Alguns dos jogos de futebol da Taça de Portugal que se realizam esta terça e quarta-feira podem estar em risco. Os elementos da PSP em protesto desde o início da semana estão a tentar mobilizar o maior número de agentes para a não comparência nos serviços gratificados (pagos à margem do salário), ao mesmo tempo que apelam aos elementos da Unidade Especial de Polícia (UEP) para que se juntem ao protesto.

Para já, a unidade de elite da PSP mantêm-se em funções. O Observador sabe que o movimento que começou, de forma espontânea, no domingo à noite, com um agente a deslocar-se para a porta da Assembleia da República em protesto contra as condições salariais e de trabalho na polícia, está a ser acompanhado com atenção pelos elementos da UEP.

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Mas o caráter inorgânico do protesto, e o facto de ser ainda recente, tem levado esse elementos a optar por aguardar a evolução antes de tomarem uma posição concreta. Além disso, e uma vez que os recursos dessa unidade — que junta o Corpo de Intervenção, as equipas cinotécnicas, as de desativação de explosivos e Grupo de Operação Especiais — são, de forma geral, melhores que os das esquadras e divisões da restante polícia, o argumento de que há carros e carrinhas “inoperacionais” não tem a mesma força (ou fundamento).

Ainda assim, a não adesão da UEP pode não ser suficiente para permitir a realização dos jogos agendados para esta terça e quarta-feira. Além de um Sporting-Tondela e de um Estoril-FC Porto, joga-se ainda um Benfica-Sp. Braga, todos a contar para os oitavos de final da Taça de Portugal. Este último jogo, mais do que os outros dois, suscita habitualmente particulares preocupações junto das forças de segurança, por estarem em causa dois “grandes”.

O Observador tentou perceber junto do organizador do jogo, a Federação Portuguesa de Futebol, por se tratar da Taça, se estava a ser acautelada a possibilidade de os jogos não se realizarem em consequência do protesto. Até ao início da tarde, garante fonte oficial da Federação, a perceção era a de que “não haverá qualquer efeito” que impeça a realização dos jogos. Também o Sporting — o primeiro a entrar em campo — dava sinais de que a partida deveria mesmo acontecer: até duas horas antes do início do jogo, não tinha chegado ao clube qualquer aviso de constrangimentos provocados por greves ou boicotes à segurança. Estava tudo “normal”, diz fonte oficial de Alvalade ao Observador.

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Fonte operacional da PSP que tem participado no protesto ressalvava, no entanto, que a haver algum efeito, ele só será sentido num momento mais próximo do início das partidas. O Sporting-Tondela tem início marcado para as 18h45, no Estádio José Alvalade, e o Estoril-FC Porto arranca um pouco mais tarde, às 20h45, no Estádio António Coimbra da Mota.

Baixas médicas e a mobilização da GNR: os apelos através de mensagens

“Venho por este meio expor uma solução para o boicote ao jogo de futebol entre o Sporting e o Tondela”, lê-se numa das mensagens do grupo Telegram em que o protesto tem sido dinamizado, e a que o Observador teve acesso. “O pessoal pode meter baixa médica, que tem de apresentar até cinco dias úteis [depois] na esquadra e não sofrer qualquer corte salarial”, continua a mensagem, onde se partilham os passos a cumprir no processo de justificação da falta.

Noutros casos, há membros da polícia a apelar à não comparência nos jogos como forma de exponenciar os efeitos do protesto. “O imperativo mesmo são os jogos de futebol, aí sim, mexe com muitas carteiras”, lê-se noutra mensagem a que o Observador teve acesso.

A ideia de potenciar o efeito da paralisação através de um boicote aos jogos tem, aliás, somado adeptos no grupo. “O pessoal que está escalado logo para o futebol não podia meter um diazinho de baixa? De assistência a família???” ou “a terem falta de efetivo para a merd@ do futebol, que seja algo ‘natural’” são algumas das mensagens partilhadas.

Neste caso, a referência a uma causa “natural” para a não comparência no serviço de segurança os jogos tem um contexto.

“Houve aqui um amigo e irmão que falou em passar a informação à comunicação social [de] que os jogos de futebol estavam em risco. Peço, não o façam (…) Dá a ideia e imagem de premeditação”, refere-se. “A haver serão situações ’naturais e inesperáveis’ [como] um acidente em serviço (torcer um tornozelo), uma indisposição, acontece.”

O boicote aos jogos serve até de argumentar para tentar alargar o protesto à GNR, que até ao momento tem registado uma adesão bastante menor. “Malta da unidade de intervenção da gnr que vai para o Estoril ainda á [sic] pouco tempo perdeu a guerra pois recusaram pagar como serviço remunerado…. Juntem-se ao pessoal e mandem f**** o futebol”, refere outro utilizador.

Artigo atualizado às 17h09 com as informações do Sporting sobre as condições para a realização do jogo