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Os dois atores conseguiram conquistar a comunidade e são os grandes responsáveis pelo ressurgimento do clube mais antigo do País de Gales

The FA via Getty Images

Os dois atores conseguiram conquistar a comunidade e são os grandes responsáveis pelo ressurgimento do clube mais antigo do País de Gales

The FA via Getty Images

Dois atores, um clube, o sonho: a história do Wrexham, o histórico do País de Gales que está a viver um filme de Hollywood

No fim de 2020, os atores Rob McElhenney e Ryan Reynolds compraram o Wrexham, histórico clube galês caído em desgraça. Menos de três anos depois, a subida está quase garantida e a comunidade renasceu.

A história não é nova. Dois atores, dois artistas, duas celebridades, decidem apostar no desporto e comprar um clube. A história, ainda assim, teve particularidades especiais logo no início: os dois atores são norte-americanos, completamente alheados do futebol europeu, e o clube é o mais antigo do País de Gales, assente na profunda tradição do futebol britânico. Mais? O clube está há mais de uma década enterrado na 5.ª Divisão do Reino Unido.

Mas foi precisamente por isso que Rob McElhenney e Ryan Reynolds, os dois atores, escolheram o Wrexham, o clube. Depois de ver a série “Sunderland Til’ I Die” e ficar rendido, o primeiro convenceu o segundo a comprar um emblema inglês, reabilitá-lo e fazê-lo sonhar. Existiam várias premissas: o clube escolhido tinha de ter infraestruturas próprias, uma massa associativa relevante, uma história longa e uma situação financeira que permitisse investir. Por fim, tinha de ter uma narrativa. Afinal, tudo isto é um filme de Hollywood a ser contado em tempo real.

A três jornadas do fim da temporada, o Wrexham é líder da National League com 104 pontos e depende apenas de si para garantir a promoção automática à League Two, algo que persegue e que lhe escapa desde 2008. Pelo meio, McElhenney e Reynolds conquistaram uma cidade, uma comunidade e uma família. E não escondem que sonham com a Premier League.

“Vamos comprar um clube de futebol”. McElhenney e Reynolds não chegaram ao Wrexham por acaso

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A vitória perante o Notts County levou Ryan Reynolds para o relvado depois do final do jogo

Getty Images

“O futebol não é vida ou morte, é mais importante do que isso”. A frase, incompreensível para todos aqueles que não se entusiasmam quando 22 jogadores estão a correr atrás de uma bola num campo, é de um adepto do Wrexham. Surge no trailer de “Welcome to Wrexham”, a série da Disney+ que conta a história do modesto clube inglês que foi comprado por duas estrelas de Hollywood. A melhor parte? Não é uma série, é um documentário.

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A história começa em novembro de 2020, quando Rob McElhenney e Ryan Reynolds decidiram investir uns parcos 2,5 milhões de dólares [cerca de 2,25 milhões de euros] e comprar o Wrexham, o clube mais antigo do País de Gales. Fundado em 1864, está afundado na 5.ª Divisão do Reino Unido e afastado do futebol profissional desde 2008, tendo como ponto alto a chegada ao terceiro escalão nos anos 50. Entrou em insolvência em 2004 e foi salvo por um grupo de sócios que não quis ficar sem clube pelo qual torcer – até chegarem os dois atores norte-americanos.

Há pouco menos de ano e meio, McElhenney e Reynolds anunciaram que eram os novos donos do Wrexham. Na altura, ninguém percebeu como é que dois atores foram dos EUA até ao País de Gales para encontrar um clube da 5.ª Divisão – atualmente, já é possível perceber que o fator decisivo foi o terceiro elemento da história. Humphrey Ker, ator e argumentista britânico que trabalhava com McElhenney na série “Mythic Quest”, é um ferrenho adepto do Liverpool e passava as horas de almoço a ver jogos dos reds ou a assistir a programas sobre jogos dos reds. McElhenney ficou impressionado com a forma como aquele clube, aquelas cores e aquela modalidade eram cruciais no dia a dia de Ker.

A história começa em novembro de 2020, quando Rob McElhenney e Ryan Reynolds decidiram investir uns parcos 2,5 milhões de dólares e comprar o Wrexham, o clube mais antigo do País de Gales.

“O Rob viu o quanto eu e outro rapaz do set gostávamos de futebol. Mas a grande mudança foi durante a pandemia. Eu recomendei que ele visse a série ‘Sunderland ‘Til I Die’. Pensei que seria essa a chave. Ele é um contador de histórias e precisava de perceber a história do futebol. Os documentários ‘All Or Nothing’ são muito bons, mas não vão ao coração do jogo, que são os adeptos. O Rob, a ser como é sempre, devorou o documentário. É um fazedor, então disse ‘Vamos comprar um clube de futebol’. Eu respondi ‘hmm, ok‘. E ele disse ‘Não, estou a falar a sério”, contou Humphrey Ker à FourFourTwo.

