Casca de arroz, ardósia e cortiça foram os materiais escolhidos para a construção de três presépios à escala humana que estão a marcar o Natal de Couce, Ul e Porto Carvoeiro, três espaços nortenhos classificados como Aldeias de Portugal.

A iniciativa partiu da Associação de Desenvolvimento Rural Integrado das Terras de Santa Maria (ADRITEM), que decidiu estender a programação do projeto “Há Festa na Aldeia” também à época natalícia, envolvendo as comunidades de três aldeias na construção de presépios com materiais autóctones.

“A ideia passa por fazer com que haja atratividade ao próprio sítio. E o uso destes materiais e a visualização das peças tem desencadeado visitas às comunidades e empresas locais que cederam os materiais”, disse à agência Lusa, Cláudia Araújo, da ADRITEM.

Em Couce, concelho de Valongo, foram usadas 200 peças de ardósia, tendo a organização registado a participação de dez pessoas entre moradores da aldeia a parceiros de organizações locais.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já em Ul, Oliveira de Azeméis, foram usados por 14 pessoas 60 quilos de casca de arroz, num “casamento perfeito” entre este material e o vidro, uma vez que este concelho do distrito de Aveiro é conhecido por ser um “centro vidreiro”, conforme referiu a ADRITEM.

Enquanto em Porto Carvoeiro, Santa Maria da Feira, desde “jovens até pessoas de mais idade muito ligados às atividades piscatórias” fizeram um em cortiça que precisou de 12 metros quadrados deste material ao que se somaram 310 “escamas” também de cortiça. O efeito pretendido resultou numa “instalação” que atualmente está a “boiar” no rio Douro.

“A ondulação faz com o presépio seja lindíssimo e apresente várias perspetivas”, descreveu Cláudia Araújo. Uma opinião partilhada pelo artista Bruno Capucho que orientou as aulas nas comunidades: “O objetivo foi conseguido. Desenvolveu-se uma técnica plástica e as comunidades aderiram ainda que de forma diferente porque os perfis das várias aldeias são diferentes”, disse.

Eva Almeida, moradora de Couce, reforça a ideia de que a identidade de cada aldeia é “diferente”. Gostou da atividade, à qual emprestou mesmo o pátio de sua casa, mas “gostaria ainda mais se mais vizinhos participassem”.

Em porto Carvoeiro, Celso Bento, de 40 anos, aprendeu a usar a cortiça junto de poucos jovens “porque quem é jovem foi deixando a aldeia”, vendo esta iniciativa da ADRITEM, dos três municípios e das juntas de freguesia local como “essencial” para “manter raízes”. Por sua vez, Isabel Quintela, em Ul, onde o presépio está exposto no Parque Molinológico, destacou os frutos que aprender novas técnicas já lhe trouxeram: “Já me perguntaram se podia fazer novas peças com estes materiais e até já me pediram para ensinar, portanto balanço? Muito bom”, referiu.

Este relato confirma o objetivo de Bruno Capucho que, à Lusa, falou na “importância” de através da arte e do uso de materiais típicos as comunidades das aldeias “conseguirem criar economia própria”. “Com a presença continuada nas comunidades ao longo do ano, procuramos que as iniciativas sejam transversais às várias aldeias, procurando esse tal reforço na economia”, completou a responsável da ADRITEM.

A exposição destes presépios à escala humana, bem como de réplicas em tamanho mais reduzido estão patentes nos três concelhos até 06 de janeiro.