Portugal saiu do primeiro jogo do Euro 2024 com uma vitória tirada a ferros contra a República Checa e onde a exibição criou perguntas, dúvidas e inquietações. Assim como o onze inicial de Roberto Martínez, desde logo, tinha criado perguntas, dúvidas e inquietações.

Ainda assim, e já a pensar no encontro do próximo sábado contra a Turquia, é possível perceber através dos números e das estatísticas o que aconteceu na Red Bull Arena de Leipzig. Desde a posse de bola às ações na área adversária, onde Portugal dominou, passando pelas ações defensivas no meio-campo contrário e a distância percorrida, onde a República Checa levou a melhor, são vários os indicadores que espelham os mais de 90 minutos.

Posse de bola: 72%-28%

É a típica estatística que todos viram a olho nu e sem necessidade de olhar para os números — e que vai à boleia dos passes completos, com 622 contra 178. Portugal foi muito superior à República Checa no que toca à posse de bola e nunca abdicou desse fator, assumindo a iniciativa do jogo e começando a construir logo na linha do meio-campo e com o objetivo de procurar os escassos espaços que existiam.

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Ainda assim, a posse de bola portuguesa foi muito consentida pelos checos, que preferiam atuar em bloco baixo e com os setores muito próximos para depois explorar a profundidade e a transição rápida. Portugal teve muita bola, mas foram raros os momentos em que conseguiu criar desequilíbrios e furar a densidade populacional que existia no último terço da República Checa. Faltou definição à Seleção Nacional, que chegava perto da área mas não conseguia fazer entrar o último passe para criar uma finalização.

Distância percorrida: 115.7 kms-121.1 kms

É a única estatística em que a República Checa ganhou a Portugal, à exceção das faltas cometidas. Os checos correram mais do que os portugueses, sensivelmente mais cinco quilómetros, e o número explica-se não só pelas transições ofensivas que fizeram em profundidade como pelo pouco espaço de que a Seleção Nacional despendia para acelerar.

Portugal colocou sempre a linha defensiva na zona do meio-campo, atacando através de Vitinha a partir daí, mas os passes eram curtos e as acelerações praticamente impossíveis. Só Rafael Leão e Nuno Mendes conseguiram imprimir alguma velocidade nos corredores e somente na primeira parte, com a equipa de Roberto Martínez a atuar numa área de ação muito reduzida onde se jogava praticamente a passo.

Ações defensivas no meio-campo adversário: 7-10

Uma das estatísticas mais improváveis, mas que ajuda a explicar a incapacidade portuguesa na hora de criar oportunidades de golo e a forma como os checos criaram a situação que os colocou em vantagem. Portugal recuperou poucas vezes a bola no meio-campo adversário, ou seja, começava a construir muito atrás e raramente se viu em situações de superioridade numérica ou transição ofensiva.

Em sentido oposto, a República Checa apostou precisamente nos escassos momentos em que conseguiu pressionar alto e jogou com o erro português, lançando imediatamente a profundidade para explorar as costas de Rúben Dias, Pepe e Nuno Mendes. A ausência de João Palhinha fez-se notar, por muito que Pepe fosse o elemento solto que procurava servir como espécie de pivô à frente dos outros centrais, e a Seleção não teve muita intensidade no momento da reação à perda da bola.

Ações na área adversária: 35-8

A goleada da noite — ainda que também ajude a detalhar os aspetos negativos da exibição da Seleção Nacional. Portugal tocou muitas vezes na bola dentro da área da República Checa, mas raramente com perigo ou com possibilidade de rematar à baliza de Jindřich Staněk. A equipa de Roberto Martínez foi sempre mais rendilhada do que vertical, mais desenhada do que direta, e isso obrigou a passes e toques redundantes e confusos num espaço já muito populado como a grande área.

Aqui, podemos ainda juntar os 13 cantos praticamente infrutíferos de que Portugal beneficiou. Sem apostar na versão curta da bola parada e sempre com cruzamentos para a área e pelo ar, os portugueses raramente tiveram hipótese nos duelos físicos contra adversários mais altos, mais fortes e mais corpulentos.

Maior número de passes: 22, entre Pepe e Nuno Mendes

A ligação mais comum na Seleção Nacional, com 22 passes concluídos, foi entre Pepe e Nuno Mendes. O lateral tornado central foi a surpresa no onze inicial de Roberto Martínez e procurou mostrar trabalho durante a primeira parte, lançando-se em arrancadas mais interiores que deixavam o corredor para Rafael Leão e João Cancelo — logo, sendo o recetor preferencial das saídas a jogar de Pepe, que tentava sempre explorar a velocidade do jogador do PSG.

Por outro lado, os 22 passes entre Pepe e Nuno Mendes também espelham a tarefa que o central adotou no jogo contra a República Checa. A jogar pelo meio, com Rúben Dias e Nuno Mendes a serem os responsáveis pelo controlo da transição adversária, Pepe assumiu a função de primeiro elemento da construção e ainda procurou ser uma espécie de sombra de João Palhinha na hora de ser o obstáculo inicial ao ataque contrário.