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“Shogun”: o regresso à televisão épica

Foi um fenómeno no início dos anos 80, mas este não é um “remake”. É algo novo a partir do livro de James Clavell, com samurais, portugueses duvidosos e uma sedutora recriação histórica. Na Disney+.

Shogun é o regresso a uma série de 1980, na altura um fenómeno televisivo que bateu recordes de audiências e projetou a cultura japonesa para as massas nos Estados Unidos
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Shogun é o regresso a uma série de 1980, na altura um fenómeno televisivo que bateu recordes de audiências e projetou a cultura japonesa para as massas nos Estados Unidos

Shogun é o regresso a uma série de 1980, na altura um fenómeno televisivo que bateu recordes de audiências e projetou a cultura japonesa para as massas nos Estados Unidos

A oferta televisiva está, desde há uns anos, assente na quantidade. Daí que seja fácil pensar que há de tudo para todos os gostos, géneros e feitios. Basta uma rápida análise mais cuidada para descobrir-mos falhas nessa teoria. Exemplo: pode ser bastante difícil encontrar uma série de comédia com episódios de 20 minutos que nos satisfaça. Shogun (a partir desta terça-feira, dia 27, na Disney+) vem agora ao mundo para comprovar esta ideia enquanto preenche uma dessas lacunas, ao inscrever-se na lista de títulos de um género que não tem recebido grande investimento, o drama histórico — ou, mais especificamente, a ficcionalização da história que aconteceu antes do século XX.

As últimas tentativas têm resultado em produções que fizeram deste um “género menor”, assente numa ideia de masculinidade heroica — seja em Roma (HBO Max) ou Vikings (Netflix) — e pouco mais. Independentemente da qualidade das séries, há algo de caricatural do seu tempo, com Roma a tentar vender a fórmula HBO para um público mais genérico através da reconstrução histórica, ou com Vikings a popularizar a virilidade de ginásio e o macho alfa em tempos de redes sociais. Este tipo de séries — e algumas das que têm sido construídas em volta das Guerras Mundiais, por exemplo — pensam pouco para lá do público-alvo. Há uma audiência a satisfazer e o foco fica aí limitado.

Por isso, é fácil perceber que, no meio disto, Shogun tem algo de diferente (e também porque aqui os portugueses fazem parte do grupo de vilões da história). E essa diferença faz com que Shogun seja mais apelativo para quem gostou muito de Guerra dos Tronos do que para quem procura algo em específico, seja uma série de samurais ou a mera ideia de “ficção histórica”.

[o trailer de “Shogun”:]

Shogun é o regresso a uma série de 1980, na altura um fenómeno televisivo que bateu recordes de audiências e projetou a cultura japonesa para as massas nos Estados Unidos. Antes disso, já existia o romance homónimo de James Clavell, de 1975, também ele um sucesso de vendas e que conta a história, inspirada em personagens verídicas, de um inglês que chega ao Japão num momento de viragem do país, entre finais do século XVI e inícios do século XVII. Não é um recontar da história, é uma nova adaptação do livro, muito consciente do século XXI e da televisão em 2024. São dez episódios intensos, com cliffhangers bem construídos, nunca gratuitos, com reviravoltas nos momentos mais inesperados e que obrigam a reavaliar o significado da série de tempos a tempos.

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O que é Shogun e o que andam os portugueses a fazer no meio disto? O ponto de partida da série é a existência de um local desconhecido no oriente com o qual os portugueses mantêm relações comerciais — e não só — há algumas décadas. Aos olhos do protagonista, John Blackthorne (Cosmo Jarvis) há algo mal contado nesta história. Ele vive obcecado com a ideia de descobrir este tal sítio a que se refere como “Japans”. Aquilo que John assume é um pouco da história vista do seu lado, com os portugueses católicos que andavam por lá a evangelizar esta terra nova, desconhecida, e a usá-la como ponto estratégico para outros interesses.

A maravilha de Shogun acontece através da materialização das tradições e costumes de uma cultura e a sua assimilação por um olhar desconhecido

John Blackthorne é um piloto inglês numa embarcação holandesa que fazia parte de uma frota que ia à procura deste tal “Japans”. A viagem não foi amiga e só o barco de Blackthorne chega a terra, mal amanhado e com uma tripulação minúscula, quase toda dizimada pelo escorbuto e outras maleitas da época. Os dois primeiros episódios — que se estreiam em simultâneo, os restantes episódios chegarão semanalmente — são exemplares na forma como estabelecem a base para a narrativa de Shogun. Blackthorne pensa que chegou a uma civilização pouco evoluída e, por isso, age em conformidade; os japoneses, cujo contacto com a Europa só acontecia através dos portugueses, veem ali uma criatura indomável, um bárbaro.

Um conflito que parece irresolúvel à partida, pela forma como as duas forças se opõem com tanta veemência. Até porque Blackthorne não é só um bárbaro, é também inimigo dos amigos portugueses. Conforme Blackthorne ganha simpatia junto de alguns japoneses, mais prevalente se torna o seu argumento: de que os portugueses têm escondido os seus reais interesses aos japoneses, o de colonizar aquela terra. E aqui entra a palavra “vilões”.

A história de Blackthorne conta-se num período de mudança, quando o Senhor Yoshii Toranaga (Hiroyuki Sanada), inspirado em Tokugawa Ieyasu, que deu início à Era Tokugawa no Japão (1603-1867), decide opor-se aos outros regentes e dar início a um conflito que virará guerra (e cai na desgraça de muitos dos católicos). Blackthorne, que é inspirado em William Adams, o primeiro inglês a chegar ao Japão e, mais tarde, a tornar-se samurai, começa como prisioneiro de Toranaga e com o avançar da história vai-se tornando num conselheiro útil para as táticas de guerra.

Este não é um recontar da história, é uma nova adaptação do livro, muito consciente do século XXI e da televisão em 2024

Ao longe parece não haver grande motivo de encanto como esta série, mas a maravilha de Shogun acontece através da materialização das tradições e costumes de uma cultura e a sua assimilação por um olhar desconhecido. Não é tanto uma questão de fascínio pelo Japão — sobretudo o Japão daquela época, samurais incluídos — mas pela promoção da estranheza no geral. Shogun trabalha bem a visão do outro, do estranho, o espectador coloca-se com facilidade na pele de Blackthorne e faz a viagem com ele: questiona-se sobre aquela fé, duvida do pragmatismo da honra, fascina-se ao encontrar cidades tão evoluídas.

E, quando menos se espera, há batalhas, combates, momentos de ação tão eficazes quanto impiedosos. Uma personagem que é morta e relembra quando Guerra dos Tronos não tinha medo de assumir riscos. Os bastidores do poder, momentos marcantes e pujantes, preocupados em avançar através de uma narrativa de tradições e costumes, com total confiança de que o espectador não perderá o fio à meada (por estar tão bem feito).

Shogun deixa-nos a pensar porque é que não há mais séries assim: bons dramas noutros contextos históricos, séries com samurais, episódios em personagens saem de cena de forma cruel e aparentemente inevitável. Se é preciso fazer rolar uma cabeça, Shogun fá-lo sem medo. E isso também merece respeito.

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