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Erika Uyterhoeven representa uma cidade nos subúrbios de Boston, Massachusetts
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Erika Uyterhoeven representa uma cidade nos subúrbios de Boston, Massachusetts

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Erika Uyterhoeven representa uma cidade nos subúrbios de Boston, Massachusetts

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Democrata Erika Uyterhoeven: "Não se tem apenas de lutar contra Trump. Temos de dar razões às pessoas para votarem em nós"

Erika Uyterhoeven pertence à ala mais à esquerda do Partido Democrata e reconhece que Biden não cumpriu "todas as promessas". E diz que democratas têm de apresentar "soluções" para cativar o voto.

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Erika Uyterhoeven é membro da Câmara dos Representantes do estado de Massachusetts e é governadora local de uma cidade perto de Boston naquele estado. Assumindo-se como uma “socialista democrática”, a política pertencente à ala mais à esquerda do Partido Democrata contou ao Observador como é que esta fação se está a preparar para as presidenciais de novembro. Assume que Joe Biden tem um trabalho “difícil” ao tentar fazer “o país todo feliz”, mas realça que o Presidente norte-americano poderia ter feito mais no âmbito económico-social para tentar distanciar-se de Donald Trump, o rival republicano.

Sobre Donald Trump, Erika Uyterhoeven receia o que o magnata possa fazer se chegar novamente à Casa Branca, especialmente no que diz respeito à política externa e o que fará em relação à guerra entre o Hamas e Israel. Numa entrevista em Lisboa a propósito da sua vinda ao oitavo Legislators Dialogue, evento organizado pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), a democrata recorda ainda os tempos em que fez campanha para apoiar o senador Bernie Sanders durante as primárias norte-americanas em 2016 ou o apoio ao trabalhista britânico Jeremy Corbyn.

Nas próximas presidenciais, Erika Uyterhoeven defende que muitos eleitores não pensam apenas tendo em vista a ótica do voto entre “democratas e republicanos”, estando mais interessados “na mensagem” dos candidatos. Há oito anos, a política norte-americana recorda que muitos estavam indecisos “entre Bernie e Trump”. “Centristas”, como Joe Biden, “não resolviam os problemas” do dia-a-dia e dos trabalhadores — e é isso que, na opinião da política, está a faltar ao Presidente neste clima pré-eleitoral.

Erika Uyterhoeven defende que muitos eleitores não pensam apenas tendo em vista a ótica do voto entre "democratas e republicanos"

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A economista que entrou na política em 2016 e defende o direito dos migrantes

Vou começar por lhe perguntar: nos Estados Unidos, quais são as suas funções políticas?
Sou uma representante do estado de Massachusetts. Represento uma cidade nos subúrbios de Boston, em Massachusetts. Estou no segundo mandato. Fui eleita durante a pandemia de Covid-19.

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Como está está ligada a Portugal?
Primeiro, convém explica que sou meia japonesa. O meu pai é oriundo da Bélgica e dos Países Baixos. Mas as minhas raízes portuguesas vêm do lado japonês. Depois da Restauração Meiji [que restaurou ao poder do Imperador no Japão] e depois de o Japão se abrir em meados do século XIX, foi aí que o meu tetravô, português, foi para o Japão. Uma coisa interessante, já agora: ontem [no passado domingo] estive em Évora. Disseram-me que havia uma fundação japonesa e que havia uma conexão com Portugal. E isso lembrou-me da minha família.

De que forma entra na política? O que estudou na universidade? Tinha um trabalho antes de entrar na universidade?
A minha história é muito interessante. Era uma economista especialista na área das leis antitrust, que têm a ver com o estudo dos reguladores económicos e o seu envolvimento em monopólios e as falhas do mercado. Não tinha nada a ver com política ou algo do género. Envolvi-me na política apenas nas eleições presidenciais de 2016. Foi o ano em que Donald Trump foi eleito. Foi nesse ano. Trabalhei na campanha de Bernie Sanders para as primárias democratas. E, depois, voluntariei-me para a campanha da Hillary Clinton antes de ela perder para Donald Trump. Foi um grande momento nos Estados Unidos da América. Muitas pessoas tornaram-se politicamente ativas naquele ano. E tenho a certeza que foi produto e parte dessa onda de pessoas que pensavam que eram necessárias mudanças. Envolvi-me na luta dos direitos dos imigrantes, porque sou filha de imigrantes de ambos os lados e aí também penso na minha origem portuguesa. A minha família lidou com muito estigma.

