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O Papa Francisco falando na conferência de imprensa no voo que o transportou para Roma

Getty Images

O Papa Francisco falando na conferência de imprensa no voo que o transportou para Roma

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De regresso da JMJ "mais bem organizada", Papa Francisco considera que Igreja em Portugal está no bom caminho no combate aos abusos

No regresso a Roma após cinco dias em Lisboa Francisco falou sobre a Igreja em Portugal: a JMJ de Lisboa foi a mais bem organizada que já viu e o combate aos abusos é feito com serenidade em Portugal.

Foi a bordo de um avião português, um Airbus A321Neo da TAP com três pilotos e oito assistentes de bordo que o Papa Francisco regressou este domingo a Roma, depois de ter passado cinco dias em Portugal para a sua quarta Jornada Mundial da Juventude, marcada por um conjunto de intervenções fortes, quase todas feitas de improviso, e sintetizada numa ideia: a de que a Igreja tem lugar para todos, sem exceção. “Todos, todos, todos.”

Durante a viagem de pouco mais de duas horas — estavam previstas três horas de voo, mas a aeronave partiu do aeroporto de Lisboa às 18h20 e aterrou em Roma pelas 21h40 locais, 20h40 em Lisboa —, o Papa Francisco deslocou-se à zona traseira do avião para responder às perguntas dos jornalistas e deixou uma avaliação positiva da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) portuguesa: foi a “mais bem organizada” que alguma vez viu. Mas também falou sobre a crise dos abusos sexuais de menores vivida pela Igreja Católica em Portugal no último ano, para elogiar o trabalho dos bispos portugueses na “seriedade” com que, diz o Papa, estão a tratar os casos, e para garantir que está ao corrente dos desenvolvimentos do assunto em Portugal.

O voo tinha descolado havia cerca de meia hora do aeroporto de Lisboa quando, a meio da aeronave, os responsáveis de comunicação da Santa Sé ligaram os microfones, chamaram para a dianteira os jornalistas encarregados de representar os seus grupos linguísticos na conferência de imprensa — além do português, havia um grupo francês, um alemão e outro inglês — e anunciaram que, dentro de minutos, o Papa Francisco chegaria.

No voo, durante o qual foi servida ao Papa, ao séquito papal e à comitiva de jornalistas que acompanhou a viagem uma refeição especialmente preparada pelo chef Vítor Sobral, acompanhada de uma seleção de vinhos portugueses, o Papa Francisco não esqueceu o aniversário de uma jornalista portuguesa a bordo. “Hoje há um aniversário”, comentou o Papa, assim que se sentou numa cadeira colocada no meio do corredor do avião. “Feliz aniversário”, disse, depois de o porta-voz do Vaticano ter indicado o nome da jornalista. “Depois vem o bolo!” Efetivamente, no final do voo, surgiria um bolo trazido pelos assistentes de bordo.

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epa10788222 Pope Francis speaks with journalists during a press conference aboard the papal airplane heading to Rome, at the end of the 37th World Youth Day in Lisbon, Portugal, 06 August 2023. The Pontiff was in Portugal on the occasion of World Youth Day (WYD), one of the main events of the Church that gathers the Pope with youngsters from around the world.  EPA/MAURIZIO BRAMBATTI / POOL

O Papa Francisco no avião da TAP que o levou de Lisboa até Roma

MAURIZIO BRAMBATTI / POOL/EPA

Noutros tempos, o Papa Francisco respondia às perguntas do jornalistas permanecendo em pé, mas as dificuldades de locomoção — que o levaram a deslocar-se em cadeira de rodas durante quase toda a JMJ em Lisboa — obrigam a que, agora, estas conferências de imprensa aconteçam com o Papa sentado numa pequena cadeira desmontável que é colocada no centro do corredor do avião, voltada para os jornalistas.

Em resposta a uma pergunta feita pelo Observador em representação dos jornalistas portugueses presentes no voo, o Papa Francisco falou publicamente sobre a crise dos abusos sexuais de menores no contexto da Igreja, que se abateu estrondosamente sobre Portugal nos últimos meses — com a publicação, em fevereiro, de um relatório elaborado por uma comissão independente, liderada pelo psiquiatra Pedro Strecht, que estimou em 4.815 o número de crianças vítimas de abusos ao longo das últimas sete décadas.

