O projeto de um megacomplexo industrial da Altri na Galiza, em Espanha, levou milhares de pessoas à rua este domingo, reporta a imprensa espanhola. Segundo os organizadores do protesto, mais de 20 mil pessoas manifestaram-se nas ruas da cidade de Palas de Rei para “dizer um alto e claro ‘Não'” à fábrica de produção de pasta de papel e fibras têxteis que a empresa portuguesa quer instalar na localidade.

Escreve o El Mundo que para os manifestantes esta foi “uma demonstração de força” que evidencia “uma contestação evidente” a um projeto que, de acordo com o estudo ambiental, terá uma capacidade de produção de 400 mil toneladas de celulose solúvel e 200 mil de fibra têxtil vegetal, a partir de até 1,2 milhões de metros cúbicos de madeira de eucalipto por ano e 20 mil metros cúbicos de água do rio Ulla por dia.

“A água é nossa, não é da celulose”, “Os montes são nossos e não dos mafiosos”, “A nossa saúde não está à venda” eram algumas das mensagens que constavam nos cartazes envergados pela população.

O projeto, que implica um investimento superior a 850 milhões de euros, está atualmente em consulta pública e é contestado pelo Bloco Nacionalista Galego (BNG), mas também por vários autarcas do Partido Socialista Galego, e pelos residentes dos municípios de Melide e de Santiso (Corunha), Agolada (Pontevedra) e Palas de Rei (Lugo) que serão afetados pelas infra-estruturas associadas à nova fábrica. Várias organizações ambientalistas espanholas também se juntaram aos protestos das populações e enviaram, no dia 20 de Março, uma exposição escrita à ministra da Transição Energética e Ambiente, Teresa Ribera, e ao ministro da Indústria, Jordi Hereu.

O protesto chega num clima de contestação que se intensificou depois da publicação oficial do estudo de impacto ambiental, cujo período de consulta pública ainda está a decorrer. Em declarações ao jornal Eco em abril, a empresa descrevia as críticas ao projeto como baseadas “em desconhecimento” ou “mesmo em argumentos falsos”. Ao jornal Público, a Altri contesta os argumentos sobre o impacto ambiental dizendo que “as atividades da fábrica que a Greenfiber, SL pretende lançar na Galiza não representam qualquer risco para as pessoas, os animais ou o ambiente, uma vez que o projeto foi concebido com um elevado nível de exigências ambientais”. Refere ainda que haverá um “cumprimento escrupuloso das normas europeias, espanholas e galegas”.

Foi em 2022 que a Altri Participaciones y Trading, empresa portuguesa que se dedica à produção de pasta de celulose e a culturas florestais de eucalipto para a indústria de madeira e papel, anunciou que pretendia instalar na Galiza uma fábrica de produção de celulose solúvel e fibra têxtil vegetal. Em entrevista ao jornal Expresso, o presidente executivo da Altri explicava então a motivação para instalar a fábrica na Galiza (e não em Portugal): a falta de “matéria-prima”, isto é, madeira de eucalipto. “Tão simples quanto isso. Na Galiza não iremos ter necessidade de importar nada, ao contrário do que aconteceria em Portugal”, clarificava José Soares de Pina.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR