Cecília Meireles defende que no CDS há “uma preocupação de recompensa de talento, mérito e trabalho muito presente” no partido e que essa questão será importante no equilíbrio do novo Governo. Além disso, a antiga secretária de Estado acredita que o CDS terá tendencialmente “uma preocupação maior com a questão fiscal” e espera que o PSD consiga ir mais longe em relação ao seu próprio programa original.

Em entrevista ao Observador, a partir do 31.º Congresso do CDS, Ceclília Meireles deixou rasgadíssimos elogios a Luís Montenegro e a Nuno Melo. “Este Governo é sobretudo um Governo de esperança, porque é um Governo que é escolhido por um país que diz: ‘Eu não quero mais ser governado assim, eu não quero mais ter um Governo que gera o dia-a-dia e que não tem nenhuma visão de fundo para o país’. Nós queremos diferente. E portanto é um Governo que vem em situação difícil, mas vem também, tem esse lado de esperança. O que é que vai acontecer daqui para a frente é a grande incógnita. O papel do CDS é tentar que seja o melhor possível.”

“Acho que pode fazer a diferença falando de uma forma descomplexada de ordem de autoridade, de segurança ou de insegurança e eu acho que em Portugal estamos a cair numa espécie, e esta é a minha opinião pessoal, numa espécie de armadilha ideológica em que nós ou não falamos de insegurança ou dizemos que Portugal é assim uma espécie de paraíso. Qualquer pessoa que viva numa grande área metropolitana, que é o meu caso, tem momentos e tem sítios onde naturalmente se sente insegura e onde obviamente se sente a ordem pública é posta em causa, aí falta a presença do Estado e aí o Estado tem que ser forte e tem que ter mão forte. Assumir que há bolsas de insegurança não é uma questão ideológica”, defendeu.

Cecília Meireles foi ainda confrontada com as declarações de congressistas, que, tendo subido ao palco, foram defendendo que o partido não podia ter vergonha de ser de direita, em matérias como a defesa da vida e anti-aborto. A democrata-cristã preferiu não se alongar em comentários, mas deixou bem vincada a sua posição. “Do meu ponto de vista, a lei está bem como está. Não é um tema sobre o qual eu queira agir. Mas é a minha posição pessoal.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A frágil base de sustentação parlamentar do novo Governo e o facto de a Aliança Democrátia estar necessariamente obrigado a negociar com o PS ou com o Chega se quiser aprovar um Orçamento do Estado foi também tema desta entrevista. Ao contrário do que vão dizendo os mais destacados dirigentes sociais-democratas, Cecília Meireles não escondeu o seu ceticismo em relação à estratégia seguida — o PS não se vai deixar convencer.

“Nós vamos ter que fazer muito diferente do que fez o Partido Socialista e, portanto, vamos ter que procurar quem nos viabilize medidas que sejam substancialmente diferentes das do Partido Socialista. Eu não desresponsabilizava o PS, mas é óbvio que o caminho é da alternativa ao PS. Portanto, parece-me uma evidência que vai ter que se procurar apoios onde eles existam e onde sejam de políticas alternativas ao PS”, defendeu a democrata-cristã.

Cecília Meireles falou ainda das declarações de Pedro Passos Coelho sobre Paulo Portas. “Tenho muito orgulho em ter feito parte de um partido que fez parte de um Governo e que muitas vezes, sim, foi muito desconfortável para a troika. Portanto, ainda bem que fomos muito desconfortáveis para a troika e que fizemos frente à troika. Suponho que foi para isso que os portugueses confiaram em nós e foi essa diferença também que o CDS fez.”

Cecília Meireles: Aborto? “Lei está bem como está”