Erika Uyterhoeven é descendente de portugueses do lado materno

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

De que forma sentiram esse estigma?
Acho que tem a ver com o Japão ser uma cultura homogénea. Se se é diferente, realmente nota-se. A minha avó tinha sempre esse peso nos ombros. Sobre imigração, penso na sensação de pertença e a importância de receber imigrantes. Penso particularmente na minha herança portuguesa. Os portugueses viajaram pelo mundo, certo? E encontraram uma maneira de conseguirem integrar-se. Penso que esse espírito tem muito a ver comigo e com a luta pelos direitos dos imigrantes, particularmente na [administração] Trump.

Além das imigrações, quais são os temas que mais a motivam?
Luto pela sobrevivência da escola pública e pelos transportes público. Envolvi-me na política local após as presidenciais de 2016 e depois decidi concorrer. O meu antecessor decidiu abandonar a política e foi aí que entrei nesse mundo. Na universidade, nunca pensei fazer da política a minha vida. Estudei economia. E nunca pensei que ia ter uma profissão relacionado com a governação e política.

Presidenciais? “A luta tem de consistir em mostrar às pessoas que temos soluções e não mostrar que somos os menos maus”

Já falou das eleições de 2016 e na vitória de Donald Trump. Oito anos depois, os republicanos deverão apresentar o mesmo candidato. Sendo parte do Partido Democrata, apoia Joe Biden. Como é que vê o possível regresso à Casa Branca do ex-Presidente, ou mesmo a sua candidatura?
Acho que estamos a lidar com um assunto de grande importância nos Estados Unidos em redor da legitimidade das nossas instituições, especialmente das instituições democráticas e de governo. Penso que é uma luta longa e que está em ebulição nos Estados Unidos. O facto de que podemos trazer de volta a mesma pessoa é realmente assustador. Isso também está a acontecer na Europa: a ascensão de certos movimentos de extrema-direita. Colocam em questão a União Europeia e instituições federais. Isso é um problema que está a aumentar de dia para dia.
Também olho para as coisas de uma perspetiva económica. Os norte-americanos ganham menos e tem menos perspetivas de futuro, então perguntam-se: ‘O que me está a acontecer?’. Falando da minha cidade, em Somerville, há muitos adultos que se perguntam por é que os filhos não conseguem pagar para viver lá. Os custos da habitação, educação, serviços de saúde subiram e os salários permanecem os mesmos. As pessoas procuram por respostas e pessoas como Donald Trump, de extrema-direita, respondem-lhes. Mas é de forma improdutiva: apontam o dedo às piores partes de nós mesmos, à pior parte das nossas raízes. Julgo que é isso que temos de combater. E depois a minha questão — enquanto democrata — é: qual é a nossa resposta a isso? A nossa maior falha em 2016 [quando Hillary Clinton perdeu contra Trump] foi dizer ‘pelo menos não somos Donald Trump’. Isso não é uma visão. Não dá às pessoas soluções. Isso não diz às pessoas que vamos investir em cuidados de saúde, transportes públicos e educação. Não se tem apenas de lutar contra alguém. Temos de dar razões às pessoas para votarem em nós.

