O Belcanto, do chef José Avillez, alcançou a 31ª posição da prestigiada lista The World’s 50 Best Restaurants, que anualmente enumera os melhores restaurantes de todo mundo. Na cerimónia realizada esta madrugada (hora de Portugal) no Encore Theatre, sala de espetáculos do hotel Wynn, em Las Vegas (EUA), Avillez viu o seu projeto lisboeta com duas estrelas Michelin descer seis posições em comparação com o resultado alcançado no ano passado, quando ficou no 25º lugar. Ainda não foi este ano que o chef conseguiu ultrapassar a melhor posição de sempre de um restaurante em Portugal, recorde mantido pelo Vila Joya, em Albufeira, que em 2014 ficou no 22º lugar. Ainda assim, o recorde de melhor posição para um chef português continua a ser de Avillez (25º posição no ano passado), já que o Vila Joya é liderado pelo austríaco Dieter Koschina.

Recorde que o Belcanto faz parte desta lista desde 2018, altura em que ocupou o 75º lugar (a contagem dos The World’s 50 Best Restaurants, na verdade, vai até ao 100º lugar, só os cinquenta primeiros são mais mediatizados). Desde então tem vindo a melhorar de classificação de ano para ano: em 2019 subiu para o 42º lugar (uma subida de 33 posições, face ao resultado do ano anterior), em 2021 manteve o 42º lugar (por causa da pandemia não existiu lista em 2020) e em 2022 deu uns passos atrás ficando no 46º lugar.

Por entre a confusão habitual que se gerou no rescaldo da cerimónia (e até durante a cerimónia, marcada por alguns erros técnicos), o chef português contou ao Observador que tinha dito que “isto em Las Vegas ia ser um 31 e foi mesmo”. “Ficámos em 31º lugar entre os melhores restaurantes do mundo e estamos muito felizes. Muito felizes também pelos nossos amigos do Disfrutar que são o novo número um. Incrível esta viagem, incrível como há seis ou sete anos estamos nesta lista. Há milhões de restaurantes no mundo inteiro, nem sei bem descrever o que é estar entre os 50 melhores. Estou muito feliz”, rematou Avillez entre um sem fim de abraços e cumprimentos com os vários companheiros de profissão que enchiam o palco do Encore Theatre.

O novo número um do mundo

Apesar do impressionante resultado português, a estrela da noite foi o restaurante espanhol Disfrutar, dos chefs Mateu Casañas, Oriol Castro e Eduard Xatruch, que alcançaram o prestigiado primeiro lugar da lista e, com isso, ganharam o título de melhor restaurante do mundo. No pódio ficaram ainda o restaurante Asador Etxebarri, do chef Victor Aguinzoniz, que ficou no segundo lugar, e pelo Table by Bruno Verjus, do chef Bruno Verjus, que ocupou a terceira posição.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A energia eletrizante da cidade de Las Vegas, a anfitriã da cerimónia, fez-se sentir em palco com a equipa do Disfrutar, visivelmente emocionada, a ver o seu trabalho ser reconhecido ao fim de de dez anos de existência, grande parte deles ocupando posições cimeiras. Depois do peruano Central ter conquistado o tão desejado primeiro lugar em 2023 (tornando-se no primeiro restaurante da América Latina a chegar a esta posição), um restaurante europeu volta a ser o grande vencedor, mantendo a tradição que já se cumpre há 22 anos, desde a primeira vez que foi anunciada a lista dos 50 Best. Para referência, os restaurantes The French Laundry e Eleven Madison Park, ambos norte-americanos, foram os únicos vencedores não europeus até à vitória do Central.

“Estamos muito felizes e muito orgulhosos mas não deixamos de pensar nos nossos colegas também representados na lista que trabalham muito, sacrificam muita coisa, para serem sempre melhores. É uma honra estar entre eles”, disse Mateus Casañas, um dos vértices do triângulo que comanda a cozinha do Disfrutar. Já recomposto das lágrimas que verteu quando subiu ao palco para receber o prémio, Eduard Xatruch falou da sombra de Ferran Adriá e do seu mítico El Bulli, restaurante onde os três cozinheiros passaram muitos anos: “Não nos sentimos sucessores do El Bulli. Muitas pessoas passaram por lá e era um projecto único. Das melhores coisas que nos deu foi fazer com que nos conhecêssemos. Somos influenciados por ele, claro, mas procuramos a nossa linguagem.” Oriol Castro optou por falar do futuro, afirmando que o importante agora é “manter os pés no chão” e “não pensar demasiado no futuro”. “Gostamos de viver o presente, ser melhor todos os dias. Isso é a nossa prioridade”, concluiu.

O Disfrutar passa agora a fazer parte dos chamados “The Best of The Best”, o panteão de todos os anteriores números um que deixam de ser contabilizados para listagens futuras – a sua exclusão deve-se a uma regra implementada pela organização em 2019  que tinha como objectivo tornar as movimentações dentro da lista mais dinâmicas, evitando que fosse sempre um grupo de quatro ou cinco restaurantes a “monopolizar” o lugar cimeiro. Neste autêntico “Hall of Fame”, como se diz no país anfitrião desta cerimónia, coabitam astros como o Noma (chef René Redzepi, Dinamarca), o Mirazur (chef Mauro Colagreco, França), a Osteria Francescana (chef Massimo Bottura, Itália) e, claro, o Central (chef Virgílio Martinez, Peru).

Mas não é só da classificação principal que vive o The World’s 50 Best Restaurants, também existe uma série de prémios individuais, alguns revelados há umas semanas e outros apenas nesta quarta-feira, debaixo do calor intenso que tem esmagado a cidade de Las Vegas. São eles: prémio de jovem promessa (“One to Watch”) para o Kato (em Los Angeles, do chef Jonathan Yao); o prémio de melhor chef pasteleiro para Nina Métayer (de Paris); do prémio “Arte da Hospitalidade” para o Plenitude (do chef Arnaud Donckele, em Paris); prémio de melhor chef feminina para Janaína Torres (chef do restaurante Casa do Porco, em São Paulo); prémio para melhor sommelier do mundo para Pablo Rivero (do Don Julio, em Buenos Aires); prémio para a melhor entrada na lista para o Wing (em Hong Kong); prémio “Icone” para Neil Perry (do restaurante Margaret, em Sydney); o prémio “Escolha dos Chefs” para Mitsuharu Tsumura (do restaurante Maido, em Lima); o prémio para maior subida dentro da lista para o The Chairman (que fica em Hong Kong) o prémio dos “Campeões pela Mudança”, atribuído a projectos de cariz social, foi para o chef brasileiro João Diamante (do Rio de Janeiro, que com o projecto Diamantes na Cozinha promove a inserçaõ social através do trabalho na restauração) e para a dupla por trás do projecto Roots, Caroline Caporossi e Jessica Rosval (baseada em Modena, Itália, esta organização dedica-se a apoiar mulheres marginalizadas através do ensino culinário); e finalmente o prémio de sustentabilidade, que foi entregue ao Noblehart & Schmutzig (em Berlim).

Consulte em baixo a lista completa do top 50 e top 100 do “The World’s 50 Best Restaurants”:

1 – Disfrutar (Barcelona)

2 – Assador Etxebari

3 – Table by Bruno Verjus (Paris)

4 – Diverxo (Madrid)

5 – Maido (Lima)

6 – Atomix (Nova Iorque)

7 – Quintonil (Cidade do México)

8 – Alchemist (Copenhaga)

9 – Gaggan (Banguecoque)

10 – Don Julio (Buenos Aires)

11 – Septime (Paris)

12 – Lido 84 (Gardone Riviera)

13 – Trèsind Studio (Dubai)

