França já tem novo governo. Manuel Valls escolheu Emmanuel Macron, um dos seus mais próximos conselheiros para o cargo mais importante nesta remodelação, o de ministro da Economia (que também vai supervisionar a Indústria e o mercado digital). Já Najat Vallaud Belkacem, até agora ministra da Igualdade, torna-se ministra da Educação – a primeira mulher na história de França a ocupar este posto. É um governo leal, para fazer cumprir os planos económicos e as reformas financeiras de Hollande para os próximos anos.

No governo ficam pesos pesados como Laurent Fabius, ministro dos Negócios Estrangeiros, Michel Sapin, ministro das Finanças e Jean-Yves Le Drian na Defesa. É um governo com paridade perfeita, com oito mulheres e oito homens.

Emmanuel Macron foi um dos maiores arquitetos da atual política prosseguida pelo Presidente francês e pelo primeiro-ministro, e apesar de ser uma escolha inusitada – Macron não tem experiência governativa -, a sua figura para substituir o crítico Arnaud Montebourg não surpreende, já que se procurava uma figura que concordasse com as suas medidas. Assim, a austeridade e o rigor orçamental são para manter pelo menos até Hollande sair do Eliseu.

Para além de Macron, também Patrick Kanner chega ao governo, sendo o novo ministro da Juventude e do Desporto. Há ainda quatro novos secretários de Estado que entram neste novo governo.

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Macron é a salvação ou o fim de Hollande

Limpar a ala mais à esquerda do seu governo, pode ser uma manobra perigosa para Valls e Hollande. Como sempre, se correr bem pode significar a reeleição em 2017, se correr mal, o Presidente pode contar com a ira do seu partido que lhe virará as costas quando ele mais precisar.

A afirmação de poder de Hollande foi clara na segunda-feira quando disse a Valls que ele estava à vontade para procurar novos ministros que estivessem “em sintonia com as orientações que ele definiu para o país” após Arnaud Montebourg e Benoît Hamon, então ministros da Economia e da Educação, criticarem publicamente no domingo o plano de recuperação financeira do país e a linha de austeridade defendida por Angela Merkel.

A resposta foi uma remodelação e Macron. O resultado é imprevisível. Juntamente com Michel Sapin, o novo ministro da Economia foi um dos responsáveis pelo programa de governo de Hollande e uma das pessoas que sustentou a implementação de um plano de austeridade no país. Antes de ser conselheiro do Presidente – e antes disso, do candidato socialista – Macron foi inspetor das Finanças e trabalhou para o banco Rothschild – um banco de investimento privado.

O novo ministro, tal como Valls, é identificado dentro do Partido Socialista como uma ala mais à direita, o que significa, segundo muitos críticos de Hollande, uma viragem no posicionamento do Presidente, não só em relação ao país, mas também à sua presença na Europa, cedendo à pressão da austeridade vinda da Alemanha. Para o socialista, que tem um espírito conciliador, esta decisão ode vir tarde demais, com a ameaça da recessão francesa à porta e a necessidade de apresentar resultados num curto espaço de tempo.

Quem saiu e quem não aceitou entrar

Fora do executivo por vontade própria ficaram os membros mais críticos do governo e que originaram através do seu desacordo público a demissão de Manuel Valls. Assim, Arnaud Montebourg, Benoît HamonAurélie Filippetti, que anunciaram durante o dia de ontem não pretenderem integrar um novo executivo. Já esta terça-feira Frédéric Cuvillier anunciou que não seria reconduzido como Secretário de Estados dos Transportes, por vontade própria.

Na procura de uma nova equipa, houve outras recusas dentro do próprio Partido Socialista com François Lamy, ex-ministro e uma das figuras mais próximas da arqui-rival de Hollande, Martine Aubry, a admitir que tinha sido convidado por Valls e não tinha aceitado o seu convite.

Apesar de se ter falado num possível regresso, também os Verdes – que abandonaram o executivo em março, com a chegada de Manuel Valls à chefia da equipa governamental – ficam de fora deste novo governo por considerarem que “não há condições” para voltarem a integrar uma coligação com os socialistas. Foi mesmo Jean-Vincent Placé, líder dos Verdes, que anunciou esta recusa.

Outra das recusas foi a de Jean-Michel Baylet, presidente do Partido Radical de Esquerda, que retirou o apoio ao governo, deixando em aberto a participação de membros do seu partido neste novo executivo. Já Robert Hue, líder do Movimento Unitário Progressista (MUP) veio assegurar que o seu partido não ia entrar no executivo Valls II já que “a linha política proposta por este novo governo e a sua composição” não têm “uma natureza” que permita o apoio do seu partido.