Com a decisão tomada, Rob McElhenney foi buscar um dos melhores amigos para o acompanhar na aventura. Ryan Reynolds, bem mais conhecido internacionalmente do que McElhenney, juntou-se ao plano. Humphrey Ker viajou para o Reino Unido para encontrar o clube mais adequado as intenções da dupla de atores: a escolha não foi aleatória, longe disso, e o Wrexham encaixou na perfeição nas pretensões dos dois norte-americanos. Os critérios iam desde as infraestruturas e a massa associativa à história e à situação financeira, sem esquecer o capítulo da narrativa. No sistema de pontos que criaram para escolher o clube certo, o Wrexham distinguiu-se com 38 em 50.

Lá chegados, McElhenney e Reynolds sabiam que equilibrar as finanças do clube e procurar o adiado sucesso desportivo seriam as tarefas mais fáceis. O maior desafio era conquistar a cidade, a comunidade, os adeptos – deixar claro que não se tratava de um simples capricho e que queriam melhorar a vida de todos aqueles envolvidos no e com o clube. O primeiro passo foi aumentar substancialmente os salários de praticamente todos os funcionários. O segundo passo foi recomprar o Racecourse Ground, o estádio com capacidade para 10.000 pessoas que estava hipotecado. O terceiro passo foi contratar as pessoas certas e garantir que não estavam ali apenas para fazer um documentário.

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Os dois atores, donos do clube desde novembro de 2020, são presença assídua nos jogos do Wrexham

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O treinador escolhido foi o discreto Phil Parkinson, responsável por três promoções à 4.ª Divisão. Depois chegou Les Reed, antigo vice-presidente do Southampton e conselheiro técnico da FA que está agora na direção. Seguiu-se o CEO Fleur Robinson, que tinha desempenhado as mesmas funções no Burton Albion. E também Shaun Harvey, conselheiro estratégico, que foi CEO do Leeds. Passo a passo, escolha a escolha, os adeptos do Wrexham viam que a dupla de atores estava a rodear-se de gente que conhece o futebol. Mais: de gente que conhece o futebol britânico. E Humphrey Ker ficou no País de Gales a tempo inteiro no papel crucial de diretor executivo e representante direto de McElhenney e Reynolds quando estes estão nos EUA.

O sonho da promoção está mais perto do que nunca — com a mão do recém-ex-reformado Ben Foster

Em termos desportivos, o plano era o de sempre: tentar, mais uma vez, ser campeão da National League e conseguir finalmente a tão perseguida promoção à League Two, o quarto escalão do futebol britânico e o primeiro totalmente profissional. A época de estreia trouxe a desilusão, com o Wrexham a terminar no segundo lugar mas a perder no playoff de subida com o Grimsby Town antes de também perder a final do FA Trophy para o Bromley. Pelo meio, surgiram as pistas de que já nada era o que era: as camisolas passaram a incluir um lucrativo patrocínio ao TikTok e o clube integrou o jogo FIFA 22, tornando-se a primeira equipa de um escalão não-profissional a lá estar representada.

2022/23, a atual temporada, está a tornar-se a época do sonho. Atualmente, o Wrexham está na liderança da National League com 104 pontos, mais um do que o Notts County, e depende apenas de si próprio para garantir a histórica subida ao longo das derradeiras três jornadas. O clube já fez história, até porque nunca tinha alcançado a centena de pontos num único ano, mas quer mais – e tudo isso ficou claro no fim de semana passado, quando venceu o Notts County no confronto direto com o rival, saltando para o primeiro lugar da classificação num jogo em que o experiente guarda-redes Ben Foster defendeu uma grande penalidade nos descontos.

O Wrexham já estava a ganhar notoriedade e relevância, até pelo caráter muito público dos donos, mas o jogo contra o Notts County elevou tudo isso a um novo patamar. O Racecourse Ground voltou a encher, Ryan McElhenney e Ryan Reynolds estavam nas bancadas e vibraram com a partida e desceram ao relvado para festejar com a equipa depois do apito final. “Exceção feita ao nascimento dos meus filhos, este dia foi o mais emotivo da minha vida. E isso tem tudo a ver com a forma como este desporto está construído e a forma como funciona, este sistema de pirâmide com promoção e despromoção”, explicou Reynolds ao The Athletic.

O primeiro passo foi aumentar substancialmente os salários de praticamente todos os funcionários. O segundo passo foi recomprar o Racecourse Ground, o estádio com capacidade para 10 mil pessoas que estava hipotecado. O terceiro passo foi contratar as pessoas certas e garantir que não estavam ali apenas para fazer um documentário.

Já Ben Foster, o herói do dia que chegou ao Wrexham no mercado de janeiro para interromper uma reforma que tinha anunciado no final da temporada passada, revelou que os atores norte-americanos estavam em êxtase quando entraram no balneário. “Estavam loucos. O Rob deu-me um beijo nos lábios. Estavam muito felizes. Sendo honesto, acho que eles estavam tão cansados e exaustos como nós. Mas é ótimo ver o quanto isto significa para o Rob e o Ryan. Disse-lhes que têm de acabar o documentário agora, porque nunca vai existir um momento melhor do que este. Este será sempre o melhor jogo de futebol a que vão assistir”, atirou o antigo internacional inglês.

