar lá, porque se não acreditarmos uns nos outros vai ser difícil. Claro que nos últimos tempos temos passado por alguns momentos assim, onde até desacreditamos em nós próprios. Começas a pensar: ‘Será que sou bom o suficiente para estar aqui?’. Quando as coisas não estão a correr bem, é normal pensar assim. O importante é a maneira como dás a volta a isso. Neste jogo, a equipa sabia que tínhamos de continuar a fazer um esforço. Sabíamos que se conseguíssemos marcar o primeiro golo da segunda parte, podíamos mudar o rumo do jogo. Temos treinado muito para criar oportunidades e para fazer golos. Enquanto jogador do Manchester United, sabes que vais ser criticado, mas para jogar a este nível é preciso saber lidar com isso”, apontou na zona de entrevistas rápidas da Amazon Prime após o último jogo.

“Novos donos? Não muda muita coisa, não vamos mudar aquilo que fazemos. A menos que invistam dinheiro e tragam alguns jogadores. Mas nós é que temos de fazer a diferença dentro de campo. Vemos tudo o que se passa nos jornais e na comunicação social, é impossível não ver. Sabemos o que se passa no clube mas precisamos de nos focar no que podemos controlar”, acrescentou ainda o capitão do United a propósito das últimas movimentações em Old Trafford. Bruno Fernandes, mais do que ninguém, sabia que o ponto mais relevante nesta fase era consolidar a equipa a nível de exibições e resultados, subir na classificação e ir à procura dos objetivos. No entanto, pela frente estaria um Nottingham Forest agora comandado por Nuno Espírito Santo que melhorou com o português e ganhou em Newcastle. Ganhou aí, voltou a ganhar agora, quebrando um jejum de quase 30 anos do clube sem triunfos frente aos red devils. E a crise voltou para ficar em Manchester, com um sétimo lugar a nove pontos dos lugares de Champions com mais um jogo. Mais: há 93 anos que o United não sofria tantas derrotas numa temporada até à viragem de um ano…

Com apenas uma mudança em relação à equipa que iniciou o encontro com o Aston Villa, com a saída de Hjölund para a entrada de Antony e respetiva colocação de Rashford no centro do ataque, a primeira parte passou praticamente sem uma única oportunidade clara de jogo e apenas um remate enquadrado ao longo de 45 minutos. Varane teve uma fífia que por pouco não trazia males maiores, Antony voltou a perder-se nas fintas que de forma invariável nada têm acrescentado e Bruno Fernandes teve mais uma exibição a ilustrar o atual momento da equipa: não está confortável sem bola, não consegue soltar-se das amarras com ela e não mostra uma ideia de jogo que defina aquilo que na verdade procura do jogo. Com isso, de uma forma quase inevitável, o nulo arrastou-se até ao descanso numa partida marcada também pelo vento forte.

Ao intervalo, Ten Hag trocou Mainoo por McTominay no meio-campo em busca de outro peso físico pelo corredor central mas foi a equipa da casa a surgir com outra predisposição ofensiva para desfazer o nulo com momentos de atrapalhação da defesa dos red devils antes do momento que começou a mudar as feições do jogo com Wan Bissaka a combinar com Bruno Fernandes antes do remate de fora da área de Diogo Dalot que bateu no poste (55′). A partir daí, o Manchester United passou a acreditar mais, o Nottingham Forest não quis ficar atrás e o 1-0 caiu para a equipa da casa, com Nico Domínguez a concluir uma grande jogada coletiva com assistência de Montiel (63′). O jogo estava lançado para um final imprevisível mas a cair para a equipa da casa: Rashford aproveitou a assistência de Garnacho após erro de Matt Turner para empatar (77′) mas Gibbs-White, após uma saída rápida na sequência de uma oportunidade de ouro para a reviravolta, voltou a colocar o Nottingham Forest na frente para a segunda vitória consecutiva (83′).