Sentado no canto de um sofá do Parlamento, Pedro Nuno Santos vai sonhando com o dia em que bate o Presidente da República no campeonato das selfies. Sabe que já vai com uns anos de atraso, mas por estes dias de salas de comício cheias e de solicitações em catadupa é difícil contrariar as suas elevadas expectativas sobre o que quer que seja. O ex-ministro vai desfiando, sobre as selfies, quem as pede e chega à sua conclusão: “Antes pediam muito pouco, mas também tive, sobretudo de malta mais nova. Agora não, são todas as faixas etárias…. Nós vamos ganhar as eleições no dia 10 de março… Eh pá, o que é que querem? É verdade!” No meio da megalomania quase parece esquecer que, para lá chegar, tem de passar a prova interna de sábado. Mas ninguém lhe diga que pode ser de outra maneira.
A três dias das diretas do PS, onde defronta José Luís Carneiro e Daniel Adrião, não teme que o partido que sempre teve em lume brando durante os últimos anos lhe falhe. Passa pela cabeça que possa correr mal? “Não”. E não, não teve “nenhuma desilusão nem nenhuma surpresa” nestas últimas três semanas. Não, não e não. E sim, foi “imediato” na decisão de avançar mal soube que António Costa ia sair de cena. “Quando se dá a demissão, foi imediato”, conta ao Observador. “O partido começou logo a mexer-se”, garante.
Cultiva a imagem de destemido e é frequente ouvi-lo disparar que não tem medo de nada, quase com a mesma impetuosidade com que decreta que não é impulsivo. Mas foi impossível que não se excedesse naquele domingo, dia 19 de novembro, quando quis responder aos ataques do seu principal adversário por uma única vez e com a intenção inicial de ser contido. Acabou por ir em crescendo: começou a dizer que consigo o PS não seria a “muleta do PSD” e acabou num despique muito direto com José Luís Carneiro. “Deste Governo em concreto, o meu adversário interno tem o apoio de um ministro, eu tenho o apoio de seis ministros. Eu tenho o apoio de mais do que dois terços da bancada parlamentar do PS e da esmagadora maioria das federações. A questão que coloco é: quem é que é herdeiro do quê?”. Menos como se defendia na direção de campanha, mas mais ao estilo natural do candidato.
Despique com Carneiro: “Não há crescendo nenhum, isso é uma construção”
Pedro Nuno engana quando desce, enfiado numa parka azul escura de capuz pendurado, a coxia lateral do Teatro Miguel Franco, em Leiria. A mão direita enfiada no bolso e a esquerda a acenar a uma sala cheia — foi uma constante nesta corrida interna, com o aparelho a mostrar a importância de mantê-lo por perto ao longo dos tempos. Vem meio curvado, encolhido lá no alto do seu mais de metro e oitenta, mas só até encontrar a primeira mão estendida na sua direção. Aí, aperta com a direita, envolve com a esquerda, ou agarra nos ombros as apoiantes enquanto as cumprimenta com dois beijos. Levanta a cabeça e entra em modo campanha total.
[Já saiu: pode ouvir aqui o sexto e último episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode sempre ouvir aqui o quinto episódio e aqui o quarto, o terceiro aqui, o segundo aqui e o primeiro aqui]
Tira a parka e é de fato escuro e camisa branca, sem gravata, que sobe ao palco para acenar à sala ao som do New Age, de Keith Merrill. “É magnético“, garantem na direção de campanha. Ali em cima já não suscita grandes preocupações à sua equipa, vai gerindo o discurso que ele próprio prepara em curtas notas e o mais que têm de lhe garantir é uma garrafa de água pequena sempre à mão, o que nem sempre é fácil, porque os oradores anteriores não percebem que é para o candidato e deixam-na vazia.
