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O nadador de 19 anos é uma das grandes esperanças portuguesas para os Jogos Olímpicos de Paris
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O nadador de 19 anos é uma das grandes esperanças portuguesas para os Jogos Olímpicos de Paris

AFP via Getty Images

O nadador de 19 anos é uma das grandes esperanças portuguesas para os Jogos Olímpicos de Paris

AFP via Getty Images

A filosofia Ubuntu com Albertinho, a falta de barba e o TikTok: Diogo Ribeiro, o campeão mundial que "quer mais do que os outros"

Começou na natação para gastar energia em excesso, foi de Coimbra ao Jamor para aprender filosofia Ubuntu com Albertinho e tem Paris na mira. Diogo Ribeiro, o jovem que tem o "sangue frio" como arma.

Quando Diogo Ribeiro conquistou a medalha de ouro nos 50 e nos 100 metros mariposa nos Mundiais de Doha, há pouco mais de uma semana, o presidente da Federação Portuguesa de Natação deixou uma natural mensagem de parabéns ao jovem nadador. A mensagem, porém, tinha uma particularidade: não era dedicada apenas a Diogo, mas sim a todos os Diogos.

“Primeiro de tudo, quero felicitar o Diogo por mais este feito histórico. Gostava também de passar uma mensagem ao Diogo e a todos os Diogos da natação portuguesa: quando se acredita, as coisas acontecem”, atirou Miguel Miranda. No fundo, o que o presidente da Federação Portuguesa de Natação quis dizer é que Diogo, por ter acreditado, conseguiu. E Diogo, por ter acreditado e conseguido, está a inspirar todos aqueles que já acreditam e ainda não conseguiram.

“Dedicatória? Sobretudo ao meu pai, que morreu com 44 anos. Tenho falado muito com ele, manda-me forças para ganhar”, conta Diogo Ribeiro

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A história de Diogo Ribeiro, o primeiro português a sagrar-se campeão mundial de natação e a primeira esperança olímpica portuguesa na modalidade, tornou-se conhecida e reconhecida nas últimas semanas: a prematura morte do pai, o grave acidente de mota, a ida de Coimbra para o Centro de Alto Rendimento do Jamor e a sempre presente gratidão ao Benfica, que lhe ofereceu as condições para se tornar o que já é.

Desde 1984, quando Alexandre Yokochi ficou no sétimo lugar dos 200 metros bruços dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, que Portugal não tem qualquer nadador numa final olímpica. Com Diogo Ribeiro a olhar para Paris enquanto bicampeão do mundo, dono de vários recordes nacionais e uma das novas coqueluches da natação mundial, a esperança volta a reacender-se – a dele, a de Portugal e a de todos os restantes Diogos.

Nadador português foi recebido por dezenas de pessoas na chegada a Lisboa depois dos Mundiais de Doha

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Fora de água, é um absolutamente normal jovem de 19 anos. Não adora dar entrevistas, tem namorada e em conjunto são uma presença habitual no TikTok. Gosta de Fórmula 1 e de Max Verstappen, gosta de ténis e de Rafa Nadal, mas o ídolo será sempre o pai, que leva no ombro com uma tatuagem da Estrela de David (uma das várias que tem, espalhadas pelas costas e pelos braços, num número que foi aumentando desde que deu nas vistas nos Campeonatos da Europa absolutos de Roma em 2022).

Em setembro de 2022, quando passou pelo Observador pouco depois de conquistar três medalhas de ouro nos Mundiais juniores de Lima e começar a trilhar um caminho que o levou à glória em Doha, o nadador não tinha dúvidas: a dimensão mental e psicológica e a força de vontade que o tirou da cama um mês depois do acidente de mota são as suas principais armas.

“Para mim, a parte mais importante de um atleta é mesmo essa parte mental. Sinto que trabalhei bastante bem e depois do acidente. Naquele espaço de um mês em que estive de cama a tentar recuperar foi quando tive tempo para pensar mais e melhor sobre aquilo que realmente andava a fazer. São decisões que são tomadas em segundos. Claro que não queria que o acidente tivesse acontecido, mas sinto que, se não fosse isso, não tinha aprendido bastantes coisas”, explicou. Menos de dois anos depois, as “decisões tomadas em segundos” tornaram em medalhas de ouro conquistadas em segundos.

Fora de água, é um absolutamente normal jovem de 19 anos. Não adora dar entrevistas, tem namorada e em conjunto são uma presença habitual no TikTok. Gosta de Fórmula 1 e de Max Verstappen, gosta de ténis e de Rafa Nadal, mas o ídolo será sempre o pai, que leva no ombro com uma tatuagem da Estrela de David.