14 – Quique Dacosta (Dénia)

15 – Sézanne (Tóquio)

16 – Kolle (Lima)

17 – KOL (Londres)

18 – Plénitude (Paris)

19 – Reale (Castel di Sangro)

20 – Wing (Hong Kong)

21 – Florilège (Tóquio)

22 – Steirereck (Vienna)

23 – Sühring (Banguecoque)

24 – Odette (Singapura)

25 – El Chato (Bogotá)

26 – The Chairman (Hong Kong)

27 – A Casa do Porco (São Paulo)

28 – Elkano (Getaria)

29 – Boragó (Santiago)

30 – Restaurant Tim Raue (Berlim)

31 – Belcanto (Lisboa)

32 – Den (Tóquio)

33 – Pujol (Cidade do México)

34 – Rosetta (Codade do México)

35 – Frantzén (Estocolmo)

36 – The Jane (Antuérpia)

37 – Oteque (Rio de Janeiro)

38 – Sorn (Banguecoque) *

39 – Piazza Duomo (Alba)

40 – Le Du (Banguecoque)

41 – Maita (Lima)

42 – Ikoyi (Londres)

43 – Noblehart & Schmutzig (Berlim)

44 – Mingles (Seul)

45 – Arpège (Paris) *

46 – Singlethread (Healdsburg)

47 – Schloss Schauenstein( Furstenau)

48 – Hisa Franko (Kobarid)

49 – La Colombe (Cidade do Cabo)

50 – Uliassi (Senigallo)

51 – Le Calandre (Rubano)

52 – Atelier Moessmer Norbert Niederkofler (Brunico) **

53 – Leo (Bogotá)

54 – Kadeau (Copenhaga)

55 – Mérito (Lima)

56 – Narisawa (Tóquio)

57 – Potong (Banguecoque)

58 – Lasai (Rio de Janeiro)

59 – Enigma (Barcelona)

60 – Fyn (Cidade do Cabo)

61 – Nuema (Quito)

62 – Coda (Berlim) **

63 – Bozar (Bruxelas) **

64 – Orfali Bros Bistro (Dubai)

65 – Brat (Londres)

66 – La Cime (Osaka)

67 – Alcalde (Guadalajara)

68 – Burnt Ends (Singapura)

69 – Fu he Hui (Xangai)

70 – Le Doyenné (Saint-Vrain) **

71 – Le Bernardin (Nova Iorque)

72 – Aponiente (El Puerto de Santa María)

73 – Mil (Cusco) *

74 – Nusara (Banguecoque)

75 – Ernst (Berlim)

76 – Flocons de Sel (Megève)

77 – La Grenouillère (La Madeleine-sous-Montreuil)

78 – Masque (Bombaim) **

79 – Alléno Paris au Pavillon Ledoyen (Paris)

80 – The Clove Club (Londres)

81 – Mugaritz (San Sebastian)

82 – Sud 777 (Cidade do México)

83 – Willem Hiele (Oudenburg) *

84 – Restaurant Jan (Munique)

85 – Ceto (Roquebrune-Cap-Martin)

86 – Mosu (Seul) **

87 – Lyle’s (Londres)

88 – Tantris (Munique)

89 – Indian Accent (Nova Deli) *

90 – Smyth (Chicago) **

91 – Neolokal (Istambul)

92 – Labyrinth (Singapura)

93 – Sazenka (Tóquio)

94 – Mountain (Londres)

95 – Meta (Singapura)

96 – Onjium (Seul) **

97 – Core by Clare Smyth (Londres)

98 – Saint Peter (Sydney) **

99 – Cosme (Nova Iorque)

100 – Fauna (Valle de Guadalupe) **

O “**” assinala as novas entradas na lista e o “*” assinala os restaurantes que já estiveram na lista, saíram e agora voltaram a entrar.

O autor viajou a convite do turismo de Las Vegas.