O presidente da junta lisboeta da Ajuda, Jorge Marques (PS), apelou esta terça-feira ao envolvimento da freguesia na decisão sobre o futuro uso do hospital militar de Belém, onde se prevê a instalação de um centro de acolhimento para imigrantes.

“Embora reconheçamos a grande importância de encontrar soluções para estas graves questões sociais, e para as quais continuamos disponíveis para colaborar, não podemos deixar de expressar a nossa perplexidade e profunda insatisfação com a forma como o processo tem sido conduzido, sem consulta, nem conhecimento da comunidade local e das entidades que a representa”, afirmou Jorge Marques.

O autarca referia-se à intenção do Governo e da Câmara Municipal de Lisboa (CML) de instalar um centro de acolhimento para imigrantes no hospital militar de Belém, situado na freguesia da Ajuda.

O presidente da Junta de Freguesia da Ajuda falava na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), onde voltou a questionar a decisão do Governo (PSD/CDS), em parceira com a Câmara, presidida pelo PSD, de criar um centro de acolhimento temporário de imigrantes no edifício do antigo hospital militar de Belém, na Ajuda, segundo revelou o Ministério da Presidência, em resposta à agência Lusa.

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Essa decisão compromete a concretização do projeto para um centro intergeracional na Ajuda, uma vez que tal estava previsto para uma parte do hospital militar de Belém, segundo o autarca socialista.

No sábado, a Comissão Unitária de Reformados e Idosos da Freguesia da Ajuda (CURIFA) realizou um cordão humano para exigir a construção de um equipamento de lar e creche no antigo hospital militar de Belém, com a presença de cerca de 150 moradores, que aprovaram uma resolução, por unanimidade e aclamação, para se continuar a luta nesse sentido.

De acordo com o autarca da Ajuda, esta freguesia lisboeta tem necessidades “prementes, identificadas há muito, que precisam de ser atendidas”, em que “uma das mais urgentes é a criação do centro intergeracional da Ajuda, que inclua uma residência para seniores e uma creche”.

Jorge Marques explicou que essa necessidade foi identificada pela CML em 2018, quando o município era presidido pelo PS, no âmbito do Programa Lisboa, Cidade COM VIDA Para Todas as Idades e lembrou que, “em 2021, a coligação Novos Tempos (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), alinhada com os anteriores compromissos da câmara, prometeu a execução de um centro intergeracional da Ajuda”.

No âmbito de uma petição, a AML aprovou, por unanimidade, em março de 2023, uma recomendação para que a câmara “concretize a criação de um centro intergeracional na freguesia da Ajuda, tal como foi prometido aos cidadãos”, recordou ainda o autarca do PS, lamentando que o documento tenha sido ignorado pelo executivo municipal.

Nessa altura, a vereadora dos Direitos Humanos e Sociais, Sofia Athayde (CDS-PP), reconheceu “a importância e a necessidade urgente de mais respostas sociais na freguesia da Ajuda” e informou que “o custo de construção de um centro intergeracional se situa acima dos 20 milhões de euros”, considerando que obra era “insustentável”.

Criticando a falta de consideração da CML pela recomendação aprovada pela AML, o autarca da Ajuda reforçou que, apesar das contínuas solicitações da freguesia, o projeto não avançou nos quase três anos do atual mandato, considerando “absolutamente incompreensível por que razão ao longo destes anos tem sido tão difícil encontrar uma solução, enquanto agora parece absolutamente fácil e rápido executar obras para atribuir um novo uso a este hospital”.

“Compreendemos que a gestão de uma cidade como Lisboa é complexa, difícil e até desafiadora, mas é precisamente por isso que apelamos a que nos ouçam, a que envolvam as juntas de freguesia nos processos de decisão. […] Conhecemos as necessidades da nossa comunidade, estamos disponíveis a ajudar e a encontrar soluções equilibradas”, sublinhou Jorge Marques.

Em 4 de junho, o presidente da CML, Carlos Moedas (PSD), defendeu um centro de acolhimento temporário de imigrantes “o mais depressa possível”, ressalvando que o local será “uma escolha do Governo” e referindo que “há vários potenciais locais”, inclusive o antigo hospital militar de Belém.