Depois há quem seja demasiado voluntarioso, como os militantes de Guimarães, que no fim de semana passado acharam que 33 cl de água não eram suficientes e substituíram a pequena garrafa por uma de litro e meio. Resultado: Pedro Nuno Santos a seco, sem querer virar aquilo tudo a meio da intervenção, e a queixar-se disso mesmo em boa parte do caminho de volta à base — normalmente volta a casa, em Lisboa, mas quando está a Norte aproveita para dormir na casa dos pais, em São João da Madeira.
Nos últimos 25 dias correu todos os distritos e as regiões autónomas. Vangloria-se de ter tido comícios ao nível de campanhas nacionais de legislativas. “A adesão aos comícios foi uma coisa inesperada porque desde a apresentação nunca foi feito um grande esforço de mobilização, foi muito natural”, garante ao Observador. Mas não é assim tão natural. Por trás de cada comício estão vários telefonemas do seu diretor de campanha, para uma articulação com o diretor de campanha local, que na maioria das vezes é o presidente da federação do PS no distrito (afinal, tem 16, em 21, ao seu lado). Mede-se a ambição das salas, garante-se que não ficarão a meia casa, conferem-se preços e só então se dá a naturalidade de que Pedro Nuno fala.
Não gosta de ouvir a ideia do controlo do aparelho e na conversa que teve com o Observador soltou até as críticas ao seu adversário mais direto sobre isso mesmo. “Não sei se tinha cultivado [o partido] há mais tempo do que o meu camarada José Luís Carneiro, que pelos vistos já vinha a preparar-se há muito tempo”. E irrita-se quando ouve dizer que o opositor vai em crescendo. Entra outra vez num despique, agora de salas: “Não há crescendo nenhum, isso é uma construção que não tem nenhuma adesão à realidade do partido. Os sítios onde eu fui estavam cheios e o meu adversário interno teve sempre salas pequenas e com pouca gente”.
E não fica por aqui. “O meu camarada José Luís Carneiro é ministro da Administração Interna, foi secretário-geral adjunto do PS e foi presidente de uma das maiores federações [Porto], era expectável e é expectável que tenha grande apoio interno, mas é uma ilusão de apoio interno. Muitos dos nomes apresentados são militantes que valem o seu voto e não têm o impacto interno de que se foi falando. Temos os militantes connosco”, reclama.
“Eu tive comícios com 1.500 pessoas numa campanha interna! É até com alguma surpresa que oiço leituras do crescendo. Em Guimarães tive mais do que há em alguns… em alguns? Do que na maioria dos comícios nas legislativas da maioria absoluta de 2022″. A descrição, em tom de desgarrada, vai sendo entrecortada com garantias de que estas diretas “não são favas contadas”, mas logo de seguida: “Mais de mil em Matosinhos. Oitocentos em Braga”.
Lista de preços no bolso, depois do trauma
Francisco César diz seguir o mesmo modelo de organização de campanha que foi seguido nas campanhas de António Costa — não é novo nestas águas: dirigiu, ao lado do socialista Duarte Cordeiro, a campanha presidencial de Manuel Alegre em 2011 e as legislativas de António Costa em 2015. Por dia, no seu telemóvel, chovem dezenas e dezenas de notificações dos vários grupos de Whatsapp da candidatura, seja o dos conteúdos e comunicação, seja o da logística, seja o dos deputados apoiantes ou da direção de campanha. Por ali vão circulando avisos, pedidos de informação e também de ajuda.
Pedro Nuno é munido ao minuto de toda a informação e mais alguma, muitas vezes por essa via mais direta. Mas já chegou tarde a lista de preços e outros valores básicos para um candidato que se apresenta como representante do “povo português”. Na entrevista ao Observador foi apanhado em falso, ao vacilar quando a pergunta foi sobre o valor do atual salário mínimo nacional (760 euros). Chutou o de 2024 (820 euros) e já não quis arriscar o valor do Indexante dos Apoios Sociais (480 euros este ano e 510 no próximo). Nesse mesmo dia, no seu staff foram dadas indicações para uma recolha de alguns valores para que isso não voltasse a acontecer.
