Barack Obama já afirmou diversas vezes ao longo deste ano que é preciso restringir o acesso legal às armas. Disse-o em junho, em São Francisco, dois dias depois de um jovem de 21 anos ter morto a tiro nove pessoas numa igreja em Charleston, na Carolina do Sul. Disse-o dia 1 de setembro, depois de um jovem de 20 anos ter causado a morte de nove pessoas em Oregon, num tiroteio. E disse-o em novembro, na sequência de um tiroteio em Colorado Springs, que vitimou mortalmente três pessoas:

Temos que fazer alguma coisa sobre o fácil acesso a armas de guerra nas nossas ruas para pessoas que não têm nada que empunhá-las. Ponto. Já chega!

Esta quarta-feira, o presidente norte-americano voltou a insistir no mesmo e pediu que todos os norte-americanos, incluindo os legisladores, “reflitam no que podem fazer para que, quando as pessoas decidem que querem atacar alguém, lhes tornemos a missão um pouco mais difícil. Porque, neste momento, é pura e simplesmente demasiado fácil”. Mas quantos tiroteios foram feitos este ano com armas compradas legalmente pelos atiradores? Segundo o jornal The New York Times, cinco. Conheça os casos:

1 – Tiroteio em San Bernardino, 2 de dezembro de 2015

O tiroteio mais recente onde foram utilizadas armas legalmente adquiridas ocorreu esta quarta-feira. Syed Rizwan Farook e Tashfeen Malik, um casal de 27 e 28 anos (respetivamente), mataram 14 pessoas em San Bernardino (Califórnia). Segundo a publicação norte-americana, foram usadas quatro armas no ataque: uma espingarda de assalto Smith & Wesson M&P, uma pistola Smith & Wesson, uma espingarda de assalto DPMS Panther Arms, e uma pistola Llama.

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O FBI já sabe que Syed Farook já tinha estado em contacto com extremistas islâmicos, através de telefone e das redes sociais. E a CNN avançou que foi descoberta uma publicação de Tashfeen Malik, no Facebook, em que jura fidelidade ao Estado Islâmico e glorifica o grupo terrorista.

As quatro armas usadas pelo casal no ataque de San Bernardino foram compradas legalmente, através de uma terceira pessoa que não é considerada suspeita, relatam as autoridades. Segundo o Los Angeles Times, as armas foram compradas na loja de armas Annie’s get your gun, na cidade de Corona (Califórnia).

2 – Tiroteio em Oregon, 1 de outubro de 2015

O segundo caso mais recente foi o de um tiroteio na Universidade de Umpqua, em Oregon, levado a cabo por um estudante de 20 anos. Segundo a agência de notícias Associated Press, o atirador, Christopher Harper-Mercer, estava armado com seis armas de fogo, incluindo três pistolas (uma Glock, uma Smith & Wesson e uma Taurus) e uma espingarda de assalto Del-Ton, que usou para assassinar nove pessoas.

O homem tinha um passado conturbado: esteve no exército norte-americano, mas apenas durante um mês, e foi dispensado antes de completar sequer o treino básico de soldado. Licenciou-se no Centro Educativo Switzer, na cidade de Torrance (Califórnia), um centro para estudantes com problemas de aprendizagem e problemas emocionais.

Ainda assim, possuía um arsenal de 14 armas de fogo, todas compradas legalmente através de um vendedor de armas de fogo, que tinha licença para as vender, segundo um agente federal norte-americano, citado pelo The New York Times. Umas foram compradas por ele próprio, outras por membros da sua família.

3 – Tiroteio em Roanoke, 26 de agosto de 2015

Entre 17 de junho e 26 de agosto ocorreram três tiroteios feitos com armas legalmente adquiridas. O último aconteceu na cidade de Roanoke, no estado de Virginia. O autor foi Vester Lee Flanagan II, um homem de 41 anos. Matou uma jornalista e um fotojornalista da estação local de televisão, WDBJ, com um revólver Glock, enquanto estes estavam num direto.

Vester Lee Flanagan era um ex-jornalista da estação, que fora dispensado em 2003, por má conduta profissional: os seus superiores alegaram que usava uma linguagem abusiva e que evidenciava um comportamento agressivo.

Segundo avançaram as autoridades federais norte-americanas, citadas pelo jornal The New York Times, o atirador havia adquirido a arma legalmente, a um vendedor credenciado. Não tinha cadastro criminal e nunca fora considerado mentalmente incapaz.

4 – Tiroteio em Louisiana, 23 de julho de 2015

No dia 23 de julho deste ano, John R. Houser, de 59 anos, entrou numa sala de cinema na cidade de Lafayette (Louisiana) e abriu fogo sobre a audiência. Matou duas pessoas e feriu outras nove, utilizando uma pistola semiautomática, de calibre 40 mm.

A dado momento, foi-lhe negada a licença de porte de armas, devido ao seu passado criminal: já havia sido acusado de violência doméstica e de ter ordenado fogo posto. Um juiz decidiu mesmo enviá-lo para um hospital psiquiátrico.

Ainda assim, viria mais a tarde a adquirir uma pistola numa loja de penhores. Segundo as autoridades norte-americanas, tratava-se de um posto legal de venda de armas.

5 – Tiroteio em Charleston, 17 de junho de 2015

O primeiro tiroteio ocorrido em 2015 com armas legalmente compradas ocorreu a 17 de junho, em Charleston (Carolina do Sul). Foi feito por um jovem de 21 anos, Dylann Roof, que matou nove pessoas com uma pistola Glock, de calibre 45 mm, numa igreja afro-americana na localidade.

O atirador já tinha sido condenado pela posse de Suboxone, um medicamento que apenas pode ser adquirido com receita médica, mas que é frequentemente vendido de forma ilegal nas ruas do país.

Apesar disso, em abril deste ano, viria a comprar uma pistola numa loja de armas credenciada, na cidade de West Columbia (Carolina do Sul): a mesma que utilizaria em junho, em Charleston. Segundo a publicação, o responsável pela verificação do seu passado criminal, um elemento do FBI, não chegou a ler o relatório policial desse delito, cometido em fevereiro, e Dylann Roof pôde comprar a arma que acabou por utilizar no ataque.