Os aplausos podem ser muito audíveis ou mais comedidos, as manifestações de apoio acabaram por estar sempre presentes. Sempre que um encontro do Europeu termina, cada equipa faz questão de juntar-se e ir depois à zona do estádio onde se concentra a maioria dos seus adeptos em forma de agradecimento num momento que acaba por ser sempre de comunhão até quando o resultado não corresponde bem ao esperado. Há seleções, como a Dinamarca, onde os jogadores ficam depois em convívio com os familiares mas esse gesto inicial é uma espécie de “mínimo olímpico”. Por uma vez, não aconteceu. E aquilo que se tinha visto nas imagens após o nulo com a Ucrânia teve mais história depois de as câmaras terem mudado o foco.

Os assobios são o único aplauso para estes Diabos (a crónica do Ucrânia-Bélgica)

Comecemos pelo que se viu. Num pontapé de canto no último minuto de descontos ganho pela Bélgica à esquerda do ataque, que foi marcado de forma curta para tentar congelar a bola durante mais uns segundos, era percetível o desagrado dos adeptos com a exibição que os Diabos Vermelhos estavam a fazer. Depois, no final do encontro, e com essa garantia de passagem aos oitavos mesmo acabando na segunda posição pela diferença de golos com a Roménia, a contestação aumentou. Houve assobios, houve insultos, houve uma reação quase geral de desagrado por outra exibição aquém do esperado. Kevin de Bruyne não gostou.

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Agora vamos para aquilo que não se viu. Alguns jogadores da Bélgica, já depois dos cumprimentos na zona do meio-campo, iam em direção da baliza onde estava concentrada a maioria dos adeptos mesmo perante uma assobiadela bem audível para agradecer o apoio. Ao ver o que se passava, o capitão da Bélgica chamou os companheiros que estavam mais à frente, fez sinal de que não havia nada para dizer e encaminhou todos os jogadores para o balneário. Mais tarde, quando foi reconhecido mais uma vez com o prémio de MVP da partida, o jogador do Manchester City viu o seu nome ser assobiado de novo pelos adeptos, sendo que De Bruyne tornou-se o primeiro e único jogador do Europeu a receber esse troféu por duas ocasiões.

“Estou feliz por nos termos qualificado. Merecemos ganhar também o jogo com a Ucrânia. Começámos bem, a pressionar muito alto mas não fomos muito eficazes. O ataque nem sempre funcionou bem apesar de alguns remates. No final do jogo, só tínhamos de pensar na qualificação. Não podíamos correr riscos. Não seremos favoritos contra a França mas sabemos que, num torneio, temos de jogar o melhor”, referiu o jogador após o encontro, deixando um pedido aos adeptos para que possam apoiar a equipa nos oitavos.

Já o selecionador Domenico Tedesco, que colocou Trossard a jogar de início depois das críticas feitas pelo pai do jogador do Arsenal no último encontro, alinhou pelo mesmo diapasão. “Sabíamos que não podíamos falhar. A mensagem era clara: queríamos ganhar. Os jogadores tentaram tudo. Temos de marcar mais cedo, temos de ser mais eficazes para as coisas se tornarem mais fáceis. Estou orgulhoso da minha equipa porque conseguiu o apuramento. Se tivéssemos sofrido um golo, estávamos fora. Este grupo era mais difícil do que muitos pensavam. Estamos entre as melhores equipas do Europeu e vamos defrontar um adversário de topo. São estes jogos que procuramos nestas competições”, salientou, à luz desse jogo com a França.

Antes, e como parece haver sempre algo que não corre bem com os Diabos Vermelhos, o técnico que rendeu Roberto Martínez manifestou o seu desagrado pelo tempo que a equipa demorou a chegar de autocarro antes da partida. “Nunca vi algo como isto. Demorámos uma hora a chegar ao estádio, com escolta policial e as estradas livres. Andámos a 20, 25 quilómetros e parámos em todos os semáforos. Falei dois minutos com os jogadores e tivemos de reduzir o aquecimento. Não é possível. A preparação do jogo foi também afetada por isso”, criticou o selecionador, neste caso visando a organização da prova na Alemanha.