Brilhante e transparente num look Arnold Scaasi, nos Óscares de 1969; em Jean Muir para os Globos de Ouro de 1977; com uma cartola Halton, na capa do álbum “My Name Is Barbra, Two…”; ou embrulhada numa digna capa Ray Aghayan, que elegeu para conhecer a rainha Isabel II, nesses idos de 70 do século passado. Talvez uma memória em falha se deixe atraiçoar com Barbra Streisand, mas um mergulho no baú logo repõe o estatuto de indiscutível ícone de estilo. Ou aquilo a que a gíria contemporânea chamaria de “fashion goals”.

Dos swinging 60’s ao arrojo dos 70, passando pelos poderosos fatos dos anos 90, entre tons neutros, ou superavit de pelo e padrão animal — e confiando quase sempre nos desarmantes chapéus, a cereja com que coroou boa parte dos visuais, imune a preconceitos: “As pessoas devem expressar-se e usar o que sentirem em qualquer dia”, disse ela. “E isso não tem nada a ver com a idade.”, sublinhou a atriz e cantora recentemente ao The New York Times. Multiplicam-se as opções para ver e rever na fotogaleria em cima, que viajam aos confins da carreira e chegam aos nossos dias.

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Se redes houvesse em 69, provavelmente o seu look transparente dos Óscares teria viralizado © Getty Images

Aos 81 anos, e poucos meses depois de ter lançado a biografia “My Name is Barbra”, será este sábado agraciada com o prémio carreira nos SAG Awards. Ela própria, que tantas vezes subiu aos palcos para receber troféus ao longo das décadas (é das poucas que exibe o célebre EGOT no curriculum, acrónimo para quem venceu Emmy, Grammy, Oscar e Tony), amealha instantâneos que se tornaram icónicos — quase tão peculiares como os figurinos de teatro ou as bonecas centenárias que coleciona, segundo contou àquele diário, numa edição de 25 dezembro de 2023.

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Por falar em festividades, talvez os mais antigos ainda se lembrem da capa que protagonizou para a GQ em 1965, quando surgiu com um laçarote em grande plano, acompanhada da seguinte mensagem: “Não abrir antes do Natal”. Um ano antes, brilhava na capa da revista Time, numa versão impressionista. Com styling de Polly Mellen surgiria mais estilizada num retrato de Richard Avedon, em 1970. E já em 2016, voltava a elevar os níveis de atrevimento com uma foto de Steven Meisel para a revista W. Coube a Edward Enninful a responsabilidade pelo styling que a deixou apenas com uma camisa branca, reveladora das pernas da musa.

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Quando conheceu a rainha Isabel II, em 1975 © Getty Images

“Eu parecia outra, vestia-me de outra maneira”, analisa no Times, escrutinando essa longa viagem por aquilo a que poderíamos chamar os Streisand Files, um álbum (felizmente) pouco secreto das suas aventuras na Moda. “Antes de Rihanna, havia Barbra Streisand”, sentencia a W, sobre a estrela que nunca temeu arriscar ao máximo, fosse numa passadeira vermelha ou na primeira fila de um desfile de Moda. Entre o Hollywood Bowl e a rue Cambon, em Paris, distribuiu arrojo pelos eventos ligados ao cinema e música e cultivou a ligação com os designers. Vemo-la ao lado de Yves Saint Laurent, de Valentino ou Donna Karan, à medida que os anos e os estilos vão evoluindo e que a própria Babs vai revendo as suas escolhas. Ah, e quanto a acessórios, vale a pena referir que os regressados chokers há muito que são peça de eleição na sua caixa de joias.

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Também em 75, com Jon Peters, o cabeleireiro tornado produtor e então namorado da estrela © Getty Images

Bermudas com botas de cano alto e atacadores, coroas e turbantes dignos de uma Nefertiti da pop, fatos de três peças que provam como desfez convenções e separadores por género. Há muito por onde escolher quando o assunto é o guarda-roupa de quem descolou em 1968, depois de vencer o Óscar pela adaptação ao cinema da comédia musical “Funny Girl” (estreada na Brodway), um triunfo que dividiria com Katharine Hepburn – a única vez que se registou um empate na categoria.

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Nos Óscares de 2019, sem dispensar os habituais acessórios na cabeça © Getty Imges

Mas nem sempre as reviews estéticas foram felizes para a “boa miúda judia” de Flatbush, recordou ao longo dos tempos, duvidando do potencial de uma “cabeça pequena, nariz estranho, boca muito grande e olhos pequenos”. Sem se considerar sexy, Streisand conseguiu impressionar a editora da Vogue Diana Vreeland, que detetou o potencial onde outros viam a piada fácil. O resto foi a habilidade natural para desfrutar dos ritos de cada era.

Para reforçar o brilho do efeito glam dos anos 80, por exemplo, todas as honras foram concedidas ao caracóis naturais da atriz. Falámos em efeito? Nem todos se podem gabar de ter um efeito com o seu apelido. Mesmo que esse fenómeno esteja associado ao inverso do sucesso, para um desfecho tão inesperado quanto involuntário. O termo Efeito Streisand foi cunhado por Mike Masnick (veterano da internet e autor do Techdirt) em referência a um incidente de 2003, quando a atriz e cantora processou o fotógrafo Kenneth Adelman e o site pictopia.com em 50 milhões de dólares. Barbra tentava que uma foto aérea de sua mansão fosse removida da coleção de 12000 fotos da costa da Califórnia disponíveis naquele endereço, alegando preocupações com sua privacidade. O facto é que a foto se tornou ainda mais popular na Internet, com mais de 420 mil pessoas a tentarem aceder ao site durante o mês seguinte. Se por acaso alguém a viu no jardim, é provável que estivesse mais que apresentável. Não gostou? Paciência. Babs diz que é “demasiadamente velha” para se preocupar com isso.