Fabio Capello é um dos treinadores mais respeitados das últimas gerações. Pelos feitos desportivos, entre a Liga dos Campeões no AC Milan e os dois campeonatos no Real Madrid, mas principalmente pelo toque de sabedoria que atribui a cada declaração. Uma entrevista de Fabio Capello nunca é só uma entrevista — é uma autêntica lição.

Aos 77 anos e sem treinar desde 2018, quando se reformou após sair dos chineses do Jiangsu Suning, o italiano esteve esta semana no Dubai e na condição de jurado dos Globe Soccer Awards. Em entrevista ao jornal Marca, recordou as duas passagens pelo Real Madrid, elogiou Jude Bellingham e Carlo Ancelotti, deixou palavras sobre Cristiano Ronaldo e ainda lembrou a contratação de Carlos Secretário pelos merengues.

Fabio Capello chegou ao Real Madrid pela primeira vez em 1996 e depois de ganhar praticamente tudo com o AC Milan, revelando que teve de recuperar um espírito vencedor que tinha desaparecido no Santiago Bernabéu. “Vinha de uma equipa como aquele AC Milan, onde ganhar era o normal, e percebi que tinha de recuperar esse espírito. E consegui fazê-lo. É algo de que me orgulho, ver de novo os jogadores com o espírito da camisola branca. Foi muito importante. Aconteceu nas duas vezes, mas a primeira foi mais importante porque esse espírito vencedor parecia estar esquecido. Agora os jogadores assinam pelo Real Madrid e sabem que vão treinar na melhor equipa do mundo, a mais famosa, a equipa número 1″, explica.

Ficou apenas uma temporada e foi campeão espanhol, pedindo a Lorenzo Sanz para voltar ao AC Milan e não cumprir os três anos de contrato porque se sentia em dívida para com Silvio Berlusconi. Ainda passa por Roma e Juventus antes de voltar ao Real Madrid em 2006, já com Florentino Pérez, e acaba despedido no final da época apesar de ser novamente campeão.

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É no primeiro período, porém, que contrata Carlos Secretário ao FC Porto — alguém que usa como exemplo de jogador com qualidade, mas que “não era válido” para jogar pelos merengues. “Para jogar no Real Madrid é preciso ser muito bom jogador. E quando chegam é preciso perceber se aguentam a pressão ou não. Conto sempre a história do Carlos Secretário: jogava na seleção portuguesa, mas não podia jogar no Bernabéu. Não podia, bloqueava”, recorda o italiano.

Quase duas décadas depois de sair de Espanha definitivamente, só tem elogios para Carlo Ancelotti — o “número 1 do mundo” que ainda treinou no AC Milan no início dos anos 90. “Ganhou em todos os sítios por que passou. É dificílimo ganhar tanto como ele ganhou. Esteve na Alemanha e ganhou, foi para Inglaterra e ganhou e em Itália nem foi ganhar, o que fez foi um milagre, nunca pensei que pudesse ganhar um título com a equipa que tinha”, sublinha Capello, acrescentando que o segredo do treinador é a “inteligência”. “Não tem um sistema, depende sempre dos jogadores que tem. Saber adaptar-se é um sinal de inteligência. Não podes jogar sempre com o mesmo estilo, depende sempre dos jogadores que tens. Tens de pôr os teus jogadores no sítio e com o sistema de jogo que lhes permita render mais, dar 100%”, defende.

Na entrevista ao jornal Marca, Fabio Capello garante que será Jude Bellingham a lutar com Mbappé pela Bola de Ouro nos próximos anos, explicando que ambos têm “mais qualidade técnica do que Haaland” e sublinhando a adaptação do médio inglês ao Real Madrid. “Nunca teria imaginado, tem sido incrível. Os jogadores ingleses, quando saem do seu país, têm sempre problemas. Mas é muito possível que a passagem pela Alemanha o tenha ajudado. É um jogador muito completo, sabe fazer tudo. Faz muitas coisas e fá-las a um nível altíssimo, a qualidade que tem é enorme. Há jogadores completos mas a um nível médio ou alto, mas o Bellingham é completo a um nível altíssimo, capaz de fazer a diferença”, atira o treinador.

Entre críticas à arbitragem e ao VAR, o rótulo de “escândalo” para o Caso Negreira do Barcelona e ainda o isolamento de Real Madrid e Manchester City como “favoritos” a conquistar a Liga dos Campeões, Fabio Capello comentou ainda os 54 golos que Cristiano Ronaldo marcou em 2023. “Tudo depende de onde está a jogar. Mas sabemos que é uma máquina. A sua gasolina são os golos. É esse o seu mérito, que continue assim com o passar dos anos”, termina.