Não se trata da medida mais habitual, também começa a não ser assim tão raro quanto isso – sobretudo na antecâmara de uma grande venda de um jogador por parte de uma sociedade desportiva. No entanto, existem mais motivos para a CMVM anunciar a suspensão de ações de uma SAD, neste caso do FC Porto. E foi mesmo isso que levou à tomada de posição na manhã desta terça-feira, após a entrevista de Pinto da Costa à SIC.

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“O Conselho de Administração da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) determinou no dia 02/abr/2024 pelas 09:25 (UTC), nos termos do artigo 214º e da alínea b) do n.º 2 do artigo 213º do Código dos Valores Mobiliários, a suspensão da negociação das ações Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, aguardando a divulgação de informação relevante ao mercado”, anunciou a CMVM em comunicado.

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Pouco depois, a FC Porto SAD emitiu também um comunicado a explicar o que estava em causa. “A Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD vem, na sequência da entrevista do seu Presidente, informar o mercado que espera fechar definitivamente o contrato com uma reputada empresa internacional, com reconhecida experiência na otimização das receitas comerciais relacionadas com grandes equipamentos desportivos, até 30 de junho de 2024. Sendo esta parceria consubstanciada na participação minoritária numa das empresas com os direitos comerciais do Grupo FC Porto, através da injeção de capital por um montante estimado entre os 60 e 70 milhões de euros, como anteriormente comunicado ao mercado, a Sociedade irá elevar assim os capitais próprios em igual montante. Mais informa que apesar de não ter ainda fechado um financiamento neste sentido, a Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD está a negociar uma reformulação a sua dívida de médio e longo prazo, num montante estimado de 250 milhões de euros, a uma taxa de juro competitiva em termos de mercado”, destacou numa missiva emitida ao final da manhã.

Entre vários temas abordados na entrevista ao canal, o presidente do FC Porto, que é recandidato pela 16.ª vez, anunciou que toda a equipa financeira que trabalha no clube e na SAD vai ser renovada e, perante uma questão sobre a ligação dos azuis e brancos à Quadrantis, fundo ligado a João Rafael Koehler (que vai entrar nas listas de Pinto da Costa e será administrador da SAD), abordou algumas das operações que foram feitas ou estão previstas a breve e médio prazo ou que foram feitas entretanto por Fernando Gomes, sendo que deixara essa garantia de que na próxima sexta-feira iria anunciar a equipa e esses projetos.

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“Tenho uma equipa renovada. Fernando Gomes disse há pouco mais de um ano que queria sair, pedi para continuar até ao final do mandato porque havia questões pendentes e resolveu os problemas. Adelino Caldeira? Sair não quer dizer que deixam de ser da minha confiança, queremos é fazer outras coisas e isso faz com que queira renovar a equipa. Se a SIC quiser renovar, precisa de um motivo? É um ato de gestão normal, quando decidi candidatar-me fiz uma reunião, agradeci e disse que ia fazer uma nova equipa com uma outra orientação. A parte financeira vai ser toda renovada. Na sexta-feira foi apresentar a minha equipa completa, o meu CFO, tudo. A minha equipa financeira é de primeiríssima qualidade. Mas a situação financeira hoje é melhor do que há quatro anos, quando o Luís André assinou a minha candidatura. Agora, é melhor. Nessa altura os capitais próprios estavam muito negativos e agora estão quase positivos, daqui a um mês estão mais do que positivos”, anunciou Pinto da Costa na parte final da entrevista à SIC e SIC Notícias.

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“Sei o que João Koehler pensa e quer fazer para o FC Porto, é isso que me interessa. Ele vem para servir o FC Porto. O mal que fez, sabe qual foi? Quando o clube estava com um problema de tesouraria, financiou com milhões de euros que já estão pagos. Curiosamente um dos que entrou foi o senhor Luís André Villas-Boas, mas logo na primeira renovação saiu logo. José Fernando Figueiredo, novo CFO? Olhe é só alguém que foi presidente do Banco de Fomento e o único português que é conselheiro do Banco Mundial. Foi uma honra ele ter aceitado. Não foi ‘olha, sais da NOS e vens para aqui’. Percebeu o projeto, reuniu-se connosco, aceitou e fiquei muito honrado com isso. Sei que têm um plano para diminuir o passivo, vai ter um financiamento de 250 milhões de euros a um juro muito mais baixo do que o nosso endividamento e tudo será apresentado. Quadrantis? O FC Porto trabalha com muita gente, só não trabalha com os portugueses. Podem dar, o Novo Banco deu ao Sporting, emprestar não. O Luís André diz mal de tudo”, salientou.

“Ele consegue dizer mal de uma Academia que devíamos estar todos radiantes. Ele comprou um terreno a um amigo, que metade é proibido construir e a outra metade são os socalcos. A nossa Academia tem 11 campos de futebol, tem um mini estádio para 2.000 lugares, um hotel para 140 miúdos, está preparada para 800 pessoas trabalharem em simultâneo e quer comparar com isso? Vão cobrar-nos metade dos juros que nós estamos a pagar, daí ser benéfico. Não quero falar de números porque sei mas não sou eu que estou a tratar, foi o doutor Fernando Gomes que sabendo que ia sair foi de uma dedicação extraordinária. Pormenores tem de ser com ele, deleguei para tratar esse assunto. A SAD nunca vai ficar refém desses fundos, é um absurdo. Somos beneficiados e vou agora estar a desconfiar de quem me ajuda?”, concluiu sobre o tema.

Sagasta 2, Quadrantis, Dragão, Porto Comercial e UEFA: a carta com 33 questões (sem resposta) de Villas-Boas a Pinto da Costa

De acrescentar que, como o Observador tinha revelado esta segunda-feira, André Villas-Boas enviou uma carta a Pinto da Costa a 14 de março, com conhecimento da CMVM, para fazer um total de 33 questões sobre temas como os acordos feitos com a Sagasta 2 e a Quadrantis, a valorização do Estádio do Dragão que teve um forte impacto naquilo que foram as contas do primeiro semestre da SAD, a venda de parte da Porto Comercial à Legends/Sixth Street ou o cumprimento do fair play financeiro da UEFA. O antigo treinador ainda aguarda respostas às perguntas, podendo avançar com outras medidas nesse sentido.