O deputado único da Iniciativa Liberal (IL) no parlamento da Madeira, Nuno Morna, entregou esta sexta-feira um voto de protesto contra as “pressões e restrições” aos jornalistas na cobertura do incêndio que lavra há 10 dias na ilha da Madeira.

A IL fundamenta a iniciativa na denúncia feita na quinta-feira pela delegação da Madeira do Sindicato dos Jornalistas (SJ), apontando a existência de um “clima de pressões e restrições” na atividade dos profissionais envolvidos na cobertura do fogo rural.

Em comunicado, o partido apresenta o texto do voto de protesto, no qual exige que as autoridades regionais e as forças de segurança “respeitem escrupulosamente o direito à informação e o livre exercício da atividade jornalística, garantindo que os jornalistas possam desempenhar as suas funções sem quaisquer impedimentos ou pressões indevidas”.

O partido reafirma a sua “solidariedade com todos os profissionais da comunicação”, sublinhando o seu “brio e profissionalismo” no exercício da atividade e, por outro lado, apela ao Governo Regional, liderado pelo social-democrata Miguel Albuquerque, para que “assegure que tais situações não se voltem a repetir” e tome as “medidas necessárias para proteger a liberdade de imprensa e o exercício livre e independente da profissão de jornalista” na região autónoma.

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Num outro comunicado divulgado esta sexta-feira, a Iniciativa Liberal classificou como “alarmante” o que considera ser a “persistente desinformação promovida pelo Governo Regional” em relação ao incêndio.

“Para os liberais, não é aceitável que Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, e Eduardo Jesus, secretário regional de Economia, Turismo e Cultura, continuem a desvalorizar a gravidade dos incêndios e o seu impacto económico. Estes eventos têm gerado uma onda de cancelamentos que afeta severamente o setor do turismo, impactando desde o alojamento até às empresas de animação turística, restaurantes, rent-a-car e comércio local”, refere a nota.

A IL exige, por isso, uma “avaliação mais precisa e transparente” dos efeitos do fogo na economia da região, sublinhando que “a discrepância entre as declarações oficiais e a realidade no terreno não pode ser ignorada”.

“É crucial que Miguel Albuquerque e Eduardo Jesus reconheçam os potenciais impactos na economia da Madeira e atuem antes que o desprezo pelos sinais evidentes cause ainda mais danos irreversíveis. A preservação da imagem turística da ilha e a proteção da sua economia dependem de uma comunicação clara e responsável”, lê-se no comunicado.

Na quinta-feira, o PAN e o JPP também repudiaram as tentativas de violação da liberdade de informação na cobertura jornalística do incêndio que lavra na Madeira.

O SJ exemplificou a denúncia com a informação divulgada na quarta-feira pelo DN/Madeira sobre o envio dos dois aviões Canadair para as operações e com a “dualidade de critérios” na passagem de zonas encerradas.

“Após a publicação da notícia, fontes do Governo Regional apressaram-se a desmentir a informação numa tentativa de ‘assassinato profissional’, como refere o diretor [do DN/Madeira], Ricardo Miguel Oliveira. Duas horas depois, é o próprio Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional, a confirmar a vinda dos dois meios aéreos para a Madeira”, referiu a estrutura representativa.

“Permitiram um deputado do JPP circular, em ação de campanha, e impediram os jornalistas de passar para exercer a sua atividade: informar”, condenou ainda.

O JPP, no entanto, reagiu acusando o sindicato de ter “cometido o erro de desinformar a população sobre o exercício dos deveres e direitos dos deputados”.

Também na quinta-feira, questionado sobre a denúncia do SJ, Miguel Albuquerque alegou que não se podem “anunciar decisões sem elas estarem concretizadas”.

O parlamento regional é constituído por 19 deputados do PSD, 11 do PS, nove do JPP, quatro do Chega, dois do CDS-PP, um da IL e um do PAN.

O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou no dia 14 de agosto, nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e, através do Pico Ruivo, Santana. Mais de 5.000 hectares arderam até cerca das 12:00 de quinta-feira.