A forma como Ben Foster decidiu regressar aos relvados para representar o Wrexham é o exemplo paradigmático de que como o clube funciona atualmente. Em maio do ano passado, no Watford, decidiu terminar a carreira. No final de agosto, nos últimos dias do mercado de verão, surgiu a possibilidade de assinar pelo Newcastle para ser o substituto do titular Nick Pope. Recusou e manteve a decisão, afastando também o interesse do Atlanta United da MLS e até do Tottenham, já este ano, na sequência da lesão de Hugo Lloris. Até que apareceu o Wrexham.

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Ben Foster interrompeu a reforma, que tinha anunciado em maio do ano passado, para representar o Wrexham

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O interesse do clube galês aliou-se às perspetivas futuras de Foster, que tem um canal de YouTube sobre ciclismo com mais 1,2 milhões de subscritores e que pretende aumentar esses números com a notoriedade do clube. A fome de uns juntou-se à vontade de comer do outro – e tudo ficou decidido com uma chamada telefónica entre o guarda-redes e o treinador Phil Parkinson, onde conversaram essencialmente sobre a forma física de um jogador que completou 40 anos no início de abril.

“Não preciso de brilho, de glamour. Sou um jogador que precisa de pouca manutenção”, disse Ben Foster, segundo o The Athletic, a Parkinson. Três dias depois da chamada, o guarda-redes estava a chegar às instalações do Wrexham. E o momento, obviamente, foi captado pelas câmaras de “Welcome to Wrexham”. Pouco depois de assinar contrato, Foster recebeu uma mensagem de Ryan Reynolds no Instagram, com o ator a mostrar-se muito contente com o novo reforço.

Premier League, why not?

O The Turf, um típico pub britânico, fica mesmo ao lado do Racecourse Ground. É o sítio onde os sócios do Wrexham se juntam antes e depois dos jogos – nos últimos anos, é o sítio onde os sócios do Wrexham se juntam antes e depois dos jogos para partilhar lamurias e lamentações. Mas esse tempo acabou. Até porque, segundo o dono do bar, a diferença proporcionada pelos novos donos é como a diferença “entre o dia e a noite”.

"Estavam loucos. O Rob deu-me um beijo nos lábios. Estavam muito felizes. Sendo honesto, acho que eles estavam tão cansados e exaustos como nós. Mas é ótimo ver o quanto isto significa para o Rob e o Ryan. Disse-lhes que têm de acabar o documentário agora, porque nunca vai existir um momento melhor do que este. Este será sempre o melhor jogo de futebol a que vão assistir."
Ben Foster, guarda-redes do Wrexham

“Eles fizeram tudo aquilo que prometeram. São seres humanos com um grande, grande coração. Sim, têm grandes contas bancárias, mas têm os pés assentes na terra, entendem isto tudo e são genuínos. O Wrexham Football Club está a prosperar. A cidade está a prosperar”, indicou Wayne Jones ao The Athletic.

Os autógrafos dos dois atores estão numa parede do The Turf e os contactos telefónicos de ambos, duas estrelas de Hollywood, estão gravados no telemóvel do dono. “Quando estávamos a ganhar 4-1 ao Coventry, na terceira ronda da Taça de Inglaterra, mandei uma mensagem ao Rob a perguntar o que raio tinha criado aqui. Não estamos habituados a isto. O que está a acontecer ao Wrexham é estranho. E aqui no bar estamos no olho do furacão. Em dias de jogo estamos sempre cheios e 50% dos clientes são norte-americanos”, revela Jones.

A extensão da popularidade do clube ao mercado norte-americano, naturalmente transportada pelas duas personalidades que agora são a cara do Wrexham, tem sido uma das principais apostas da estratégia comercial dos novos proprietários. E parte disso terá o seu clímax no próximo mês de julho, em San Diego, quando os galeses defrontarem o Manchester United durante a habitual tour de pré-época dos red devils pelos EUA.

O facto de McElhenney e Ryan Reynolds serem atores garante-lhes a capacidade de acreditarem em verdadeiros contos de fadas. Contos de fadas que, na ótica do segundo, podem ter um final feliz na Premier League. “Queremos dar os passos certos. Estamos sempre a dizer isso, que queremos estar na Premier League. Por muito que isso seja uma loucura para algumas pessoas. Se é teoricamente possível ir do quinto escalão até à Premier League, por que é que não quereríamos fazê-lo? Por que é que não vamos gastar a nossa última gota de suor para lá chegar? Estamos aqui para o caminho. Este é um projeto para várias décadas”, disse recentemente o ator à ESPN. Afinal, tudo isto é um filme de Hollywood.

[Já saiu: pode ouvir aqui o quinto episódio da série em podcast “O Sargento na Cela 7”. E ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo episódio, aqui o terceiro episódio e aqui o quarto episódio. É a história de António Lobato, o português que mais tempo esteve preso na guerra em África]

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