A Volta ao Algarve, prova que se estreou há mais de seis décadas mas que teve algumas interrupções na sua existência, começou com domínio 100% nacional, que no fundo era a grande força do contingente que por lá andava. Ainda assim, não era um contingente qualquer tendo em conta nomes como Belmiro Silva, Firmino Bernardino, Joaquim Gomes, Joaquim Andrade ou Vítor Gamito além do brasileiro-quase-português Cássio Freitas. Sobretudo a partir do novo século, o paradigma mudou. Pela altura que ocupa no calendário, pela aposta que grandes equipas fazem, pelos nomes que “procuram” as terras algarvias. Alex Zülle, Floyd Landis, Alberto Contador, Tony Martin, Geraint Thomas ou Tadej Pogacar foram alguns dos vencedores do passado. Agora, o principal foco estava centrado nos dois últimos líderes: Remco Evenepoel e Daniel Martínez.

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Em 2022, o belga da Soudal Quick-Step foi o grande vencedor após um contrarrelógio canhão que deixou a concorrência a mais de um minuto; no ano passado, o colombiano ganhou a camisola amarela na derradeira etapa com um quarto lugar também no contrarrelógio que chegou para bater Filippo Ganna por apenas dois segundos. Era aí que se centravam todas as atenções, com uma etapa de 22 quilómetros em Albufeira este sábado que pode dar um passo significativo para o triunfo final antes da subida ao Alto do Malhão. Antes, na “ressaca” da subida ao Alto da Fóia onde Martínez bateu Remco ao sprint, havia uma tirada mais para rolar e recuperar o fôlego na ligação entre Vila Real de Santo António e Tavira com 192 quilómetros.

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“Foi uma etapa muito exigente. A [Soudal] Quick-Step fez um trabalho muito bom desde o início da etapa, tornou a subida muito dura. No final, senti que tinha boas pernas e fiz-me ao sprint. Estava à espera que o Remco [Evenepoel] atacasse. Sabia que ia arrancar de longe mas como estava com muito boas pernas, consegui ganhar. Isso é o que quero, vim com essa ideia. Ainda faltam três etapas, nomeadamente o contrarrelógio, que é muito exigente. Terei de sair bem”, comentou o colombiano após o Alto da Fóia.

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Com as habituais fugas a marcarem a etapa, o principal destaque, pela negativa neste caso, aconteceu com 115 quilómetros percorridos. Na sequência de uma queda coletiva que afetou vários corredores do pelotão e que deixou dois elementos da EF Education no chão sem que se percebesse inicialmente quem seria, Julius van den Berg, que parecia estar em pior estado, ainda se conseguiu levantar para ir em busca do pelotão atrás do carro da equipa mas o mesmo não aconteceu com o português Rui Costa, que fazia a estreia na equipa após um grande ano na Intermarché-Wanthy e que foi obrigado a desistir com queixas no ombro.

Apesar de António Morgado, da UAE Team Emirates, ser o melhor português na classificação geral com um décimo posto a 28 segundos de Martínez, Rui Costa, que já terminou no top 5 em quatro anos diferentes, era um dos principais pontos de interesse nacionais para a última etapa a subir com chegada no Alto do Malhão, ficando assim a meio da corrida quando ocupava a 64.ª posição e ficando privado de entrar na discussão de pelo menos uma etapa. Menos um ponto de interesse numa etapa que por pouco não teve outro nome português em maior plano de destaque: depois de um corte que se deu no pelotão na aproximação à última reta pela queda de um corredor da Caja Rural, Rui Oliveira entrou na luta pela vitória ao sprint e ficou na segunda posição, apenas superado por outro peso pesado do ciclismo da atualidade: Wout van Aert.

Assim, e num dia onde um Rui acabou por cair e abandonar a corrida, outro Rui “levantou-se” e voltou a aparecer nesta Volta ao Algarve depois de já ter sido sexto na chegada a Lagos. “Bem, quando se perde para alguém como o Wout van Aert não se pode dizer nada mas claro que gostaria de ter ganho”, comentou o corredor da UAE Team Emirates, que alcançou assim o seu quinto top 10 do ano depois da nona posição na clássica da Comunidade Valenciana e de um sétimo e um nono lugares na Volta à Arábia Saudita.

Na classificação geral antes do contrarrelógio em Albufeira, Daniel Martínez (Bora) manteve a camisola amarela com os mesmos quatro segundos de avanço de Remco Evenepoel e 12 para o vencedor da última Vuelta, Sepp Kuss (Team Visma). Seguem-se Sergio Higuita (Bora, 16”), Jan Tratnik (Team Visma, 18”), Thomas Pidcock (Ineos, 18”), Tao Geoghegan Hart (Lidl-Trek, 18”), Wout van Aert (Team Visma, 22”), Thymen Arensman (Ineos, 23”) e Mikel Landa (Soudal Quick-Step, 23”) fecham o top 10, com António Morgado (UAE Team Emirates) a ser o melhor português na 12.ª posição a 30 segundos da liderança.