Não são raros os casos em que norte-coreanos desertam para a Coreia do Sul, país com o qual o regime de Pyongyang mantém uma tensão permanente, marcada por provocações quase diárias. Menos comum é ver um alto diplomata norte-coreano a desertar para o vizinho do Sul. Mas foi isso mesmo que aconteceu recentemente, disseram à BBC os serviços secretos sul-coreanos.

O diplomata estava colocado na embaixada norte-coreana em Cuba, um dos poucos países com os quais Pyongyang tem relações diplomáticas — onde trabalhava como conselheiro no departamento dos assuntos políticos da embaixada. Em novembro, desertou para a Coreia do Sul.

O jornal sul-coreano Chosun Ilbo identifica o diplomata. Trata-se de Ri Il Kyu, de 52 anos, que desertou, segundo terá contado o próprio àquele jornal, devido à “desilusão [que sentia] com o regime norte-coreano e um futuro sombrio” no país.

A função de Ri Il Kyu era impedir o estabelecimento de relações diplomáticos entre a Coreia do Sul e Cuba. Contudo, os esforços não parecem ter sido bem sucedidos, uma vez que, em fevereiro, Seul e Havana restabeleceram relações bilaterais.

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Coreia do Sul dedicou cerimónia aos norte-coreanos que desertaram

Há oito anos que um alto responsável sul-coreano não desertava para o vizinho do Sul. O último caso conhecido data de 2016, quando o antigo embaixador da Coreia do Norte no Reino Unido se estabeleceu em território sul-coreano.

Não se sabe se os dois diplomatas participaram, no domingo, no primeiro Dia dos Desertores da Coreia do Norte em Seul. Na cerimónia festiva várias centenas de norte-coreanos — que fugiram do regime opressivo de Kim Yong-un — tocaram tambores, fizeram desfiles de moda e comeram doces, descreve o correspondente da CNN na capital sul-coreana Mike Valerio, na rede social X.

Presente na cerimónia, o Presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, prometeu mais apoio financeiro aos desertores norte-coreanos e incentivos fiscais para as empresas que contratarem cidadãos do país vizinho.

Presidente da Coreia do Sul sugere ataque preventivo contra a Coreia do Norte

O chefe de Estado — um conservador que tem adotado uma postura mais agressiva para com Pyongyang — falou também na necessidade de desenvolver tecnologia para levar a cabo um ataque preventivo contra a Coreia do Norte, caso o país vizinho se prepare para atacar Seul — uma ideia que Suk Yeol já tinha sugerido em 2022.

Coreia do Norte lança mais 350 balões com lixo sobre a Coreia do Sul

Estas palavras do Presidente sul-coreano surgem numa altura em que está a escalar a tensão entre os dois países. Recentemente, Kim Jong Un abandonou formalmente o objetivo da reunificação com a Coreia do Sul e considerou a Coreia do Sul como o “inimigo número um” — uma mudança brusca na postura do Norte, quando há apenas seis anos, o Presidente norte-coreano se encontrou com o homólogo sul-coreano Moon Jae In em Pyongyang.

A Coreia do Norte tem lançado, nas últimas semanas, dezenas de balões com lixo para a Coreia do Sul.