A lista anda, agora, sempre junto de Pedro Nuno Santos e o episódio ficou gravado na memória do candidato que ainda na última terça-feira foi abordado pela CNN Portugal: “Sabe quem é que faz anos?”. Era o Presidente da República, mas Pedro Nuno hesitou, ainda pensou que era outra coisa e saiu a dizer: “Esta está ao nível daquela do salário mínimo…”
Tinha acabado de sair de um almoço com Rosário Gama, a socialista e presidente da direção da Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados (APRe!), que foi longo, começou às 13h e acabou mais de duas horas depois, num tema de especial combate ao PSD — que definiu como o seu principal adversário desde as internas do PS — que diz não ter “credibilidade” para fazer promessas nesta matéria. O final desse encontro, já à porta do restaurante “Laurentina. O rei do bacalhau”, foi também o momento onde colou aos sociais-democratas outra fragilidade, pela primeira vez: “O PSD não será capaz de governar”. Depois de Luís Montenegro ter dito que não governa se ficar em segundo e não governa com o Chega, o socialista aproveitou para concluir: “Não é credível que venha a ter maioria absoluta, por isso uma vitória do PSD resultará numa ingovernabilidade, numa incapacidade de formar Governo”.
É descrito como incapaz de ser ele a dar conversas por terminadas, “não termina as conversas enquanto não se sente esclarecido”, descreve um membro da equipa mais próxima onde andam admirados com um Pedro Nuno “estranhamente pontual” para o que é seu hábito. Mesmo assim, só esta quarta-feira, teve uma entrevista prevista com um jornal económico para a manhã, que acabou empurrada para a tarde, depois de uma reunião mais longa do que o previsto com a Tendência Sindical socialista, e novamente adiada à tarde, por causa de um almoço que também foi além do que estava programado e um plenário da Assembleia da República em que a a votação atrasou. A entrevista, que nesse dia já seria a terceira, acabou por ir parar à manhã do dia seguinte.
O candidato assume que não queria ter dado tantas entrevistas, mas José Luís Carneiro não perdoou e arrancou em força nesses espaços. “O meu adversário interno estava a dar entrevistas todos os dias e também achei que tinha de dar. Não fazia sentido ter um candidato à liderança a dar uma entrevista e nós não darmos”. Pedro Nuno diz que achou “excessivo”, com dias em que deu “duas a três entrevistas”, “mas foi essa a dinâmica criada”, lamenta. Na restante estratégia não mexeu, mantendo-se irredutível na questão dos debates, que recusou: “Nunca pensei duas vezes. Nunca houve hesitação nenhuma”.
Selfies, família (de adversários também)…
A ambição em chegar, pelo menos, aos calcanhares presidenciais em matéria de selfies não é acaso. A dinâmica percebeu-se logo na tarde em que apresentou a candidatura na sede nacional do partido, quando ficou largos minutos depois da intervenção à mercê dos telemóveis em riste dos militantes ali presentes. A prática seguiu-se no final de cada comício, com o candidato a fazer desesperar motorista e assessores que esperavam para dar o dia por encerrado.
Em média foram quarenta minutos de selfies no final de cada comício, menos tempo no encontro com o departamento das Mulheres Socialistas, mas não menos intenso, com o candidato sempre a interagir com as militantes e a provocar gargalhadas enquanto ia posando para os ecrãs de telemóvel.
“A maior dor de cabeça foi como montar comícios de campanha interna com estrutura de legislativas em três semanas e meia”, conclui Francisco César sobre estes dias. Houve muito pouco tempo para montar esta estrutura, a estrutura de comunicação e ainda organizar o processo eleitoral, enumera o diretor de campanha. Mas o balanço que faz é que compensou, até em Faro, onde estas diretas socialistas têm uma curiosa disputa familiar: o presidente da federação, Luís Graça, está com Pedro Nuno, e a sua mulher, a deputada socialista Jamila Madeira, está com José Luís Carneiro. Mas a candidatura do homem de São João da Madeira saiu a ganhar na família, já que Graça conseguiu levar os sogros e a cunhada, ou seja, os pais e a irmã de Jamila — e tiveram direito a um cumprimento especial do candidato.
