O PSG afirmou-se nos últimos anos como um dos principais clubes de França e da Europa, com esse estatuto a chegar inclusivamente ao futebol feminino. É certo que as jogadoras parisienses ainda não conseguiram quebrar o domínio do Lyon, mas internamente são a equipa que está mais próximo de ombrear com o clube que mais vezes venceu a Liga dos Campeões.

Corria a temporada de 2021/22 quando o PSG então treinado por Didier Ollé-Nicolle eliminou o rival nos oitavos de final da Taça de França por expressivos 3-0. A época viria a terminar com a conquista daquele troféu, a chegada às meias-finais da Liga dos Campeões – onde foi eliminado pelo Lyon – e o segundo lugar na Liga francesa, novamente atrás do rival. Porém, o que podia ser considerado uma época incrível, depressa ficou marcado pelos acontecimentos fora dos relvados, e que, dois anos depois, continuam a dar que falar.

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Em entrevista ao jornal francês Ouest-France, Ollé-Nicolle recordou aquela temporada – a única que fez no emblema do Parque dos Príncipes –, em que foi acusado de agressão sexual. O antigo treinador viria a ser absolvido das acusações, mas garante que, dois anos depois, não esquece as alegadas ameaças feitas por Aminata Diallo, Kadidiatou Diani, Marie Katoto e por César Mavacala, então companheiro de Diani. Ameaças essas que levaram a que o treinador não tenha voltado a trabalhar, depois de 33 épocas consecutivas a treinar.

“É terrível, catastrófico. Sentes-te sujo, mais do que sujo! É cruel. É um tsunami! A nível humano e profissional é a coisa mais terrível que pode acontecer. Treino há anos, nunca tive o menor problema, nem com os árbitros. Sou um treinador-educador, não um cara de showbiz. Tudo isso é um mundo que eu não conhecia. A polícia disse que tinha lidado [com o caso] como crime organizado”, contou Ollé-Nicolle na entrevista.

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O treinador contou ainda que foi abordado por Mavacala, antigo namorado de Diani e agente de Katoto e Diallo, que lhe deixou um pedido: “Não quero voltar a ver a Hamraoui em campo”. Perante a recusa, o agente insistiu e “ligou para Ulrich Ramé [à data coordenador geral do PSG]”, que lhe disse que a posição de Ollé-Nicolle iria manter-se. O agente fez-lhe entender que ia fazer-me cair, com uma história de manipulação de resultados, drogas ou sexo”.

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“Acho que o PSG sabia de tudo mas foi cauteloso porque Katoto tinha que continuar [no clube]. Sacrificámos uma pessoa, a vida dela, para colocar Katoto no altar”, acrescentou o técnico de 62 anos, que garantiu ainda que as jogadoras “tinham um ódio feroz a Hamraoui”, chegando a chamá-la de “cadela suja”.

Antes do último minuto do último treino que antecedeu a meia-final da Liga dos Campeões contra o Lyon, houve um pequeno confronto, numa bola parada, entre Baltimore e Hamraoui. Katoto, Diani e Diallo foram diretas a Hamraoui e originou-se uma briga”, confidenciou ainda Didier Ollé-Nicolle.

O caso Hamraoui foi despoletado em 2021, quando a jogadora do PSG foi agredida violentamente depois de um jantar de equipa. Inicialmente, Diallo foi detida por suspeitas de estar envolvida no ataque, mas viria a ser libertada pouco depois. Já em 2022, foi formalmente acusada pela alegada participação no ataque à companheira de equipa. Os incidentes levaram a que Hamraoui abandonasse o clube francês e não voltasse a representar a seleção francesa.

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