“Se a imagem do desemprego nos EUA é a de uma estação de serviço no caminho entre dois empregos, a imagem do desemprego português é a de uma poça de água estagnada, com baixos fluxos de entrada e de saída e de longa duração.” A descrição é de um estudo com quase 20 anos, mas Pedro Portugal, professor e especialista em economia do trabalho, admite que ainda possa, de uma forma genérica, aplicar-se à realidade atual. Em 2001, juntamente com o também economista Olivier Blanchard, o investigador traçou as diferenças entre o mercado laboral português e o norte-americano — “dois casos extremos na proteção ao emprego” –, numa altura em que as taxas de desemprego de ambos os países eram muito semelhantes (rondavam os 6%).
Vinte anos depois, “muito pouco mudou”, conclui o professor ao Observador: não no que toca ao desemprego (que, no pré-pandemia, rondava os 3,5% nos EUA e os 6,4% em Portugal), mas sobre a volatilidade do emprego, que continua a ser maior na economia norte-americana. Não só é mais fácil e menos oneroso para as empresas contratar e despedir, como estar no desemprego é, regra geral, uma situação passageira e transitória. Por cá, é mais prolongada e os contratos de trabalho estão mais balizados quanto aos direitos do patrão e dos funcionários. “São traços estruturais das economias, dos países, são características culturais e institucionais que demoram décadas a mudar” — e que têm influência na forma como o mercado de trabalho responde a choques externos, como uma pandemia, diz o também economista do Banco de Portugal.
Em 2001, os investigadores concluíam mesmo que a proteção no emprego (maior em Portugal) fazia diminuir os fluxos de emprego (entradas e saídas do mercado de trabalho) e, por consequência, aumentava a duração do desemprego. A lógica é simples: a proteção ao emprego implica que as empresas tenham mais custos na hora de despedirem (por exemplo, com as indemnizações), logo, só despedem em situações limite. Quando isso acontece, os trabalhadores também se mantêm mais tempo no desemprego, porque, como os empregadores sabem que não podem dispensar facilmente o funcionário, estão menos disponíveis para contratar. Esta dinâmica é particularmente relevante no contexto atual, de forte incerteza quanto ao futuro.
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