Quatro dos sete ortopedistas do hospital de Évora demitiram-se e vão deixar a unidade no final de julho, alegando descontentamento com as condições de trabalho e incompatibilidades com a direção do serviço, revelou esta segunda-feira um dirigente sindical.

Em declarações à agência Lusa, o secretário regional do Alentejo do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Armindo Ribeiro, indicou que os clínicos descontentes já entregaram os pedidos de rescisão de contrato à administração do hospital.

“Entregaram as cartas de demissão depois de vários avisos à administração, porque estavam descontentes com as condições de trabalho e com algumas posições da direção de serviço. Foram ameaçando até que agora cumpriram”, afirmou.

Contactada pela Lusa, uma fonte da Unidade Local de Saúde do Alentejo Central (ULSAC), a que pertence o Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), referiu que o conselho de administração tomou esta segunda-feira conhecimento da decisão dos quatro ortopedistas.

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“Face às demissões apresentadas, irão ser tomadas todas as medidas necessárias para garantir o bom funcionamento do Serviço de Ortopedia e a resposta à população”, vincou.

Na resposta à Lusa, a fonte da ULSAC notou que, no dia 23 de abril, foi aberta uma manifestação de interesse para a direção daquele serviço, cujo processo ainda decorre.

Já o dirigente sindical frisou que as incompatibilidades entre o diretor e os médicos começaram no final de 2023 e manifestou-se preocupado com as consequências destas saídas.

O serviço de ortopedia fica com três especialistas e, provavelmente, vai perder capacidade formativa e, quando isto acontece, o colégio encontra maneira de os internos continuarem a especialidade noutros hospitais”, alertou.

Um dos médicos que entregaram os documentos de rescisão de contratos, que pediu para não ser identificado, explicou à Lusa que, em dezembro passado, os clínicos descontentes reuniram-se com a administração para lhe transmitir que discordavam da forma como o serviço era conduzido.

Nessa altura, adiantou, entregaram à administração uma carta assinada por seis dos sete especialistas do Serviço de Ortopedia a solicitar que o responsável pelo serviço “deixasse as funções de diretor, mas continuasse como ortopedista” e, em fevereiro deste ano, enviaram outra missiva em que admitiam avançar com a rescisão.

Agora, “tomámos este passo porque achamos que ninguém nos leva a sério, acham que estamos a brincar e que é birra, mas não é“, realçou, adiantando que os médicos já começaram a ser contactados por outros serviços para serem contratados.

De acordo com o clínico, a administração transmitiu aos médicos que não compreendia o descontentamento, mas que, “tendo uma equipa inteira contra a direção, o serviço não era gerível e que a única solução era fazer-se uma manifestação de interesse para a direção, que implica a abertura de um concurso”.

O clínico referiu que o concurso abriu, há quatro ou cinco semanas, e que concorreram o atual diretor e outro dos médicos, salientando que, até agora, “nem sequer se sabe oficialmente qual é a lista dos candidatos, porque ainda não foi publicada”.

“O serviço tem tudo para funcionar como deve de ser. É composto maioritariamente por pessoas novas, cada pessoa faz a sua área, temos um novo hospital em construção e temos uma equipa espetacular, só não nos damos bem com o diretor”, disse.

Assinalando que as rescisões dos contratos dos quatro médicos, um dos quais “alegou mesmo justa causa”, foram entregues na sexta-feira, o especialista notou que os clínicos vão agora trabalhar mais dois meses, pelo que saem no início de agosto.

“Só não se demitiram o diretor do serviço, um recém-especialista, que era interno do diretor, e o especialista mais velho que está a seis meses da reforma, mas que está solidário connosco”, sublinhou.

O médico alegou ainda que os clínicos descontentes trabalharam “seis meses com ambiente péssimo no serviço, com discussões frequentes, desorganização total” e deu um exemplo: “Fomos obrigados pelo diretor a cancelar férias e a fazer banco de urgência, mesmo com as férias aprovadas”, realçou.

“Os quatro médicos que entregaram a rescisão de contratos operámos, no ano passado, no global, mais de 800 doentes, o que representa 64% dos doentes operados na Ortopedia. O serviço perde muita coisa com a nossa saída, desde logo, a hipótese de ter uma equipa diferenciada em cada área anatómica”, acrescentou.

O Serviço de Ortopedia do HESE dispõe de 47 camas distribuídas em duas alas.