O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, defendeu esta quarta-feira que Espanha tem uma cooperação exemplar e pioneira a nível europeu com Marrocos na gestão das migrações, reivindicando resultados “extraordinariamente positivos” e “excelentes”.

“Os resultados das políticas de imigração entre Espanha e Marrocos são excelentes”, tanto no âmbito da “luta contra a imigração irregular como no impulso à imigração regular”, disse Sánchez, numa conferência de imprensa em Rabat, no final de uma visita oficial que fez esta quarta-feira ao país do norte de África, marcada por encontros com altos responsáveis marroquinos, incluindo o Rei Mohammed VI.

Espanha partilha com Marrocos fronteiras marítimas e também terrestres, nas cidades de Ceuta e Melilla (que são também as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África).

Os dois países têm acordos bilaterais para “gestão dos fluxos migratórios”, nas palavras usadas esta quarta-feira por Sánchez, que sublinhou que este é “um âmbito crucial” das relações bilaterais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No âmbito da promoção da “imigração regular” para Espanha, Sánchez destacou o que considera ser o êxito dos programas de “migração circular” (recrutamento de trabalhadores no país de origem, com o regresso no final dos contratos).

Quanto à “luta contra as redes criminosas de migração ilegal e de tráfico de seres humanos“, o líder do Governo espanhol considerou que a cooperação com Marrocos é também um êxito e evita “milhares de vítimas” no mar todos os anos.

Após uma crise diplomática em 2021 em que Marrocos fez sentir a Espanha a pressão migratória ao deixar entrar milhares de menores em Ceuta e Melilla, os dois países selaram uma nova fase no relacionamento bilateral em abril de 2022, com um plano de ação que abrange diversos âmbitos.

O acordo de 2022 surgiu depois de Sánchez assumir publicamente o apoio à posição de Rabat em relação ao território do Saara Ocidental, antiga colónia espanhola que Marrocos ocupa há quase 50 anos e para qual defende atualmente um estatuto de região autónoma.

Sánchez disse esta quarta-feira que esta é uma “relação bilateral estratégica” para os dois países e que atravessa “o melhor momento em décadas”.

Além da imigração, destacou “casos concretos” que considerou atestarem o bom momento das relações entre Espanha e Marrocos, como a organização conjunta (e com Portugal) do mundial de futebol masculino de 2030 (Mundial2030) ou a evolução das trocas comerciais e dos investimentos bilaterais.

Segundo afirmou, as trocas comerciais superaram em 2022, pela primeira vez, os 20 mil milhões de euros e Espanha transformou-se num dos “investidores de referência” em Marrocos, com investimentos previstos, por parte de empresas espanholas, de 45 mil milhões de euros até 2050 em áreas como os transportes, as energias renováveis ou a gestão da água.

“Espanha tem umas relações extraordinariamente positivas em todos aspetos” com Marrocos, insistiu.

Sobre o Mundial2030, Sánchez considerou que além de ser uma oportunidade para empresas espanholas, por causa de infraestruturas novas necessárias em Marrocos, é “uma mensagem ao mundo muito positiva” de “colaboração e fraternidade” por parte dos três países e desejou que a final seja entre Espanha e Marrocos.

Espanha é um dos países da UE que lida diretamente com maior número de chegadas de migrantes em situação irregular que pretendem entrar em território europeu.

Segundo dados do Governo, 55.618 pessoas chegaram por mar a Espanha em 2023 em situação irregular, o maior número desde 2018.

A maioria (39.910) chegou pelas Canárias, com o Governo de Madrid a atribuir o aumento destes números, entre outras coisas, à instabilidade na região do Sahel. Já este ano, até 15 de fevereiro, o número de chegadas de migrantes às Canárias aumentou mais de 600%.

Aos dados das chegadas de migrantes, as organizações não-governamentais (ONG) somam os daqueles que morrem no mar a tentar chegar a Espanha, atribuindo responsabilidades a acordos como o que Madrid tem com Rabat para controlo das fronteiras, que levam os migrantes para as rotas mais longas e perigosas do Atlântico.

Segundo a ONG Caminhando Fronteiras, 6.618 pessoas morreram no ano passado no mar quando tentavam chegar a Espanha, quase o triplo das vítimas de 2022 e o maior número desde que há registos (2007). Mais de 6.000 (6.007) dessas pessoas morreram na “rota das Canárias”, que voltou a ser “a região migratória mais letal do mundo”.