A associação que representa as Unidades de Saúde Familiar admitiu nesta quinta-feira a necessidade do Serviço Nacional de Saúde precisar de até 1.200 médicos de família este ano e alertou para atrasos nos concursos de colocação dos novos especialistas.

“Vamos ter uma necessidade este ano de entre 700 e 1.200 médicos de família que podem sair do Serviço Nacional de Saúde (SNS). 700 já sabemos que fazem falta neste momento, mas podem chegar a 1.200 só este ano“, afirmou o presidente da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) durante uma audição na comissão parlamentar de Saúde.

André Biscaia foi ouvido, a pedido do grupo parlamentar do BE, no grupo de trabalho da comissão de Saúde para acompanhamento da execução do plano de emergência aprovado pelo Governo no final de maio.

Esta necessidade de médicos de família para este ano deve-se a aposentações, a ausências prolongadas e a saídas do SNS, adiantou o presidente da associação, ao salientar que o número de utentes sem esses especialistas atribuídos — atualmente cerca de 1,6 milhões — “pode ser muito mais grave em dezembro”.

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“Tem de ser acautelado rapidamente”, alertou André Biscaia, para quem isso passa por melhores condições de trabalho e por uma “perspetiva de futuro” ao nível das carreiras com o objetivo de cativar os médicos de família para o SNS.

“A maior parte destes médicos de família não sai de Portugal e podem ser cativados para o SNS”, defendeu o presidente da USF-AN.

Perante os deputados, André Biscaia salientou ainda que “nunca houve um atraso tão grande” nos concursos para recém-especialistas de medicina geral e familiar, que vão deixar de ser de âmbito nacional para passarem a ser da responsabilidade das Unidades Locais de Saúde.

Essa alteração do modelo “vai criar imensos constrangimentos”, avisou também o presidente da associação, alegando que vai ser necessário ter equipas de avaliação destes concursos que “vão desviar, em plena época de férias, dezenas de médicos da sua atividade”.

“Os concursos vão terminar em alturas diferentes e está tudo montando para realmente ser caótico este concurso”, previu André Biscaia.

Segundo referiu, os novos médicos que terminaram o internato estão a fazer trabalho de especialistas neste momento e a “receber como internos” e, portanto, “não estão satisfeitos”.

“Muitos estão a sair e, a partir do momento em que estabilizam noutro setor, isso vai agravar o problema”, alertou André Biscaia, para quem, ao nível dos cuidados de saúde primários, a “situação é muito mais precária” para os enfermeiros e secretários clínicos.

No final de junho, o Governo abriu cerca de 900 vagas para Medicina Geral e Familiar, que representam mais 40% do número de recém-formados, com o objetivo captar mais profissionais para os cuidados de saúde primários.

O executivo aprovou também uma revisão do regime de colocação de médicos, que prevê que os concursos, que eram realizados a nível nacional e regional, sejam agora da responsabilidade das unidades de saúde.

No final de maio, o Governo aprovou o plano de emergência e transformação na saúde, composto por cinco eixos prioritários, que incluem 54 medidas para serem implementadas de forma urgente, prioritária e estrutural.