É certo que nestes comícios também têm sido apanhados apoiantes do lado oposto. Aconteceu pelo menos em Évora, onde o eurodeputado Carlos Zorrinho estava numa das filas mais à frente mas de mãos nos bolsos, ao contrário dos militantes de punho esquerdo no ar na sala. E em Bragança, Berta Nunes, apoiante de Carneiro, também quis passar na sessão de Pedro Nuno Santos num ato de cortesia.
Depois houve ainda aquele comício da JS, onde Pedro Nuno contou com dois apoios de peso: a mulher e o filho, Sebastião. No entanto, Catarina Gamboa, que trabalha no gabinete de Duarte Cordeiro no Ministério do Ambiente, não tenciona ser parte ativa numa campanha eleitoral, segundo soube o Observador junto da candidatura de Pedro Nuno Santos.
… e “sopinha”
Houve dois comícios com almoços, em fins de semana, um em Matosinhos e outro em Guimarães e o maior problema do candidato era levantar-se antes de acabar de comer, porque sabia que mal o fizesse seria invadido por pedidos de selfies. Nos seus comícios-refeição fica ainda uma imagem de marca, a partir desta campanha: há “sopinha” antes dos discursos.
A quantidade de intervenções, entre líder da federação e mais convidados alinhados, fez com que o candidato reclamasse junto da direção de campanha: era preciso não deixar as pessoas à espera para comer quando há, por vezes, seis discursos alinhados. Foi dada a orientação para se servir qualquer coisa antes, mas no comício de Guimarães, no fim de semana passado, o speaker esqueceu-se e mal todos se sentaram na sala chamou logo o candidato para falar. Foi avisado a meio da frase e ainda teve tempo de corrigir: “Mas antes vamos à “sopinha””. Ali, quem entra paga — e nem o diretor de campanha foi poupado a esta cobrança –, numa maneira de apoiar um comício mais alargado, numa sala maior e, por isso mesmo, tudo muito mais dispendioso.
O orçamento de campanha são cerca de 60 mil euros, 55 mil dos quais vindos de apoio do partido, na previsão da candidatura. A maior fatia de despesa, cerca de 39 mil euros, é precisamente a rubrica “comício e espetáculos”. A segunda despesa mais elevada (mais de 6 mil euros) é para a conceção da campanha e agências de comunicação e Pedro Nuno contratou a de João Gomes de Almeida que também é de São João da Madeira e já fez campanhas do Chega e do PSD.
Como funciona a estrutura e o amigo ausente
Há pouco mais de um mês tudo era diferente. Numa segunda-feira o socialista era o comentador da SIC que ia começar a preparar o seu caminho, com tempo e críticas cirúrgicas ao Governo de António Costa, para traçar diferenças. Na segunda-feira seguinte estava a apresentar a candidatura e a jurar lealdade ao legado dos últimos oito anos. Pelo meio, a demissão do primeiro-ministro e uma torrente de telefonemas para pôr a sua candidatura ao PS em marcha. Reuniu um pequeníssimo grupo para traçar um plano no final dessa semana e teve logo uma recusa: Francisco César não queria ser diretor de campanha. “Ele é insistente. Quando quer uma coisa, quer uma coisa. À segunda tentativa não resisti”, confessa César ao Observador já na função de… diretor de campanha.