Os norte-americanos ganham menos e tem menos perspetivas de futuro, então perguntam-se: 'O que me está a acontecer?'. Falando da minha cidade, em Somerville, há muitos adultos que se perguntam por é que os filhos não conseguem pagar para viver lá. Os custos da habitação, educação, serviços de saúde subiram e os salários permanecem os mesmos. As pessoas procuram por respostas e pessoas como Donald Trump, de extrema-direita, respondem-lhes
Erika Uyterhoeven

Considera que esse fenómeno ainda está a acontecer para estas presidenciais? As sondagens indicam que Trump está à frente de Biden…
Sim. A luta tem de consistir em mostrar às pessoas que temos soluções e não mostrar que somos os menos maus. Espero que não caiamos na mesma armadilha outra vez, porque penso que explica o que aconteceu em 2016. Falando sobre a minha experiência, as pessoas esperam que encontre soluções. Elas não vão apenas votar nas pessoas em que estão habituadas. Elas querem saber como é que vamos consertar grandes problemas. Penso que, nos Estados Unidos, lidamos com desigualdade de rendimentos e racismo relacionado com o tratamento de migrantes e pessoas racializadas. E se não há uma resposta para isso, como é que as pessoas votam em ti? Acredito que é esta complacência que temos de tentar combater. Pelo menos é isto que temos de fazer se quisermos mesmo ganhar.
Vou dar um exemplo de uma das políticas mais populares de Biden que gostaria de sublinhar. Ele cancelou a dívida por propinas dos estudantes universitários. Nós pagamos imenso na universidade e as pessoas têm centenas de milhares de dólares em dívida. Quando se tem 30 ou 40 anos e se quer comprar uma casa — ou talvez poupar para a reforma ou ter um filho — ainda se está a pagar dívida. Foi uma das medidas mais populares. E penso que ele deve realmente pensar em soluções que perdurem no tempo. Penso que ele aqui fez a coisa certa, mas há outros grandes problemas que precisa de resolver.

Recentemente, Joe Biden anunciou um pacote de migrações mais duro com os migrantes. Como é que o viu? Acha que o Presidente está a tentar cativar eleitorado mais perto de Trump?
Tenho uma posição diferente sobre isso. Tenho muita sorte de representar um estado e um distrito que acolhe muito bem os migrantes. Não acho que este problema das migrações vá desaparecer, porque, com a crise climática, haverá migrações em massa. Também há muitas guerras, certo? Há violência ao extremo. Haverá mais refugiados, sejam eles climáticos, sejam eles de guerra. Isto não vai tornar-se mais fácil. Penso que temos de nos preparar para isso. A minha posição é que temos de encontrar maneiras de acolher bem as pessoas. Toda a gente que conheço tem uma história de migrações na família — vieram para os Estados Unidos à procura de mais oportunidades. Talvez tenham fugido da fome, escapado da guerra. Muita gente preocupa-se sobre os custos de imigração. Mas temos de pensar além disso. Como é que realmente garantimos que estamos a apoiar os migrantes?
A minha mãe emigrou para os Estados Unidos como empregada de limpeza. Ela arranjou um emprego e sindicalizou-se. Conseguiu arranjar uma casa e pagou a minha universidade. São este tipo de oportunidades que trouxeram as pessoas para os Estados Unidos. Como é que garantimos a essas pessoas que lhe damos essas oportunidades? Estou muito focada em questões migratórias e, enquanto política, a providenciar caminhos para as pessoas arranjarem empregos. Há pessoas que vêm para os EUA com estudos. Vou dar um exemplo: os refugiados afegãos. Muitos têm doutoramentos em medicina. Temos falta de mão de obra nos serviços de saúde. A pergunta aqui é como é que garantimos que existe um percurso para que sejam capazes de trabalhar. Ninguém quer ficar num abrigo a longo prazo. Por isso, é importante dar um caminho para que os migrantes consigam integrar-se e consigam contribuir para a sociedade.

