O ministro da Cultura afirmou esta sexta-feira que foi autorizada a saída do país da obra de Domingos Sequeira “Descida da Cruz”, e que não foi proposta a sua aquisição à comissão de aquisições para as coleções do Estado.

Pedro Adão e Silva, que falava à margem da sessão protocolar de abertura da Aveiro 2024 – Capital Portuguesa da Cultura, admitiu, porém, que a compra da obra poderá ser proposta durante este ano, pela Comissão para Aquisição de Bens Culturais para os Museus e Palácios Nacionais.

“De facto foi autorizada essa saída e sei também que não foi feita a proposta de aquisição dessa obra de Domingos Sequeira na comissão de aquisições para as coleções do Estado”, disse o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, quando questionado sobre a colocação deste quadro de Domingos Sequeira para venda, numa galeria de Madrid.

Adão e Silva salientou que a decisão de adquirir obras para as coleções passou, por sua iniciativa, a ser de uma comissão, criada em 2023.

“A pior coisa que podíamos ter era os ministros da Cultura a decidir se compram a obra A ou a obra B”, disse Pedro Adão e Silva, acrescentando que a comissão poderá propor a aquisição da obra este ano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Expresso avançou esta sexta-feira que obra “Descida da Cruz”, de Domingos Sequeira, “está à venda em Madrid, apesar dos pareceres negativos sobre a sua saída de Portugal”.

O semanário noticia que a 6 de novembro do ano passado deu entrada na antiga Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) um requerimento para “exportação temporária” e “eventual venda” da obra “Descida da Cruz”, de Domingos Sequeira, na posse do descendente do duque de Palmela Alexandre de Souza e Holstein.

O pedido previa que este quadro fosse colocado na Galeria Colnaghi, de Madrid, durante um ano, a contar do dia 2 de novembro de 2023, sendo o valor atribuído 1,2 milhões de euros.

A autorização de saída, segundo a notícia, foi justificada pela “inexistência de qualquer ónus jurídico” pelos responsáveis da DGPC.

O Expresso cita ainda o diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), Joaquim Caetano, que emitiu um parecer negativo a este pedido de venda, em 14 de novembro, com base na necessidade de se iniciar “de imediato, o processo de classificação da pintura como Bem de Interesse Nacional, impedindo a sua saída de território nacional”.

“Descida da Cruz” faz parte de um grupo de quatro pinturas tardias de Domingos Sequeira, feitas durante os seus últimos anos de vida, em Roma, onde morreu em 1837.

Joaquim Caetano defendeu ainda a classificação de outras duas pinturas da mesma série, que se encontram na posse desta família Holstein.

O Expresso cita o parecer do diretor do MNAA enviado à secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, e à DGPC, no qual defende que “se procure junto do proprietário entrar em negociações que levem à possibilidade de aquisição da pintura pelo Estado português e, desejavelmente, venham a possibilitar a reunião de todo este conjunto fundamental da arte portuguesa” no museu.

Este núcleo de pinturas tardias de Domingos Sequeira tem sido referenciado pelo MNAA, nomeadamente no contexto da aquisição do seu quadro “Adoração dos Magos”, por subscrição pública, em 2015, pelo valor de 600 mil euros, também à família Holstein.

A Comissão para Aquisição de Obras de Arte para os Museus e Palácios Nacionais foi criada em 2023, com uma dotação de dois milhões de euros, “integrada numa política de valorização do Património” e no contexto de revisão do Estatuto do Mecenato Cultural.

Desta comissão, que faz parte do universo da atual entidade pública empresarial Museus e Monumentos de Portugal, resultante da reorganização da DGPC, fazem parte os diretores dos MNAA, Joaquim Caetano, do Museu do Azulejo, Alexandre Pais, do Museu Soares dos Reis, António Ponte, e do Palácio Nacional da Ajuda/Museu do Tesouro Real, José Alberto Ribeiro.