O presidente da Ordem dos Arquitetos (OA), Avelino Oliveira, admitiu esta quinta-feira que o Terminal Intermodal de Campanhã (TIC), no Porto, “tem uma dimensão de problemáticas muito grande” a nível funcional e operacional, apesar de ser um edifício premiado.

Em termos da dimensão funcional, e vamos chamar-lhe operacional (…), tem uma dimensão de problemáticas muito grande”, disse esta quinta-feira Avelino Oliveira num debate no IV Fórum do Ambiente na Trofa, no distrito do Porto, dedicado aos temas da Mobilidade Urbana, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

Para o presidente da OA, o que há a “fazer de melhor” agora é “por um lado, estimar que o município do Porto tenha feito um excelente edifício e uma requalificação daquele espaço urbano”, mas também que “sirva de exemplo à qualidade de edifícios que se podem fazer em termos de terminais intermodais”.

O TIC pode servir para “aprender com aquelas coisas que não funcionaram tão bem em termos de operação, e são várias, são inúmeras lá, para os arquitetos incorporarem” no futuro.

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“Um edifício de qualidade como aquele provavelmente incorporava muito mais conhecimento de uma pessoa como eu, que, por exemplo, fui administrador da STCP, e é evidente que eu percebo mais de operação do que percebe o Nuno” Brandão Costa, arquiteto do TIC, afirmou.

Porém, no início da sua intervenção, Avelino Oliveira ressalvou que o TIC “é um edifício premiado, é um edifício de arquitetura de autor, o Nuno Brandão Costa é um excelente arquiteto, é um membro muito nobre da instituição que eu represento, é um colega, e em termos de arquitetura não há nenhuma crítica especial a fazer”.

Avelino Oliveira afirmou que é necessário “incorporar o lado positivo daquilo que está no TIC”, havendo coisas que “podem ser rapidamente corrigidas e melhoradas”, pois “os edifícios não são impossíveis de se mexer”.

“É bom que nós arquitetos também convivamos com a crítica”, assinalou o líder da OA.

O debate estava a ser moderado por Manuel Paulo Teixeira, administrador-delegado do agrupamento Transportes Intermodais do Porto (TIP), que foi o autor do caderno de encargos do terminal, sendo “um edifício que pela sua área, pela sua dimensão, tem um impacto muito grande do ponto de vista urbanístico, ambiental, mas tem uma componente funcional fortíssima”, assinalou, tendo mesmo que “funcionar bem”.

Segundo o também arquiteto, “a ideia era que ele funcionasse quase num modelo aeroportuário, em que as zonas de espera dos veículos não se confundem com as zonas de embarque”, sem “cruzamentos de percursos entre pessoas, veículos e automóveis”.

Tudo isso tinha ponderações [na avaliação das candidaturas]. Foi constituída uma equipa de um júri. A esse júri, diretamente por mim, foi-lhe apresentado o racional daquela grelha de avaliação, e ainda assim quer-me parecer que no fim, no resultado, de facto o edifício, uma vez mais, sobrepôs-se àquilo que eram as questões funcionais”, considerou.

Também Sandra Lameiras, da OPT – Optimização e Planeamento de Transportes, considerou que faltou “qualquer simples softwarezinho para ver os ângulos de viragem dos autocarros”, que verificasse que “não dava espaço para dois autocarros entrarem dentro do terminal”.

“Acho que faltou ali, de facto, uma diversidade de áreas que tivessem mais experiência para ajudar no projeto do edifício, que está excecional. O programa funcional também estava bem, mas depois houve ali estas questões que estão a ser agora dirimidas”, apontou.

O TIC custou 13,2 milhões de euros, abriu em julho de 2022 e até novembro de 2023 tinha servido mais de sete milhões de passageiros.

Já venceu o Grande Prémio Enor de arquitetura, foi distinguido pela Associação Internacional de Críticos de Arte em 2021, venceu um prémio Construir 2022, o prémio de Melhor Empreendimento Imobiliário — Espaços Públicos do Salão Imobiliário de Portugal e os Prémios Imobiliário na categoria de Projeto de Impacto Económico, Social e Ambiental.