A natação para ir atrás da concentração e o miúdo que é “amigo do seu amigo”

Diogo chegou à natação aos quatro anos, pouco depois de perder o pai e para procurar adquirir maior capacidade de concentração – ou seja, para procurar gastar um excesso de energia que ao fim de menos de duas décadas o tornam no jovem adulto irrequieto que quer sempre chegar mais longe. Passou pela Fundação Beatriz Santos, pelo Clube Náutico Académico de Coimbra e pelo União de Coimbra antes de assinar pelo Benfica em 2021, já inserido no projeto Paris-2024 e a começar a trabalhar com o brasileiro Alberto Silva, Albertinho, no Centro de Alto Rendimento do Jamor.

André Vaz, agora a treinar no Dubai, foi o último treinador de Diogo Ribeiro antes do salto. Conheceu o nadador quando este tinha apenas 11 anos, no Clube Náutico Académico, e juntos saltaram para o União de Coimbra. Tal como a maioria das pessoas que se cruzaram com o agora campeão mundial nessa fase, não o recorda como “um fora de série” e até tem memória de alguns problemas de disciplina, mas já tinha noção de que treinava alguém que estava “a bom nível”.

“Depois do acidente, naquele mês de cama, pensei melhor no que andava a fazer”: entrevista ao tricampeão mundial júnior Diogo Ribeiro

“Não se perspetivava o que é hoje. Comigo, foram cinco épocas de muito trabalho. Foi traçado um plano, ano a ano, e o Diogo cumpria muito bem e correspondia sempre da melhor forma, em termos competitivos. Ano a ano, foi alcançando mais conquistas e recordes nacionais em vários estilos diferentes e em diversas distâncias, dos 50 aos 400 metros”, lembra o treinador de 30 anos, que sublinha que foi nessa altura que começaram a surgir as primeiras participações em competições internacionais.

Atleta natural de Coimbra conquistou a medalha de ouro nos 50 e nos 100 metros mariposa nos últimos Mundiais de natação

Getty Images

Apesar de ter deixado de treinar Diogo Ribeiro quando este deixou Coimbra e passou a viver a tempo inteiro no Centro de Alto Rendimento, há cerca de três anos, André Vaz nunca perdeu o contacto com o nadador. “Nas últimas vezes que falei com ele, notei que tem amadurecido e que está cada vez mais focado naquilo que são os objetivos dele”, garante, indicando que continua a ser “daqueles miúdos que, se confiar em ti, é extrovertido, amigo do seu amigo”.

“Estou muito contente, porque nos últimos dois, três anos, já se começava a perspetivar que tinha condições para atingir resultados que Portugal nunca tinha tido. Tem 19 anos, tem pela frente uns três ciclos olímpicos e vai disputar medalhas olímpicas. Não quer dizer que seja já, mas tem condições para disputar medalhas em todas as competições internacionais”, acrescenta o treinador, que está há alguns meses nos Emirados Árabes Unidos depois de também ter estado na Madeira durante dois anos.

A falta de barba, a entrada num grupo depois do acidente e os segredos da filosofia Ubuntu

Diogo Ribeiro e Miguel Nascimento tornaram-se amigos quando foram incluídos no projeto Paris-24, ambos através do Benfica e ambos treinados por Albertinho no Centro de Alto Rendimento do Jamor, mas há muito que já se cruzavam em provas, torneios e competições. O segundo, porém, lembra-se da primeira vez que ouviu falar do primeiro – e não foi com uma piscina por perto.

"Não se perspetivava o que é hoje. Comigo, foram cinco épocas de muito trabalho. Foi traçado um plano, ano a ano, e o Diogo cumpria muito bem e correspondia sempre da melhor forma, em termos competitivos."
André Vaz, antigo treinador de Diogo Ribeiro

“Quando era mais novo, o médico que me acompanhava era o mesmo que o acompanhava a ele. E houve um dia em que fui ao médico e ouvi falar sobre ele, um atleta muito novo que nadava as mesmas provas do que eu. Perguntei que idade tinha e que tempos fazia e percebi que era mesmo rápido. Disse ao meu médico para o segurar bem. Foi a primeira vez que ouvi falar dele. A primeira vez que o vi foi numa prova em Coimbra, nadou comigo. Ele bateu os recordes da idade dele e eu bati os recordes de sénior”, conta Miguel Nascimento, agora capitão da Seleção Nacional de natação, ao Observador.

Mais um momento histórico que não veio só: Diogo Ribeiro sagra-se campeão mundial depois da prata em 2023

Também especialista na mariposa, o nadador natural de Lisboa também já está apurado para os Jogos Olímpicos, tendo alcançado a marca necessária em abril do ano passado e na estafeta 4×100 livres no Nacional Open da Portugal. Quase dez anos mais velho do que Diogo Ribeiro, tendo cumprido 29 já durante o mês de janeiro, Miguel Nascimento recorda que o agora bicampeão mundial teve de crescer muito fisicamente nos últimos anos.

