O produto interno bruto (PIB) do Japão desceu 1,6% nos três meses até setembro, marcando o segundo trimestre consecutivo de contração e a entrada da terceira maior economia do Mundo em recessão técnica. A contração do PIB no terceiro trimestre, mais grave do que as projeções dos economistas mais pessimistas, faz temer que o aumento do imposto sobre as vendas – em abril – tenha sido mais penalizador para a economia do que o previsto. O que cria dúvidas sobre a eficácia do pacote de estímulos orçamentais e monetários lançados pelo governo de Shinzo Abe, o pacote conhecido como “Abenomics”.
A queda de 2,96% na bolsa de Tóquio nesta segunda-feira espelha os receios dos investidores em relação à economia japonesa. Os economistas apontavam para que o PIB tivesse subido 2,2% no terceiro trimestre, mas o resultado acabou por ser uma contração de 1,6%.
“O Japão está em recessão, a economia foi empurrada para a recessão pelo aumento do imposto sobre as vendas”, uma espécie de IVA, considera Jesper Koll, um analista da JPMorgan Chase em entrevista à Bloomberg. Citado pela mesma agência, Yoshiki Shinke, economista do Dai-ichi Life Research Institute, diz que “o aumento do imposto sobre as vendas destruiu completamente a economia japonesa, não há setor nenhum da economia onde identifique tendências positivas”.
O primeiro-ministro Shinzo Abe está desde 2012 a executar um plano de estímulos que ficou conhecido por “Abenomics”. O plano assenta em três pilares, ou “setas”: estímulos orçamentais, expansão monetária (por parte do banco central) e reformas estruturais. O objetivo deste programa, que alguns economistas chamaram “tudo ou nada”, é lançar uma estratégia agressiva de investimento para tirar a economia japonesa do marasmo que durava há duas décadas, com crescimento baixo e deflação.
Depois dos estímulos, o governo decidiu tomar uma medida de reequilíbrio orçamental com o aumento do imposto sobre as vendas de 5% para 8%, em abril. Ao mesmo tempo, foi aprovado mais um pacote de estímulos orçamentais de 5,5 biliões de ienes. Mas esse investimento adicional não está, por sinal, a compensar o efeito do aumento do imposto sobre as vendas. Os indicadores de confiança de empresas e famílias desceram de forma acentuada nos últimos meses.
A quebra no PIB pode indicar que o governo irá adiar a segunda subida do imposto, para 10%, prevista para 2015. A imprensa japonesa diz que Shinzo Abe está a ponderar adiar essa subida do imposto para 2017, mas esta decisão poderá implicar um cenário de eleições antecipadas para revalidar a confiança no governo e nas políticas de Shinzo Abe.