Formados no Porto em 1993 como Da Wreckas, os Mind Da Gap são Ace (Nuno Carneiro), Presto (Hugo Piteira) e Serial (Rolando Sá).

Em 2016 decidiram pôr um ponto final na carreira, ao longo da qual editaram seis álbuns de originais, o último dos quais em 2012.

No sábado voltam a juntar-se em cima de um palco, no 28.º festival Super Bock Super Rock (SBSR), que começa na quinta-feira, na Herdade do Cabeço da Flauta, perto do Meco, no concelho de Sesimbra.

“O grosso do [alinhamento do] concerto está definido à partida pelas músicas que tiveram mais sucesso, e continuam a ter mais ‘views’ [visualizações] e mais escutas”, revelou Ace, numa conversa do trio com a agência Lusa.

Os três ainda estão a “tentar meter músicas um bocado mais fora do baralho”, mas como o tempo de atuação é limitado, dará sobretudo “para o que seria um ‘greatest hits’ de Mind Da Gap”.

Ou seja, no alinhamento não deverão faltar temas como “Dedicatória”, “És como um dom”, “Bazamos ou ficamos”, “Não pára”, “Todos gordos”, “Não stresses” ou “És onde quero estar”.

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“Era aliciante podermos tocar músicas que não ‘bateram’ tanto, mas acho que as pessoas também não querem ouvir essas músicas que conhecem. Acho que isso acontece com qualquer artista”, referiu Serial.

Com alguns ensaios já feitos, voltarem a trabalhar os três juntos “tem corrido bem”, partilhou Presto.

“Os ensaios estão a correr bem também e não nos esquecemos. Aqueles mecanismos antigos estão a voltar todos, e as letras ainda estão mais ou menos memorizadas”, disse.

Os temas mais antigos têm saído com mais facilidade do que os mais recentes. “Provavelmente porque já as tocámos tantas vezes que nunca mais se esquece”, disse Presto.

Embora o último concerto tenha acontecido há cerca de dez anos, “foram muitos anos” a subirem a palco, “algumas vezes felizmente”: “Portanto, está tudo cá ainda”, disse Ace.

“Numa altura da minha vida se calhar até quis achar que as tinha esquecido [às letras das músicas], mas afinal não. Estão todas cá. As dicas que mando nas letras do Presto sei exatamente o sítio em que tenho que o fazer. O Presto para as minhas”.

O mesmo acontece “nos cortes que o Serial faz no ‘beat'”, para se ouvir apenas as vozes de Ace e Presto.

“O ‘muscle memory’ [músculo da memória] está lá todo, o que não deixa de ser curioso, porque é uma vida já antiga para nós, uma coisa que ficou para trás no tempo, porque tocar ao vivo se calhar não tocamos há dez anos”, referiu.

Serial concorda com os dois MC (Mestres de Cerimónias): “A forma como fazíamos as coisas na altura, não desapareceu da memória. Já não sai mais mesmo”.

“Eu lembro-me do que é que fazia. E até me dá vontade de rir, como é que faço as coisas tão mecanicamente, nem penso no que estou a fazer, parece que ficou mesmo gravado”, partilhou.

No público estão a contar ver “cotas” como eles, cuja média de idades anda perto dos 50 anos. Ou “uma ou duas gerações abaixo”.

“Acho que será a maioria das pessoas”, disse Ace.

Para Serial “é um bocado difícil” que no público haja muita gente mais nova, com idades entre os 17 e os 25 anos, porque “esteticamente a música que ouvem, mesmo o hip-hop que ouvem, não tem nada a ver” com o género de rap que os Mind Da Gap faziam.

Ace concorda e acha até que muitos dessa geração “nem fazem ideia quem são os Mind Da Gap”. Claro que, salientam os três, “há sempre exceções”.

O regresso dos três a palco, juntos, poderá ser uma vez sem exemplo, que aconteceu “porque se reuniram uma série de condições”.

“Gostava de dizer às pessoas, sobretudo as do Porto, ‘não vão, não gastem dinheiro’, mas a verdade é que não sabemos [se faremos mais concertos depois deste]”, referiu Ace.

O concerto de sábado pode correr bem e os três ficarem tão satisfeitos que sintam que não precisam de fazer mais. “Está bom, encerramos aqui este capítulo das nossas vidas, está tudo bem, um abraço e vemo-nos por aí”. Mas também pode correr mal e perceberem que “já não dá” mais.

Há ainda uma terceira hipótese: “Correr espetacularmente bem, sentirmos ‘isto é mesmo bom’, ‘é fixe’, ‘tou a curtir, vamos fazer mais”. “Pode dar para qualquer um destes lados”, disse Ace.

A única certeza é que o concerto de sábado acontece, depois só o futuro dirá.

Além de serem uma das grandes referências do rap nacional, os Mind Da Gap são também um dos grupos pioneiros do chamado rap do Porto, que abriu caminho a coletivos e artistas como Dealema (Maze, Mundo, Expeão, Fuse e Guze), Keso, Virtus, Berna, Capicua ou Conjunto Corona.

Em 1995, editaram o EP de estreia, homónimo, ao qual se seguiu, dois anos depois, “Sem Cerimónias”, um dos álbuns que marcaram a história do rap em Portugal e do qual fazem parte temas como “Dedicatória”, “És como um dom” e “Falsos amigos”.

Nos vários álbuns contaram com a colaboração de, entre outros, Sam The Kid, Valete, Da Weasel, Dealema, Melo D e Carla Moreira.

No sábado haverá convidados em palco, mas os elementos dos Mind Da Gap não quiserem revelar nomes.

A discografia do grupo inclui também o EP “Flexogravity”, gravado com os Blind Zero em 1996, e a coletânea “Matéria Prima 1997-2007”, que incluiu êxitos, mas também alguns temas originais.

O último álbum do grupo, “Regresso ao futuro”, foi editado em 2012. Depois disso não voltaram a gravar temas novos. Quatro anos depois, punham um ponto final na carreira.

O 28.º SBSR acontece entre quinta-feira e sábado.

Para o dia em que atuam os Mind Da Gap, o último, estão também confirmados Stormzy, Fisher, Vulfpeck, Ana Calvi e Hause Plants, entre outros.

O cartaz para este ano inclui também Tom Morello, este ano distinguido com o Prémio Woody Guthrie de carreira, nos EUA, Måneskin, 21 Savage, Royal Blood, Slow J, Capitão Fausto, Will Butler + Sister Squares, Aminé, Fridayy, New Max e Kenny Mason, entre outros.