Erika Uyterhoeven não concorda com algumas das medidas migratórias apresentadas por Joe Biden

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Biden não cumpriu muitas das “promessas”, mas ao menos “perdoou dívidas” relacionadas com universidades

Voltando um pouco às eleições. Como democrata, fez campanha por Bernie Sanders. Há muitas sondagens que dizem que muitos dos democratas, principalmente os mais progressistas, não queriam que Joe Biden se recandidatasse. Como é que vê este fenómeno e como é que o explica?
Essa insatisfação com Biden… Penso que ele tem um cargo muito desafiante, que é tentar fazer todo o país feliz. E isso é difícil, naturalmente. Se perguntar ao Bernie ou a outros à esquerda no Partido Democrata, eles vão dizer-lhes que o Presidente se deve focar nos kitchen table [assuntos de mesa de cozinha, ou seja, temas que preocupam os cidadãos no dia-a-dia] ou nos problemas dos trabalhadores, seja focando-se nos sindicatos, seja focando-se na justiça racial — e apoiando a educação pública, os cuidados de saúde, transportes e infraestruturas.
Julgo realmente que não conseguiu cumprir muitas das promessas que fez em 2020. Vou dar um exemplo sobre sindicatos. Estamos a ver claramente uma subida daqueles que sindicalizam, mas também um aumento das pessoas em greve, por causas das condições nos locais de trabalho e pelos salários baixos. Havia uma promessa chamada PRO Act que servia para fortalecer a lei do trabalho, que está desatualizada neste momento. É algo que precisamos de modernizar, principalmente com as grandes empresas de entregas como a Amazon, ou as grandes tecnológicas.
É algo que Biden prometeu e não cumpriu. É por isso que os sindicatos se queixam e fazem graves. E este é apenas um exemplo de como as pessoas se sentem muito desapontadas, principalmente com o Partido Democrata. Claro que [os mais moderados] vão argumentar ‘E os republicanos e a direita? Como é que conseguimos vencê-los?’. Acredito que Biden pensa demais nos votos, mas também tem de ter a noção de que muitas das bases republicanas são locais com muitos sindicatos. Por exemplo, a Rust Belt [zonas industrializadas no nordeste norte-americano] ou Ohio. Digo isto porque fiz campanha nessas regiões em 2016. E eles dizem que iam escolher entre Bernie ou Trump. Eles nem sequer pensavam votar nos democratas ou nos republicanos. Eles estavam interessados na mensagem. Os centristas não resolvem os seus problemas. É a minha perspetiva. Claro que há pessoas que vão discordar, mas acho que, quando se fala com os eleitores, eles estão interessados em temas e sobre como é que os candidatos vão cumprir as suas promessas.
É por isso que também considero que, em 2016, o Bernie foi uma surpresa para todos. Poucos esperavam que ele fosse tão longe, mas a sua mensagem, as suas análises e as suas soluções fizeram sentido para muitas pessoas. E penso que, com Biden, ele tem dificuldade em unir esses pontos, não basta pensar que tem os votos da esquerda garantidos. As pessoas não são monolíticas nesse sentido. Eles pensam sobre como os políticos vão servir as suas comunidades e distritos. É por isso que Biden tem tantas dificuldades em cativar alguns eleitores. Quero realçar, ainda assim, que o perdão das dívidas foi uma grande vitória. É algo que falámos durante décadas. E ele finalmente cumpriu. Foi entusiasmante.

Acha que Biden fica apenas a meio caminho?
Sim, ele tem problemas em tomar decisões.

As preocupações com a política externa num novo mandato de Trump e Biden “prejudicado” com a gestão da guerra em Gaza