O acordo teve, no entanto, uma condição: mal fosse necessário, saía para os Açores onde será “provavelmente” — é o próprio quem o admite — o cabeça de lista nas próximas legislativas (tal como já foi nas últimas), sendo que nos últimos dias ainda se somou uma campanha regional, com eleições marcadas para 4 de fevereiro. Assim, a partir do próximo dia 16 de dezembro, Francisco César sai de cena. Conhecem-se desde o ISEG e depois aprofundaram a relação de amizade já na JS, numa carreira política de Francisco que o pai, Carlos César, não conseguiu travar. Tem feito parte do núcleo mais restrito de Pedro Nuno Santos, tal como Duarte Cordeiro, Nuno Araújo ou Pedro Vaz. Estão todos neste combate, menos um. Cordeiro nem entrou cena, depois de ter sido um dos governantes alvo de buscas no âmbito da operação Influencer — a tal que voltou a pôr o PS num limbo eleitoral que não conhecia desde 2015. Preferiu manter-se afastado e entregue apenas ao Ministério do Ambiente.
Foram muitos anos a projetar este momento com o seu amigo de faculdade e da JS, numa dupla que é descrita por quem os conhece como “fogo e água”. Pedro Nuno é o “fogo”, Duarte a “água”, num equilíbrio que tem funcionado e que faz agora falta a Pedro Nuno Santos. O candidato ainda tem esperança que o amigo e principal conselheiro possa mudar de ideias, juntando-se à caminhada com que ambos sonharam e que chegou inesperada e ironicamente no momento em que Duarte Cordeiro é apanhado na rajada de vento que varreu o Governo, fazendo-o reponderar a sua carreira política. Ainda assim, o presidente do PS-Lisboa juntou-se esta quinta-feira ao comício de encerramento da candidatura, no Capitólio.
O outro ausente do antigo grupo dos “jovens turcos” socialistas, que fez a cabeça em água à direção de António José Seguro, é João Galamba. O abraço gigante que deram em janeiro, na passagem de testemunho nas Infraestruturas, quando Pedro Nuno saiu e ele entrou, parece agora que foi noutra vida. Durante a tarde desta quarta-feira, no Parlamento, Pedro Nuno estava à porta do plenário, na Assembleia da República, quando Galamba passou mesmo nas suas costas e foi como se nada fosse. Não se falam desde a comissão de inquérito à TAP e da estratégia, seguida pelo então ministro e a sua chefe de gabinete, de descredibilização do seu antecessor e aproveitamento das informalidades que reinavam no seu tempo. O agora candidato socialista não lhe perdoou. Passaram de amigos a dois deputados, sentados na mesma bancada, que nunca mais trocaram uma palavra.
No núcleo operacional da candidatura, além de Francisco César está também Pedro Vaz, um socialista muito próximo de Pedro Nuno Santos desde sempre e que até já concorreu à distrital que o candidato já liderou no passado, a de Aveiro — hoje é vogal da Águas de Portugal. Nuno Araújo, do Porto, também entra nesta frente de aconselhamento mais próximo do candidato socialista e esteve sempre por perto quando este exerceu cargos no Governo. Foi seu chefe de gabinete nos Assuntos Parlamentares, de onde saiu para a administração dos Portos do Douro e Leixões e Viana do Castelo (APDL). Dois anos depois, quando chegou à liderança do Ministério das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos nomeou-o para a presidência da mesma administração. Atualmente, Nuno Araújo está no privado e era um dos poucos que vinha mesmo atrás do candidato e de Francisco Assis, juntamente com João Paulo Rebelo (deputado e ex-secretário de Estado também deste círculo próximo), naquela chegada à sede do Largo do Rato para a apresentação da candidatura.
Desta estrutura fazem ainda parte a assessora de imprensa de Pedro Nuno, Márcia Galrão, que vem desde os tempos do gabinete dos Assuntos Parlamentares, tendo passado para as Infraestruturas quando Pedro Nuno subiu a ministro (ultimamente estava na Habitação, com Marina Gonçalves) e ainda as deputadas do PS Joana Sá Pereira, que trata da parte financeira da candidatura, e Maria Begonha. São duas deputadas sempre próximas de Pedro Nuno Santos. Aliás, Joana Sá Pereira está sentada ao lado do candidato, que também é deputado desde julho, na última fila da bancada socialista. Sempre que há plenário, tem sido um corrupio até àqueles lugares, nas últimas semanas, e a agitação até já provocou avisos do presidente da Assembleia da República.