“Como sabem, recebi de forma muito reservada um grupo de pessoas que sofreram abusos. Como faço sempre nesses casos, conversámos sobre essa praga, essa terrível praga”, começou por responder o Papa Francisco, que logo no primeiro dia da sua visita a Portugal teve um encontro com 13 vítimas de abusos na nunciatura apostólica. Antes de se deter sobre a situação concreta em Portugal, o Papa Francisco repetiu muito do que já tem dito sobre a crise dos abusos: lembrou que “42% dos abusos acontecem nas famílias e nos bairros”, sublinhou que desde os casos de Boston, em 2002, a Igreja começou a “pegar o touro pelos cornos”, recordou a cimeira que organizou no Vaticano em fevereiro de 2019, reiterou a “tolerância zero” da Igreja sobre os abusos e pediu aos jornalistas que colaborassem no combate a todo o tipo de abusos.

Papa encontrou-se com vítimas de abusos sexuais e pediu perdão em nome da Igreja

“Quanto à questão de como está o processo na Igreja portuguesa: está a correr bem. Vai bem e com serenidade, busca-se a seriedade nos casos de abuso. Os números por vezes acabam por ser exagerados, até pelos comentários que gostamos sempre de fazer, mas a realidade é que está a correr bem e isso dá-me alguma tranquilidade”, disse o Papa.

Francisco garantiu, também, que está “informado de como estão as coisas” a evoluir em Portugal. “As notícias podem ter ampliado a situação, mas as coisas parecem boas a este respeito.”

A Jornada mais bem preparada de sempre

A bordo do avião, que foi decorado com almofadas especialmente desenhadas para o efeito, com o brasão pontifício de Francisco, toda a comitiva papal teve oportunidade de jantar uma ementa preparada pelo chef Vítor Sobral, que incluiu presunto, queijo da serra e compota de figo para entrada, um prato principal que podia ser vitela estufada em vinho do Porto com puré de nabo e amêndoa ou cherne dourado com creme de tomate assado e batata-doce, e ainda uma torta de laranja com creme de pistácios e pera rocha assada para a sobremesa.

A acompanhar, a TAP — que já transportou Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI –, serviu a bordo vários vinhos de marcas portuguesas. Mas não terá sido este banquete nacional a principal razão para a boa impressão do Papa Francisco com Portugal. O líder da Igreja Católica disse que a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa foi “a mais bem organizada” que alguma vez viu.

O Papa Francisco ficou especialmente impressionado pela multidão presente na vigília de sábado

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Gostava de dizer algo sobre como vivi a JMJ. É a quarta que vivo. A primeira foi no Rio de Janeiro, que foi monumental, bem brasileiro, lindo. A segunda em Cracóvia, a terceira no Panamá, esta é a quarta. Esta foi a mais numerosa. Os dados concretos, verdadeiros, diziam que eram mais de um milhão. Mais do que isso. De facto, na vigília de ontem à noite, estimava-se que havia um milhão e quatrocentas ou um milhão e seiscentas mil pessoas. Isso são dados do Governo. A quantidade é impressionante”, disse o Papa Francisco.

“E bem preparado. De entre as que já vi, esta foi a mais bem preparada. E os jovens são uma surpresa, os jovens são jovens”, sustentou ainda o Papa. “Fazem brincadeiras de criança, a vida é assim, mas tentam olhar para a frente e são o futuro. O pressuposto é acompanhá-los, o problema é saber acompanhá-los sem se desprenderem das raízes. Por isso insisto tanto no diálogo entre velhos e jovens, avós e netos. Esse diálogo é importante, mais importante do que o diálogo entre pais e filhos.”

Em linha com o que tinha dito e repetido em Lisboa, o Papa Francisco sustentou que a Igreja deve saber acolher todos, sem julgamentos. “Às vezes diz-se: ‘Mas os jovens nem sempre levam uma vida moral.’ Quem de nós não cometeu um erro moral na vida? Todos! Com os mandamentos ou com alguém, cada um de nós tem as suas próprias quedas na sua própria história. Isso é a vida. Mas o Senhor espera-nos sempre porque é misericordioso e pai, e a misericórdia vai além de tudo.”

Este foi um dos temas fortes da passagem do Papa pela JMJ de Lisboa: um apelo dirigido ao interior da Igreja Católica para que evite a tentação de se considerar uma sociedade de pessoas perfeitas que excluem quem consideram imperfeito e seja, em vez disso, uma instituição que acolhe todos, sem exceção, apesar das quedas. Francisco destacou ainda a “mística” que sentiu quando, antes de apanhar o avião para voltar a Roma, se encontrou com os mais de 25 mil voluntários. “Foi realmente lindo, lindo, lindo.”