Donald Trump está vai concorrer outra vez. O que pensa que pode acontecer aos Estados Unidos se ele vencer? E como ficará a relação entre os Estados Unidos e a Europa?
Pode mesmo acontecer a sua vitória, mesmo que tenha sido condenado há duas semanas. Não colocaria de parte que acontecesse de novo. Em 2016, ninguém acreditava que isto fosse acontecer. Mas quando se falava com eleitores, pensava-se que era possível. E lembro-me de pensar para mim mesmo que não ia acontecer, mas que era possível. E depois aconteceu. Mas ao acontecer outra vez… É algo difícil de imaginar. Ele fez tantos estragos da primeira vez, mas penso que desta vez talvez seja pior, porque ganhou confiança entretanto. Ele certamente amnistiar-se-á. Toda esta questão da condenação não vai importar. Não é que não importe, mas ele tem poder para reverter a decisão. E depois a relação com a Europa e as decisões geopolíticas é uma das partes mais assustadoras e mais difíceis de imaginar.
Nas relações internacionais e em geopolítica, anda tudo à volta não sobre chegar à situação ideal para um país ou para um grupo de países, mas antes sobre a arte de negociar. E ele é alguém que não está disponível para isso, não tem o temperamento para isso. Tendo em conta o que está a acontecer em termos geopolíticos — seja na Ucrânia, seja em Gaza e em Israel —, é realmente assustador pensar que será ele a comandar. O facto de Trump controlar o poderio militar norte-americano é mesmo o mais assustador. Não é algo que queira prever, mas é com o que estou mais assustada. Se for Presidente, também pode escolher juízes para o Supremo Tribunal. É por isso que, no seu mandato entre 2016 e 2020, o nosso Supremo Tribunal mudou tão rapidamente, assim como o número de casos que acolhem. Mas a sua possível gestão da política externa é mesmo assustadora.

Erika Uyterhoeven teme a gestão de política externa por parte de Donald Trump

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Sobre política externa, os democratas têm estados divididos sobre Gaza. No apoio à Ucrânia, existe uma maior união, mas em Gaza existem opiniões divergentes, com a ala mais à esquerda a criticar a ajuda norte-americana a Israel. Considera que a gestão deste conflito pode prejudicar Joe Biden?
Absolutamente. Quero apenas destacar, por exemplo, que houve a campanha Listen to Michigan [em que os democratas naquele estado não votaram em Joe Biden e preferiram votar na opção ‘nenhum dos candidatos’ por causa do desacordo com a gestão da guerra em Gaza], que foi uma maneira de expressar que não estamos contente em relação à forma como estão a lidar com esta crise. Em primeiro instância, considero que algo em que podemos concordar é que queremos ver paz. E que existem alguns mecanismos diplomáticos que podiam ser usados para alcançar um acordo para o cessar-fogo e para alcançar a paz. O que se passa em Gaza é verdadeiramente ultrajante e doloroso.
A resposta norte-americana, financiando Israel, é inconsciente com a maneira como os Estados Unidos gere a sua política externa. Há inconsciências. É por isso que vemos os protestos dos estudantes — sentem a injustiça da situação. Na minha cidade, por exemplo, um em quatro eleitores para estas primárias presidenciais votaram ‘nenhum dos candidatos’, depois do que aconteceu no Michigan. Foi a forma como a cidade respondeu à gestão do conflito. O meu desejo é que Biden tome uma atitude mais assertiva. Está a enterrar-se e não de uma forma útil. No final do dia, queremos humanidade e dignidade para todas as pessoas. Além disso, verifica-se o aumento de islamofobia e antissemitismo, o que é realmente preocupante e é algo que assistimos nos Estados Unidos. Onde governo, temos visto muitos acidentes relacionados com islamofobia e com um sentimento anti-muçulmano.

Sobre a gestão da guerra em Gaza, o que pode acontecer se Trump for eleito? E Biden, como é que vai continuar a gerir este conflito?
As coisas vão ser piores se Trump for eleito. Mas é o que é. Os Estados Unidos têm um sistema de dois partidos, temos duas escolhas. É muito diferente de Portugal, porque vocês têm muitos partidos com diferentes posições. E novos partidos podem aparecer e eleger alguns deputados. Nas eleições presidenciais norte-americanas, apesar de haver algumas exceções em outros estados, é um sistema de dois partidos. Não estou a defendê-lo ou a justificá-lo, é a realidade. Do lado dos democratas, temos sempre debates sobre o que fazemos e que posições adotar. Mas no final do dia, este sistema é o que vamos enfrentar em novembro. É realmente desafiante.