Augusto Santos Silva não tem perdoado, e entre os deputados pedronunistas há até a suspeita de que o presidente do Parlamento, que apoia José Luís Carneiro e sempre esteve na ponta do partido oposta à de Pedro Nuno, está sempre atento a essas movimentações para reclamar. Aconteceu durante o debate na especialidade do Orçamento do Estado para 2024, que já decorreu todo depois da demissão de António Costa e, por isso mesmo, em plena campanha interna do PS. Santos Silva atirou lá de cima um pedido aos “colegas que estão a realizar mini reuniões neste plenário” para que as façam “fora do plenário”.
Nesse momento, João Paulo Rebelo estava de pé, junto do lugar de Alexandra Leitão, a responsável pela coordenação da moção de orientação nacional que o candidato estava a ultimar para entregar ao partido dias depois. E nem ouviram o aviso. “Nem se dão conta…”, desabafou Santos Silva com o microfone ainda ligado. Nessa mesma manhã, Pedro Nuno Santos e Francisco César tinham estado a falar longamente na bancada do plenário, tendo mesmo ficado sozinhos com a sala já vazia, depois de ter terminado a sessão. Pelo lugar de Pedro Nuno também foi passando Pedro Delgado Alves que, tal como Leitão, faz parte do grupo que ajudou a construir a moção.
E nessa fase ainda não se conheciam outros apoios na bancada, que se foram somando nas semanas seguintes até chegar o artigo de opinião de Sérgio Sousa Pinto no semanário Expresso, onde declarou apoio a Pedro Nuno. O apoio deste deputado — e também de Francisco Assis — foi significativo para Pedro Nuno, tendo em conta a oposição que sempre cultivou ao modelo da “geringonça” nos anos em que ela reinou. São peças importantes na tentativa de moderação ideológica que Pedro Nuno tem procurado fazer nesta campanha interna e que teve o seu auge na entrevista ao podcast de Daniel Oliveira, quando o socialista declarou que “nunca” foi “esquerdista” e que “sempre” foi “um social-democrata”.
O pior foram os ataques de José Luís Carneiro, mas “vai ser incluído. Ponto”.
A acusação de radicalismo e de ser uma ameaça à “autonomia estratégica do PS” foi uma das armas de arremesso da candidatura de José Luís Carneiro, com apoio de vozes com autoridade na elite do partido, como José António Vieira da Silva e Augusto Santos Silva. Esses ataques irritaram sempre muito a candidatura de Pedro Nuno Santos por estes dias.
O próprio admite, na conversa que teve com o Observador na quarta-feira, quando aponta como “o pior” desta campanha “a forma como José Luís Carneiro foi fazendo campanha e a centralidade” que deu à sua candidatura “mais do que ao PSD”, lamenta.
Não têm falado, confessa Pedro Nuno. “Espero bem falar depois de sábado”. E vai incluí-lo no futuro do partido, nas listas? “Vai ser incluído. Ponto.” Garante que não ficou “magoado”. “Lamento e preferia que não tivesse sido assim. Mas não belisca em nada o futuro da unidade do partido. Não sou rancoroso. Nada”. E segue, agora enfiado no sobretudo azul escuro da Boss (de lã de caxemira), mãos nos bolsos, desta vez leva gravata, e vai rumo à RTP para enfrentar uma entrevista que tinha corrido mal, na noite anterior, ao principal adversário. Na hora antes, esteve fechado num gabinete do edifício novo no Parlamento, a preparar-se para o momento. Havia um certo nervosismo com o arranque, mas no final do dia respirou-se de alívio na candidatura pedronunista.