Há cerca de um ano, quando o Wrexham deixou a National League e subiu à League Two pela primeira vez em mais de uma década, Ryan Reynolds e Rob McElhenney deixaram claro que só tinham alcançado o primeiro objetivo. Mais: deixaram claro que o plano delineado em 2020, quando adquiriram o clube mais antigo do País de Gales, passava por chegar à Premier League.

“Queremos dar os passos certos. Estamos sempre a dizer isto, que queremos estar na Premier League, por muito que isso seja uma loucura para algumas pessoas. Mas se é teoricamente possível ir do quinto escalão até à Premier League, por que é que não quereríamos fazê-lo? Por que é que não vamos gastar a nossa última gota de suor para lá chegar? Estamos aqui para o caminho. Este é um projeto para várias décadas”, disse Ryan Reynolds. A partir deste fim de semana, a loucura está um passo mais perto.

No passado sábado, o Wrexham goleou o Forest Green Rovers e garantiu a subida à League One, o terceiro escalão do futebol inglês. O clube até precisava de uma conjugação especial para assegurar que já não cai dos três primeiros lugares que garantem a subida automática, já que era necessário que Barrow e MK Dons desperdiçassem pontos, mas a verdade é que os dois rivais acabaram por perder os respetivos jogos e a vitória do Wrexham foi suficiente.

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O clube galês conseguiu duas promoções consecutivas, algo a que o Reino Unido não assistia desde que o Southampton foi da League One à Premier League entre 2010 e 2012, e está de regresso ao terceiro escalão depois de 19 anos de ausência, já que a última vez que tinha participado num campeonato tão elevado tinha sido já em 2004/05. Para se ter uma ideia da dimensão do feito, o Wrexham vai defrontar adversários como o Wigan, o Reading, o Derby County ou o Bolton, que ainda há poucos anos estiveram na Premier League — sendo que os próprios galeses nunca tinham alcançado as tais subidas em temporadas seguidas ao longo de 159 anos de história.

O facto de a promoção ter sido carimbada num jogo onde não era expectável que tal acontecesse, pela complexidade da matemática necessária, fez com que os mediáticos donos do Wrexham não estivessem presentes no momento decisivo — que contou com a habitual invasão do relvado do Racecourse Ground logo depois do apito final. Nas redes sociais, porém, Ryan Reynolds apressou-se a congratular a equipa, onde o avançado Paul Mullin é a grande estrela, assim como o treinador Phil Parkinson.

“Há uns anos, se me dissessem que estaria a chorar lágrimas de alegria devido a um jogo de futebol no País de Gales, seriam o Rob McElhenney. Parabéns ao Wrexham e ao meu companheiro no crime. E à cidade! Esta é a aventura das nossas vidas”, escreveu o ator norte-americano, com Rob McElhenney a limitar-se a indicar que estava “sem palavras”.

Dois atores, um clube, o sonho: a história do Wrexham, o histórico do País de Gales que está a viver um filme de Hollywood

De recordar que Ryan Reynolds e Rob McElhenney compraram o histórico Wrexham no final de 2020 e conseguiram, ao fim de três anos, retirar o clube mais antigo do País de Gales de uma quinta divisão onde estava enterrado há mais de uma década. A história começou quando McElhenney viu a série “Sunderland Til’ I Die” e ficou rendido, convencendo depois Reynolds a comprar um emblema inglês, reabilitá-lo e fazê-lo sonhar.

Existiam várias premissas: o clube escolhido tinha de ter infraestruturas próprias, uma massa associativa relevante, uma história longa e uma situação financeira que permitisse investir. Por fim, tinha de ter uma narrativa. Afinal, tudo isto é um filme de Hollywood a ser contado em tempo real —  quase literalmente, já que a série “Welcome to Wrexham” já vai a caminho da terceira temporada e continua a revelar os bastidores do conto de fadas.