O Bloco de Esquerda (BE) entregou um requerimento no parlamento açoriano a questionar o Governo Regional sobre alegados acordos entre os Açores e Israel, particularmente de cariz militar, envolvendo a Base das Lajes, adiantou esta sexta-feira o partido.

Este requerimento surge na sequência de declarações do embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira, após encontros com o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, com o presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, Luís Garcia, e com outras individualidades locais, explicou o BE.

O embaixador israelita em Portugal, que esteve esta semana nos Açores, defendeu numa entrevista ao jornal Correio dos Açores que Israel e o arquipélago podiam cooperar “nas questões da economia, da tecnologia e na economia azul, uma área que está muito desenvolvida na Universidade dos Açores”.

“E, claro, temos o aeroporto das Lajes, na ilha Terceira, que também é muito importante para nós”, acrescentou o diplomata.

Recordando episódios históricos que ligam o aeroporto na ilha Terceira a Israel, Dor Shapira disse que “há uma ligação muito forte, poder-se-ia chamar laços de sangue, entre as ilhas dos Açores e o Estado de Israel”.

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Esta sexta-feira, o BE pediu ao Governo Regional para esclarecer “o conteúdo da reunião” que teve com o embaixador de Israel e quer ainda saber que “acordos e parcerias existem atualmente ou poderão vir a existir”.

“Quais foram os esforços de mediação diligenciados pelo presidente do Governo relativamente à defesa da paz, dos direitos humanos e de uma solução para a situação atual no Médio Oriente?”, questiona o deputado único do BE no parlamento açoriano, António Lima, no requerimento.

O BE alerta para “a grave situação do Médio Oriente, que se agravou a uma escala sem precedentes nos últimos meses”, cujo fim “não se vislumbra”.

“É importante ter em conta que, hoje, o Tribunal Internacional de Justiça acaba de reconhecer a existência de violações da lei internacional, como ocupação, anexação e restrições do povo palestiniano à autodeterminação, entre outras, e considera que o Estado de Israel tem a obrigação de pôr fim à ocupação tão depressa quanto possível, parar todas as atividades dos colonatos e providenciar reparações ao povo palestiniano, incluindo a devolução de território”, lê-se no comunicado do BE.

Por isso, tendo em conta que “o relatório de uma Comissão de Inquérito da Organização das Nações Unidas publicado a 12 do mês passado, conclui que o Estado de Israel cometeu crimes de guerra no conflito que está em curso, é fundamental perceber se houve, ou poderá vir a haver, algum envolvimento direto ou indireto dos Açores neste conflito”, defende o Bloco.

No requerimento o BE/Açores sublinha que a Região Autónoma dos Açores “deve fazer o que estiver ao seu alcance para contribuir para uma solução de paz e defender os direitos humanos naquela região”.

Por isso, refere o requerimento do Bloco, “qualquer aprofundar de relação com o Estado de Israel põe em causa este posicionamento, o que sai agravado se a colaboração tiver cariz militar, como pressupõe o interesse demonstrado pela Base das Lajes”, na ilha Terceira.