Desde que assumiu a titularidade naquele encontro na Luz frente ao Estoril que travou a pior série da última época e funcionou como rampa de lançamento para a conquista do Campeonato, João Neves foi reconhecido entre todos os muitos atributos por um em específico que se destacava até pela idade: em jogos mais ou menos complicados, com maior ou menor trabalho, nunca se “escondia”. O médio entretanto internacional A é inteligente, rápido, trabalhador, determinado e humilde mas tem essa característica que desenha uma linha entre um bom jogador e um jogador de eleição. Agora, pelas piores razões, o jovem nascido em Tavira tinha o “jogo” mais difícil da carreira em Toulouse. Cumpriu. Foi dos melhores. Sobretudo, nunca se “escondeu”.

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“Todos ficámos chocados e tristes pelo que aconteceu com a sua mãe, estivemos com ele e apoiámos em tudo. Temos toda a compreensão com a situação, ouvimos o que ele quer, se quer treinar, se queria estar com a equipa hoje [quarta-feira]… Ele quis estar connosco. Também senti que era bom para ele estar com os colegas aqui e jogar com a equipa, treinar. Temos de ver como vamos lidando com a situação, que é difícil, mas a vida tem de continuar e tentamos estar com ele da melhor forma. Amanhã [Quinta-feira] vou decidir, vou falar com ele sobre o que ele quer. Vou pensar e tomar uma decisão”, tinha referido Roger Schmidt antes da partida, não dando qualquer certeza em relação à utilização de João Neves na partida.

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Um dia depois da morte do avô materno de António Silva, o médio perdeu a mãe, de 50 anos, vítima de uma doença prolongada. O futebol nacional, entre clubes, jogadores e treinadores, criou uma espécie de cordão de solidariedade em torno de ambos, querendo deixar uma palavra de apoio no momento difícil que ambos iam atravessando. Na terça-feira, na companhia de alguns dos companheiros de equipa, João Neves esteve na frente do funeral da mãe e nesse mesmo dia regressou a Lisboa, mostrando-se disponível junto da equipa técnica para treinar na manhã seguinte. Trabalhou, seguiu viagem para França, voltou a dizer que podia ajudar os encarnados se fosse essa a intenção. Foi titular (jogando com um fumo negro no braço esquerdo), acabou como um dos melhores num nulo em que Trubin foi quem mais brilhou e não resistiu à emoção no final, sendo de pronto consolado pelos companheiros e amigos mais próximos como António Silva.

“Aquilo que aconteceu com o João Neves e o António Silva é algo que afeta toda a equipa. A preparação não foi fácil, como costuma ser para um jogo normal. Respeito muito que ambos tenham jogado um jogo difícil e que tenham estado focados na partida. A equipa deu tudo para os apoiar e penso ter sido muito bom conseguirmos a qualificação para a próxima ronda”, referiu o técnico germânico à SIC. “Tenho muito respeito por ambos. Sentiram-se prontos para jogar mas o facto de se sentirem prontos e estarem bem são duas coisas diferentes. Deram tudo o que foi necessário e acho que ambos fizeram um jogo muito bom. Estão muito aliviados. Foi um momento muito difícil para eles”, acrescentou depois na flash da SportTV.

Sobre o jogo que culminou com a nona vitória em 11 eliminatórias frente a franceses apesar das dificuldades pelas quais teve de passar em Toulouse, Schmidt destacou sobretudo a passagem num encontro em que os encarnados ficaram em branco pela primeira vez nos últimos 16 jogos mas somaram a 21.ª partida seguida sem derrotas. “Foi o suficiente para passarmos à próxima ronda e o objetivo era esse. Foi um jogo difícil, estivemos bem na primeira parte e tivemos três grandes chances para marcar. No segunda tempo, o Toulouse pressionou-nos, precisámos de defender muito e não encontrámos o momento certo para a transição. A equipa lutou e estamos felizes por passarmos à próxima ronda”, salientou o treinador.

“É bom para o Benfica continuar na Liga Europa. Foi um trabalho duro. Estivemos bem na primeira parte, criámos chances para marcar mas não tivemos sucesso. Acabou por ser um jogo apertado, complicado. Precisámos de defender bem e o Toulouse pressionou-nos, acabámos por correr alguns riscos. O que interessa na segunda mão é ter sucesso e passar à próxima eliminatória. Precisámos de ajustar a abordagem e foi o que fizemos. Tivemos momentos no primeiro tempo para marcar mas na segunda parte não conseguimos aproveitar esses momentos”, completou na zona de entrevistas rápidas da SportTV.