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O vaivém entre a cidade e o campo trouxe flores à ModaLisboa, que também viu desfilar padrões pixelizados e um cão-herói

Este artigo tem mais de 2 anos

A pandemia provocou uma necessidade de respirar o ar do campo, que Luís Carvalho trouxe para a passerelle. Ana Duarte inspirou-se no seu cão e Ricardo Andrez decidiu transpor o digital para o físico.

44 fotos

A pandemia confinou-nos ao mundo digital e às quatro paredes de casa, deixando poucas alternativas de experiências além destas. E há quem reflita sobre esses tempos, sobre este último ano e meio, sobre as mazelas e os desejos de um regresso eufórico que ficaram  marcados. Neste terceiro dia de ModaLisboa, essas mesmas reflexões viajaram até à passerelle com os novos bordados de Constança Entrudo, com o digital impresso no palpável de Ricardo Andrez e com a dualidade entre a cidade e o campo de Luís Carvalho, que trouxe flores, senhores.

Com as caras cobertas de flores naturais, como se de um canteiro se tratasse, os manequins entraram naquela sala do Capitólio a um ritmo acelerado de cidade, mas com o campo ilustrado atrás no grande ecrã da sala. Foi com estes dois mundos paralelos que Luís Carvalho decidiu trabalhar para fazer nascer o seu verão de 2022. Em “Ride”, o designer criou um conceito à volta desta viagem entre o campo e a cidade, que aqui não estão de costas voltadas a representar os opostos que são, mas sim de mãos dadas e de provas dadas de que é possível unir estes dois mundos.

“É um bocadinho sobre esta questão da pandemia e do vaivém entre a cidade e o campo. Pensei no facto de a pandemia ter confinado as pessoas, que agora querem sair e voltar a respirar, até porque estamos sempre com as máscaras e é cansativo”, explica Luís Carvalho. “Tentei criar aqui uma ideia de libertação, de voltarmos a ser livres, unindo numa coleção um estilo mais descontraído do campo com o sofisticado da cidade.

O detalhe dos blazers da coleção "Ride" de Luís Carvalho

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

A cidade e o campo unem-se no conceito e unem-se de forma muito tangível na dita coleção inspirada nas silhuetas dos anos 50 ali a oscilar entre as peças oversize e em formato ampulheta.

Pelo meio das inspirações campestres, o designer optou por introduzir algumas peças com tecidos mais delicados — saltaram à vista os vestidos e as camisas metalizadas —, já como imagem de marca de Luís Carvalho. “É um bocado a essência das minhas coleções, isso de ter um casamento entre peças mais glamourosas e de festa e ao mesmo tempo ter outras peças mais descontraídas e que consegues usar nas duas situações, mas com um styling diferente”, admite, explicando que em “Ride” usou sobretudo linhos, algodões, crepes de seda, jacquards e padrões de xadrez. As saias de cintura subida e rodadas e os decotes retos marcam grande parte da coleção, onde também aparecem vários coordenados de calça ou calção e blazer, com detalhes de laçadas na lapela.

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A paleta principal da coleção também foi beber aos tons do campo: o amarelo girassol, o lilás, o roxo, apesar de Luís as ter equilibrado com o preto e o branco para fazer referência “à tal vertente urbana”.

O regresso à dita normalidade espelhado nesta coleção era também muito ansiado pelo criador, que não goza do mesmo espírito criativo nem da receção às suas coleções quando as teve de apresentar online. “Regressar é uma sensação incrível. É assim que faz sentido apresentar coleções, com público, porque é importante sentir o valor das pessoas e, mesmo para elas, é muito melhor porque conseguem perceber de perto a história que estamos ali a contar”, confessa. “No digital perdem-se muito os detalhes. A última edição foi muito triste, porque senti que tive uma coleção que vivia muito mais se tivesse sido apresentada ao vivo, até pelos materiais. Tive até algumas pessoas que me disseram que nem conheciam bem a coleção porque ela só foi lançada digitalmente.”

Teremos sempre Paris…e Lisboa

À semelhança do que aconteceu em Paris na semana passada, onde Constança Entrudo já tinha apresentado a sua coleção no calendário oficial da Semana da Moda da capital francesa, também aqui a designer dispôs as suas criações num formato de happening. Com uma estrutura esverdeada montada ao fundo da sala de espetáculos do Capitólio, Constança colocava os modelos vestidos com os seus coordenados no respetivo lugar — uns deitados no chão junto aos leds, outros em pé e outros do lado de trás a espreitar nas janelas recortadas dessa mesma estrutura. “Tu ficas aqui mais à frente e vais virando o corpo com a música. Tu ficas lá atrás e vais espreitando”, apontava Constança. Tudo isto se ia compondo antes de a sala se começar a encher com olhares curiosos e sedentos de pôr os olhos em cima da coleção colorida.

Para o verão de 2022, Constança Entrudo quis explorar a relação entre a palavra escrita e a forma visual, inspirando-se num livro de poemas visuais para criar esta instalação artística cheia de camadas e interpretações. Saltam à vista os rosas, o azul, os verdes e laranjas, em tonalidades mais garridas que o que costuma apresentar, e foram precisamente as cores o ponto de partida da coleção repleta de coordenados assimétricos e detalhes como missangas e fios entrançados no cabelo. “As letras, as frases e as palavras trouxeram-me esta ideia de labirinto e de ilusão, depois o facto de o livro ser a preto e branco foi interessante, pois deu-me carta branca para explorar materiais e combinações de cor”, explicou a designer ao Observador na sua apresentação em Paris.

