A saga à volta da campanha de Joe Biden persiste, com democratas a questionarem publicamente as condições de saúde do atual Presidente dos EUA para ser o recandidato contra Donald Trump e com Biden a assegurar, dia após dia, que é a pessoa certa para voltar a derrotar o ex-Presidente republicano. Em mais um capítulo desta história, Hakeem Jeffries, líder do partido Democrata da Câmara dos Deputados dos EUA, reuniu-se com Joe Biden e ter-lhe-á explicado “sem rodeios” as opiniões e receios de vários democratas com a candidatura.

Na carta enviada aos colegas após a reunião com Biden, conta o The New York Times, Jeffries não contou o que disse ao Presidente, mas deu garantias de que tinha passado as mensagens dos colegas democratas, a “amplitude das perceções”, as “perspetivas sinceras” e as “conclusões sobre o caminho a seguir”.

Mais tarde, Biden terá mesmo respondido diretamente a vários democratas que o questionaram diretamente e pediram que se afastasse. Um dos casos mais vocais foi o do congressista da Califórnia Mike Levin, que pediu que Biden desse um passo atrás e abandonasse a candidatura. Uma fonte que assistiu à reunião revela que o Presidente dos EUA argumentou estar a sair à rua, a deixar que as pessoas lhe toquem e lhe façam perguntas por entender que é o correto, que será mais útil do que promover as suas conquistas.

As questões ter-se-ão multiplicado sem grandes filtros: “Isso foi ótimo até se estar a sentir bem, Biden. Está bem agora? É isso que está em causa, é com isso que as pessoas estão preocupadas”, insistiu Levin.

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A resposta do Presidente norte-americano foi exatamente no mesmo caminho, para admitir que as “preocupações são legítimas” e que é por isso que considera importante “sair e mostrar às pessoas tudo” — designadamente para comprovar que se movimenta bem (apesar das dificuldades normais da idade) e que “ainda está no comando”. Levin insistiu, tornou público o apelo que fez para que Biden abandonasse e reconheceu não ser fácil fazê-lo tendo em conta o “profundo respeito pelas mais de cinco décadas de serviço público” — “É tempo de o Presidente Biden passar a tocha.”

Os percalços têm-se sucedendo ao longo dos últimos meses — o momento mais mediático e que centrou todas as atenções foi o debate com Donald Trump, e esta semana, durante a cimeira da NATO, o facto de ter trocado o nome a Volodymyr Zelensky, chamando-lhe Putin, voltou a colocar todos os holofotes em cima de Biden. Na conferência de imprensa que deu poucas horas depois do lapso foi questionado várias vezes sobre o seu estado de saúde, os pedidos para que saia e até se Kamala Harris não estaria apta para assumir a candidatura. “Sou a pessoa mais qualificada para a corrida a Presidente”, garantiu.

Nessa mesma conferência de imprensa ainda se referiu a Kamala Harris como “vice-presidente Trump”, enquanto justificava que confiava plenamente no trabalho da vice-presidente, mas que não lhe ia entregar o lugar na corrida.

Mais tarde, num comício de campanha, Biden — que já tinha admitido não andar com tanta facilidade nem falar com tanta fluidez como noutros tempos — voltou a dizer que não vai abandonar a corrida às presidenciais norte-americanas e recordou também um lapso de Trump: “Têm-me chateado porque às vezes confundo os nomes, digo que é Charlie em vez de Bill. Mas sabem que mais? Donald Trump teve um livre-trânsito. Não devem lembrar-se que Trump chamou Nikki Haley à Nancy Pelosi.”

Ainda no campo das preocupações e movimentações sobre o tema, a CNN deu conta de que Barack Obama e Nancy Pelosi falaram em privado sobre Joe Biden e o futuro da sua campanha para 2024, expressando preocupação, depois de ter havido críticas pelo facto de o ex-Presidente e a ex-presidente da Câmara dos Representantes preferirem o silêncio a expressar uma opinião. Pelosi, no programa “Morning Joe”, do canal MSNBC, disse apenas: “Cabe ao Presidente decidir se vai concorrer. Estamos todos a encorajá-lo a tomar essa decisão, porque o tempo está a acabar.” E perante a insistência, ainda sublinhou: “Quero que ele faça o que quer que decida fazer. Assim é que é. O que ele decidir, nós apoiamos.”

Além de Trump estar a usar todos estes percalços para usar na campanha, até sugerindo que Biden faça um teste cognitivo para mostrar que está em condições para manter a candidatura — desafio ainda sem resposta —, o maior problema de Joe Biden tem sido mesmo interno, com democratas a pedirem o afastamento, como aconteceu até com George Clooney, apoiante e rosto de angariações para o partido, e com alguns dos principais financiadores da campanha democrata a congelarem a entrega de fundos com o objetivo de forçar Biden a retirar-se da corrida à Casa Branca.