Se anda frequentemente de avião sabe qual é a sensação de não ter espaço suficiente para as pernas e querer reclinar as costas do assento para aliviar a posição pouco confortável. O que faz nessas situações? Pede permissão ao passageiro do lugar de trás ou recosta diretamente o banco sem negociação? A discussão pode parecer absurda, mas já levou ao caso extremo de uma aterragem de emergência para resfriar os ânimos. E tudo por causa de um novo acessório de viagem que está a dar que falar: um protetor de joelhos, que impede precisamente que o vizinho da frente consiga reclinar as costas do assento.

O insólito aconteceu esta semana, quando um voo doméstico dos EUA, que fazia a rota de Nova Jérsia para Denver, no Colorado, foi obrigado a desviar e fazer uma aterragem de última hora para deixar em terra dois passageiros que tinham estado envolvidos numa discussão acesa por causa do uso do protetor de joelhos.

O Knee Defender (protetor de joelhos) é um aparelho de pequenas dimensões (“tão pequeno como uma chave”), que custa, segundo o portal Mashable, 21,95 dólares (pouco mais de 16 euros). Se o levar consigo quando viajar, pode aplicá-lo na dobradiça do ‘tabuleiro’ do seu assento – ou seja, nas costas do assento do passageiro da frente – e impossibilitar a pessoa de acionar o sistema de encosto.

O vídeo explica o mecanismo:

Os dois passageiros envolvidos na disputa não foram identificados mas sabe-se que eram um homem e uma mulher ambos com 48 anos de idade. O homem, que estava sentado num dos indesejados lugares do meio, do voo 1462 da United Airlines, colocou o aparelho nas costas do banco da frente para poder trabalhar no seu computador portátil sem ser incomodado pelo vizinho da frente.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quando se apercebeu de que estava impedida de reclinar o assento, a mulher indignou-se com a situação, o que levou a assistente de bordo a pedir ao indivíduo para retirar o aparelho. Nada feito, e a discussão chegou ao ponto de a mulher entornar um copo de água para cima do passageiro.

Foi a gota de água, que levou à decisão extrema da companhia aérea de desviar a rota para Chicago e aterrar no aeroporto internacional. Os dois passageiros foram impedidos de seguir viagem naquele voo para Denver. O caso insólito acendeu o debate em torno do uso do dispositivo.

“A minha liberdade acaba quando começa a liberdade dos outros”

A velha máxima que se aprende na escola não parece muito consensual no que ao mundo dos assentos de avião diz respeito. A guerra vai-se fazendo (se não dentro dos próprios aviões) nas redes sociais, com a troca de argumentos entre as pessoas altas e as pessoas baixas, os que sentem necessidade de se recostar no assento e os que se sentem incomodados quando o fazem. Quem vence? É o que resta saber.

https://twitter.com/LorenAdler/status/504654855995400192

Há de tudo. Quem argumente sobre o facto de ser muito alto, apontando o dedo às companhias aéreas por não preverem um maior espaço para as pernas, e quem diga que ninguém devia incomodar ninguém ao usar a possibilidade de inclinar o assento.

https://twitter.com/divinemadness/statuses/504390672271814658

https://twitter.com/LorenAdler/status/504655072295669762

A verdade é que, nos EUA, a distância padrão entre assentos nos aviões diminuiu de 33 a 34 polegadas para 31 polegadas, o equivalente a cerca de 79 centímetros, mas as companhias aéreas dizem ter tentado colmatar isso com o uso de assentos mais finos para não se sentir tanto a redução do espaço para as pernas. Por cá, nos voos de médio curso da TAP, a distância entre assentos vai desde as 30 polegadas (pouco mais de 76 centímetros), em classe Económica, podendo ir até às 58 polegadas (147 centímetros) na classe Executiva dos voos de longo curso.

Segundo a Mashable, a Administração Federal de Aviação afirma que cabe a cada companhia aérea regulamentar o uso do dispositivo, e a United Airlines, assim como a maior parte das grandes companhias norte-americanas, já se posicionou contra o uso do ‘protetor de joelhos’.

A TAP é mais cautelosa e, afirmando ao Observador que não tem conhecimento do uso destes dispositivos nos aviões da companhia aérea nacional, preferia apostar num aumento do espaço entre bancos do que numa tomada de posição entre uns e outros. “Se esses aparelhos começarem a surgir tem de haver regulamentação”, diz António Monteiro, do gabinete de comunicação da TAP, ao Observador.

Mas enquanto isso, o debate promete continuar…