Os efeitos da pandemia, o público na sala e a moda de autor. Constança Entrudo, Maria Carlos Baptista e Ricardo Andrez em Paris

“Antes da coleção anterior era avessa ao bordado, associava a algo antigo e só para mulheres, para mim era uma coisa muito segmentada. Estar em contacto com as pessoas que fazem bordado fez-me ver a técnica de outra forma, sem aquele peso histórico, e a desmistifica-la. Acho que agora vou continuar a explorar o bordado”, disse ainda, tendo sido até aqui a tecelagem fora do tear a sua técnica de eleição.

A sua identidade passa, precisamente, pelo trabalho minucioso e quase único com que trabalha o têxtil. “Fico entediada muito facilmente e estou sempre a procurar novas soluções e estímulos, mas a pandemia veio forçar-me a ficar nesse estado aborrecida e daí saíram coisas super interessantes”, referiu ainda em Paris sobre o período pandémico e como isso afetou a sua criação que culminou no regresso às apresentações físicas.

A fazer companhia a Constança em Paris esteve também Ricardo Andrez, fruto do acordo entre a ModaLisboa e o Portugal Fashion. Em Lisboa, este sábado, o designer trouxe o universo digital para o mundo físico e agora também muito palpável, finalmente — uma ironia.

Um dos tecidos de Ricardo Andrez a fazer lembrar uma imagem pixelizada

A coleção chegou à passerelle lisboeta cheia de referências óbvias daquilo que conhecemos dos processos e meios de digitalização como os padrões gráficos — mesmo a mimicar ecrãs e imagens pixelizadas —, QR codes em tamanho considerável a adornar casados e calças e acabou até por explorar um tecido especial que assume diferentes cores consoante a temperatura corporal de quem os enverga. As peças fluídas e mais desportivas encaixavam que nem puzzle nas mais estruturadas, como os blazers ou as camisas oversized. “É uma coleção que se relaciona com o hiper-realismo que vivemos hoje no mundo digital e tecnológico. A pandemia veio reforçar e acelerar tudo isso”, explicou em Paris ao Observador.

Ricardo também já tinha confessado que a preocupação na escolha dos materiais é cada vez maior, e nesta o algodão orgânico foi a matéria nobre escolhida para muitas das peças chave, numa coleção feita a partir de deadstock.

O árvore da vida de Carlos Gil, a fluidez de Ricardo Preto e o cão-herói de Duarte

Union, Respect, Equality, Life e Society foram algumas das palavras de manifesto de Carlos Gil na sua apresentação este sábado na ModaLisboa. Coladas em malas ou presas por correntes, estas palavras deram o mote para uma coleção que se quis cheia de peças frescas e esvoaçantes — bastou entrar a primeira, um kimono comprido envergado pela modelo Sharam Diniz, para perceber o caminho que o criador queria levar a sua mulher cosmopolita e desprendida. Em “Life”, as cores foram constantes, apesar da presença constante e já habitual do preto como pedra basilar da coleção — vieram os azuis, os rosas e os verdes, muitos verdes.

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

Carlos Gil escolheu um print que esteve presente em quase toda a coleção, com riscas pretas, verdes e rosa e com uma árvore desfolhada impressa nele, que representa “o pensamento no equilíbrio da natureza”. Os cortes e silhuetas elegantes foram variando entre peças mais desportivas como calções e bombers de lantejoulas e os habituais fatos, ainda que com uma leveza veranil, sem formas demasiado estruturadas.

Ainda durante a tarde de sábado, e na hora de lançar para a passerelle os modelitos de verão, Ricardo Preto não falha na hora de tornar as peças o mais vestíveis possível. No verão “Sommersault” de 2022, o designer apostou numa paleta de cores mais vibrante como os rosas, lilases, amarelos, azuis, vermelhos e fúchsias com uma coleção que tanto apresentava formas mais fluídas com cetins e sedas, como mais estruturadas com vários vestidos-camiseiro, por exemplo. As popelines, denim e o twill foram outros materiais em destaque. A gabardina foi uma das peças centrais da coleção, que apareceu na sua forma mais tradicional e até transformada num vestido, com as suas formas invertidas.

Várias criações eram complementadas com amarras coloridas e tecidos desfiados, criando um drapeado em algumas peças. Os sapatos rasos de malha são da sua autoria, adornados com berloques brilhantes que contrastam com a simplicidade dos looks. A juntar a isso, estiveram também as malas e os chapéus panamás coloridos assinados por si.

Ricardo Preto (à esquerda) e Duarte (à direita)

MELISSA VIEIRA/ OBSERVADOR

E minutos antes de Ricardo Preto, foi tempo de Duarte. Se começarmos pelo ato final do desfile, aquele em que o criador entra pela passerelle para receber o aplauso do público, pudemos ver a real peça chave desta coleção: o cão de Ana Duarte, o pequeno Tadao. É o fiel companheiro da designer que deu o mote para esta coleção assumindo-se como o “Guardião do Mundo e combate os problemas ambientais criados pelo homem”.

Como já vem sendo habitual no registo da designer a estética desportiva serve de alicerce aos coordenados, aqui marcados por estampados fortes de selvas de betão, que é como quem diz grandes cidades, é nelas que se refletem de forma mais veemente os problemas ambientais que Ana quer pôr o seu cão a combater. São eles: o Homem Smog (poluição do ar), o Homem Fogo (alterações climáticas), o Homem Desflorestação (destruição das florestas) e o Homem Onda (excesso de consumo de água).

As peças são maioritariamente unissexo com cores vívidas — como o vermelho, laranja, azuis e pretos — e os dad shoes a marcar o passo. Calças de nylon, calções, camisolas e casacos com capuz e até coordenados de ganga desportiva foram uma constante.

 
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