O Papa Francisco foi também desafiado pelos jornalistas a desenvolver a ideia vincada em Lisboa, sobretudo no discurso do “todos, todos, todos”: embora diga que a Igreja está aberta a todos, há quem não tenha os mesmos direitos na Igreja, como as mulheres ou os homossexuais, que não podem receber a totalidade dos sacramentos, apontou uma jornalista alemã. Em resposta, o Papa procurou diferenciar “dois pontos de vista diferentes” na questão.

Por um lado, a Igreja está aberta a todos. Por outro lado, “existem leis que regulam a vida dentro da Igreja” — e “quem está dentro está de acordo com a legislação”. Para o Papa, a simples falta de acesso aos sacramentos “não significa que a Igreja esteja fechada”.

“Cada um encontra Deus à sua maneira dentro da Igreja e a Igreja é mãe e guia cada um a seu modo. Por isso, não gosto de dizer: vêm todos menos tu, este, o outro. Cada um, cada um na oração, no diálogo interior, no diálogo pastoral com os agentes da pastoral, procura um caminho para seguir em frente”, continuou o Papa. “Porque é que para os homossexuais não? Todos! O Senhor é claro: doente, saudável, velho e jovem, feio e bonito, bom e mau. Há um olhar que não entende essa inserção da Igreja como mãe e a pensa como uma espécie de ’empresa’ em que, para se entrar, há que fazer isto, fazer desta forma e não de outra.”

Papa garante que está bem de saúde — e que encurta homilias para comunicar melhor com os jovens

A bordo do avião, o Papa Francisco foi também questionado, em diferentes momentos, sobre a sua saúde e sobre as razões que o levaram a, durante a semana da JMJ, fugir tantas vezes aos planos e aos textos programados. “A minha saúde está bem”, garantiu o Papa, lembrando que os pontos da sua última cirurgia a uma hérnia abdominal já foram retirados, mas que ainda necessita de usar uma faixa no abdómen para evitar complicações “até os músculos ficarem mais fortes”.

Sobre eventuais dificuldades de vista, Francisco também desvalorizou. Lembrou apenas o episódio da Serafina, o único em que não conseguiu ler. “Naquela paróquia, cortei o discurso porque tinha uma luz na minha frente e não conseguia ler”, explicou o Papa.

A maior explicação prendeu-se com os motivos pelos quais Francisco encurtou tantas vezes os seus discursos e homilias, ignorando grande parte do texto escrito e falando de improviso, não olhando sequer para as folhas de papel que lhe entregavam. “Quando falo, não faço homilias académicas”, sublinhou o Papa, acrescentando que tenta “deixar isso o mais claro possível”.

O objetivo da fala é procurar a “comunicação”, diz o Papa. “Já viram que até nas homilias académicas faço alguma piada, para controlar a comunicação. Com os jovens, os discursos longos tinham o essencial da mensagem e eu apresentei-os segundo senti a comunicação. Viram que eu fiz algumas perguntas e, imediatamente, o eco mostrou-me para onde é que eu estava a ir, se estava errado ou não.”

Francisco presidiu este domingo ao encerramento da JMJ

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Francisco justificou-se, dizendo que os jovens têm um período de atenção curto. “Se fizer um discurso claro, com uma ideia, uma imagem, um afeto, oito minutos podem chegar”, disse ainda, lembrando como, na exortação apostólica Evangelii Gaudium, dedicou um longo capítulo à homilia. “As homilias às vezes são uma tortura”, diz o Papa. “A Igreja deve converter-se a este aspeto da homilia: curta, clara, com uma mensagem clara e afetuosa.”

Depois da conferência de imprensa, que demorou pouco mais de 20 minutos, o Papa Francisco retirou-se para a parte dianteira do avião e os jornalistas não tornaram a vê-lo. Foi servido o jantar e, pelas 21h40 de Roma, 20h40 em Lisboa, o avião estava a aterrar na pista do aeroporto de Fiumicino, em Roma. Quando os jornalistas desceram a escada traseira do avião, já a caravana automóvel escoltada pela polícia que transportava o Papa de volta ao Vaticano ia bem longe. No final deste mês, o Papa volta a sair do Vaticano para uma viagem à Mongólia.

 
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