O sistema bipartidário norte-americano e o socialismo democrático

Em política local, onde desempenha funções, como é que esse sistema influencia a política? Como é que trabalhar a nível local?
Acho que as pessoas estão mais interessados nas bandeiras que os candidatos defendem. As pessoas têm curiosidade sobre os temas, então foco-me neles. No meu distrito, as pessoas querem um progressista, na aceção da esquerda do Partido Democrata, e querem um progressista em todos os assuntos. As pessoas perguntam como é que me posiciono em alguns assuntos. Noutros lados, como é um sistema de dois partidos, há muita insatisfação em ter de fazer uma escolha. É por isso que há muitas pessoas que não se inscrevem [como eleitor democrata ou republicano]. Eles vão votar na pessoa que acham mais capaz e não fazem qualquer tipo de statement a anunciar o seu voto. Mesmo no Massachusetts, que é um estado democrata, existem muitos que não se inscrevem em nenhum partido.
Tendo em conta o sistema que temos, devemo focar-nos em assuntos que têm impacto nas pessoas. O meu trabalho enquanto legisladora é perceber que como nos juntamos em redor de assuntos com os quais concordamos todos e no que devemos fazer. Há muito em que podemos concordar. Isto em termos locais, porque em termos federais… É mais difícil. A rigidez do sistema de partidos políticos cria uma espécie de tensão.

"Acho que as pessoas estão mais interessados nas bandeiras que os candidatos defendem. As pessoas têm curiosidade sobre os temas, então foco-me neles. No meu distrito, as pessoas querem um progressista, na aceção da esquerda do Partido Democrata, e querem um progressista em todos os assuntos"
Erika Uyterhoeven

Li nas suas redes sociais que se identifica como socialista democrática. Como se organizam? Que tipos de dinâmicas criam?
É uma identidade muito importante para mim. Reflete sobre a forma como se traz mais democracia às nossas instituições. Sobre como é que a democracia funciona no local de trabalho e nas instituições públicas. Sobre como se tomam decisões que vão beneficiar todos. Na minha ótica, os políticos têm de se centrar primeiramente em assegurar as necessidades das pessoas — em educação pública, cuidados de saúde, transportes públicos —, em vez de ter uma visão individualista de que se se trabalhar arduamente vai alcançar-se algo. Quando as pessoas me perguntam o que socialismo democrático significa para mim, muitos perguntam-me se sou comunista ou assim. Mas quando explico como funciona e o que é, as pessoas entendem.

Também se envolveu na política britânica. Como é que isso aconteceu?
É uma história engraçada. Tinha saído da campanha do Bernie Sanders e, como já estava tão habituada nestas andanças políticas e sou cidadã da União Europeia do lado do meu pai, ouvi dizer em França que Jeremy Corbyn [antigo líder do Partido Trabalhista] ia enfrentar eleições antecipadas em 2017.
Envolvei-me, porque os trabalhistas estavam à procura de alguém que tivesse estado na campanha de Bernie e que entendesse a dimensão dos assuntos. Continuo a achar que havia um certo alinhamento entre a mensagem do Bernie e a de Jeremy Corbyn. Por exemplo, no Reino Unido, apelam a um serviço nacional de saúde (NHS) mais forte, nos EUA também através do Medicare.
O mais surpreendente foi como as mesmas estratégias funcionam em dois países diferentes. O que tentei fazer nos dois casos foi chamar pessoas para o processo político. Essa era o principal problema do Partido Democrata, como também do Partido Trabalhista nessa altura. Neste sentido, as semelhanças na campanha têm a ver com a habilidade de trazer para o processo político pessoas que tipicamente não estão envolvidas na política. Como as envolver, como se faz isso, que canal é que se escolhe, que estratégia…
A campanha de Corbyn foi uma versão curta do que fizemos durante a campanha do Bernie, porque a corrida presidencial na América é muito longa — dura mais do um ano. Em resumo, em ambos os casos, havia pessoas que não tinham nada a ver com campanhas políticas e que se envolveram. Isso implica investimento, implica apoiar os voluntários, dar-lhes conhecimentos e ferramentas; como persuadir, o que fazer, como construir uma pequena base e como expandi-la.

 
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