“Na natação não dá para perceber logo se alguém tem mesmo talento ou se está apenas muito desenvolvido para a idade, depende sempre das pessoas. E ele era muito magrinho, não era muito desenvolvido. Mesmo em termos de barba… Não tinha nada! Lembro-me de o ver nadar e de pensar que ainda ia crescer, tinha 17 ou 18 anos e ainda tinha muito para crescer. Era um miúdo e já fazia aqueles tempos, o que já era um indicador”, recorda o atleta, que nos Mundiais de Doha fez parte da estafeta 4×100 estilos que igualou o recorde nacional da distância.

Diogo Ribeiro com Miguel Nascimento, o capitão da Seleção Nacional de natação

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Os dois nadadores aproximaram-se pouco depois de Diogo Ribeiro ter sofrido o grave acidente de mota que o deixou de cama durante um mês e com várias sequelas, entre hematomas no corpo todo, queimaduras, um ombro deslocado, uma fratura no pé e parte do dedo indicador direito perdido e posteriormente reconstruído. Só se juntou à equipa de Albertinho semanas depois de os primeiros atletas começarem a trabalhar com o treinador brasileiro e Miguel Nascimento lembra que a integração demorou algum tempo.

“Ele não começou a trabalhar com o grupo de imediato devido ao acidente, só começou semanas mais tarde por causa da recuperação. Lembro-me de falar com os meus colegas e perguntar por ele, porque não interagia, era assim mais introvertido. Mas quando começas a conhecê-lo, começa a libertar-se e a entrar nas brincadeiras. Eu era mais velho e acho que ele me via de maneira diferente, mas tentámos integrá-lo nas brincadeiras e a partir daí as coisas floresceram. Tornou-se tudo natural. O ambiente de grupo é fulcral para os bons resultados e agora somos mais uma família do que outra coisa”, explica.

Sobre as duas medalhas de ouro nos Mundiais, Miguel Nascimento admite que a Seleção Nacional acreditava que Diogo Ribeiro poderia chegar à vitória nos 50 metros mariposa – mas ninguém se atrevia a sonhar com os 100 metros. “Sendo franco, não tínhamos essa visão”, reconhece o nadador, que acredita que o português conquistou os dois títulos porque “quis mais do que os outros”.

"Ele era muito magrinho, não era muito desenvolvido. Mesmo em termos de barba... Não tinha nada! Lembro-me de o ver nadar e de pensar que ainda ia crescer, tinha 17 ou 18 anos e ainda tinha muito para crescer. Era um miúdo e já fazia aqueles tempos, o que já era um indicador".
Miguel Nascimento, capitão da Seleção Nacional de natação

“Toda a gente quer muito. O que faz a diferença é que ele quer e mantém-se calmo naquele momento. Às vezes erramos mais, porque estamos tão focadas em querer que nos esquecemos da parte técnica, e ele encaixa as coisas de maneira a que seja possível. Mete o sangue frio e ajusta e melhor chegada possível. É isso que faz a diferença. Ele consegue manter o sangue frio”, indica Miguel Nascimento, que sublinha que Diogo Ribeiro está a passar por coisas que ele próprio nunca atravessou apesar de ser quase uma década mais velho.

O nadador do Benfica revela que, apesar de considerar Diogo Ribeiro uma espécie de “irmão mais novo”, não costuma falar sobre aspetos mais técnicos durante as competições. “Já o conheço. Sei que ele consegue lidar bem com as coisas sozinho. Antes da final dos 100 metros ele disse-me que não acreditava que ia ganhar. Eu disse-lhe que tinha de aproveitar as oportunidades. Tinha de relaxar. Tinha de querer mais do que toda a gente. Só isso. Não gosto muito de falar sobre coisas mais práticas. Dou-lhe conselhos no dia a dia, naquilo que acho que pode melhorar. Em termos de prova tenho eu de aprender com ele”, brinca.

Em termos mais gerais, Miguel Nascimento não esquece que Albertinho foi o game changer da natação portuguesa e que filosofia que implementou tem feito a diferença. “Temos um lema, Ubuntu. Temos essa filosofia desde o dia 1 e isso ajuda-nos a chegar a estes objetivos”, revela o nadador, referindo-se à linha de pensamento de origem africana que se rege pela ideia “eu sou porque nós somos”. “Ele fez toda a diferença. Tem experiência e, acima de tudo, acredita. Em Portugal era muito difícil acreditar numa coisa destas. Ele diz-nos que se temos duas pernas e dois braços, temos a possibilidade de estar lá com os norte-americanos e os australianos. Sem ele nada disto seria possível”, termina.

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