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O euro começou a circular fisicamente a 1 de janeiro de 2002, há 20 anos
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O euro começou a circular fisicamente a 1 de janeiro de 2002, há 20 anos

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O euro começou a circular fisicamente a 1 de janeiro de 2002, há 20 anos

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Euro faz 20 anos. "Toda a gente queria agarrar euros"

A moeda única entrou nas carteiras físicas dos europeus a 1 de janeiro de 2002. Faz 20 anos. É a segunda moeda mais usada em todo o mundo.

Ainda faltavam uns minutos para a meia-noite quando no quartel-general da SIBS caiu a primeira transação em euros. O calendário ainda não tinha virado para o dia 1 de janeiro de 2002. Pelo menos em Portugal. Em França, de onde tinha sido originada a transação com um cartão de débito emitido por um banco nacional, já os relógios estavam a apontar para um novo dia.

Uma operação que ficou na memória de Valentim Oliveira, diretor de Segurança Corporativa da SIBS, porque aconteceu de forma isolada e naquele dia em que se comemorou a passagem de ano a trabalhar — o que, aliás, não foi inédito, poucos anos antes, na passagem de 1999 para 2000 o medo do que acabou designado de bug do ano 2000 tinha deixado muita gente expectante e de plantão.

Mas na viragem de 2001 para 2002, a expectativa era outra. E por isso essa transação com origem em França deixou os muitos trabalhadores da SIBS pregados ao ecrã. Virada a hora até na empresa que gere a rede de multibancos houve corrida aos terminais aí instalados. “Toda a gente queria agarrar euros”, recorda Valetim Oliveira ao Observador.

O trabalho de adaptação tinha começado uns anos antes.

Uma fixação que beneficiou Portugal

Em 1998 a União Europeia decidiu ter uma moeda comum. Designou-a euro e no início de 1999 é conhecida a taxa de conversão entre as várias moedas. Portugal teve a sorte, nas palavras de Guilherme d’Oliveira Martins, ministro das Finanças há 20 anos quando o euro começou a circular fisicamente, de ficar com uma taxa de conversão de fácil cálculo. 1 euro foi fixado em 200,482 escudos.

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“A primeira dificuldade que se podia colocar tinha a ver com a fixação dos valores de conversar e saber se isso teria um efeito inflacionista”, relembra ao Observador Guilherme d’Oliveira Martins, acreditando que o valor que acabou escolhido “em bom rigor resolveu parcialmente a questão”. As contas não eram complicadas: 5 euros eram 1000 escudos ou 1 conto; 1 euro eram 200 escudos e 2 euros 400 escudos. 50 cêntimos eram 100 escudos, arredondando.

Havia, ainda assim, uma preocupação de esses arredondamentos fazerem disparar a inflação. “Os arredondamentos pareciam indiciar um aumento da inflação”, tendo sido “posto em prática um sistema de controlo de preços para evitar, relativamente a um cabaz de compra definido, uma evolução inflacionista que fosse superior à média esperada de cerca de 2%” e “não houve grande descontrolo”, acrescenta o ex-ministro das Finanças.

Portugal ficou com uma taxa de inflação em 2002 de menos de 4%. Mas Guilherme d’Oliveira Martins é o primeiro a recordar que embora não tivesse havido grande descontrolo, houve uma contradição aparente. O cidadão comum teve a perceção de que os preços tinham disparado. Segundo conta o Expresso, o café em alguns pastelarias passou de 50 escudos (25 cêntimos de euros) para 50 cêntimos de euros de um dia para o outro. Uns arredondamentos terão compensado outros.

E terá também sido para não pressionar a inflação que Portugal se bateu pela existência de moedas de um e dois cêntimos, cuja retirada tem sido falada. Mas Pedro Marques, diretor do departamento de emissão e tesouraria do Banco de Portugal, “rouba” as palavras a Mário Centeno, governador do banco central, que à Sábado considerou que  a eventual retirada dessas moedas “tem um impacto muito pequeno e transitório na inflação, no nosso dia a dia”. Mas essa será uma decisão da Comissão Europeia. Certo é que, neste momento, há cerca de 140 mil milhões de moedas de euro em circulação e metade são moedas de 1 e de 2 cêntimos. Os custos de produção destas moedas, realça Pedro Marques, é maior do que o seu valor facial, além de que bancos e retalhistas “incorrem em custos consideráveis com o seu manuseamento e embalamento. O público em geral também não lhes dá valor”.

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Há 140 mil milhões de moedas de euro em circulação. Metade são de 1 e 2 cêntimos. Bruxelas admite retirar estas moedas. Para Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, isso deverá ter “um impacto muito pequeno e transitório na inflação, no nosso dia a dia”.

Num Eurobarómetro realizado pela Comissão Europeia, divulgado em dezembro, enquanto na Zona Euro 65% dos inquiridos mostraram-se a favor do fim destas moedas, o apoio à medida em Portugal desceu para 55%. Portugal foi mesmo dos países com a mais baixa taxa de apoio à retirada destas moedas. Num inquérito em que, no entanto, os portugueses se revelaram mais favoráveis à moeda única que a média da Zona. 72% dos portugueses dizem que ter euro é bom para o país, enquanto essa percentagem desce aos 69% na média do bloco. Percentagens que sobem quando se questiona se o euro é bom para a União Europeia: 82% e 78% respetivamente.

O impacto do euro na percepção dos europeus, de acordo com o último Eurobarómetro divulgado em dezembro

O euro chegou em 2002, fisicamente, carregado de moedas de 1 e 2 cêntimos, mas também de 50 cêntimos, 1 euro e 2 euros. Já as notas surgiram com valor facial de 5, 10, 20, 50, 100, 200 e 500 euros.

A produção começou em 2000.

Portugal não requisitou notas de 500 euros e já destruiu muitas

Para que as notas e moedas entrassem em circulação a 1 de janeiro de 2002 os bancos e retalhistas começaram a receber euros semanas antes. Até ao dia D foram distribuídas pelo Banco de Portugal pelo sistema bancário 1.837 milhões de euros em notas e 182 milhões em moedas, num total de 2.019 milhões para abastecer ATM, rede de balcões, retalhistas e público.

“Entregámos aos bancos sem qualquer contrapartida e sem debitar o valor que estávamos a entregar”, lembra Pedro Marques, explicando que os euros foram debitados aos bancos em janeiro em três tranches. As moedas começaram a ser entregues aos bancos em setembro de 2001 e as notas em outubro. Em dezembro foram os bancos que ficaram autorizados a começar a colocar junto de retalhistas e a 17 de dezembro começaram a ser cedidos mini kits ao público.

Mas toda a logística não era fácil e a segurança tinha de estar em primeiro lugar. Guilherme d’Oliveira Martins recorda-se mesmo de os transportes de valores serem sigilosos. “Teve de ser completamente secreto e reunido de grande segurança” e assegura: “nem nós no Ministério sabíamos as horas e os dias em que as transferências iam ser feitas”. Portugal não requisitou todas as notas a que tinha direito, assegura o ex-ministro, argumentando que a digitalização no país a isso também ajudou.

Guilherme d'Oliveira Martins era ministro das Finanças quando o euro começou a circular fisicamente, a 1 de janeiro de 2002

LUSA

Também não foram, diz o ex-ministro, requisitadas notas de 500 euros. Notas que, aliás, tiveram ordem de saída da Zona Euro. Já não se produzem e muitas têm estado a ser destruídas. Mas ainda há muitas em circulação. Em Portugal, a maior parte das notas de 500 euros que aparecem, deve-se ao turismo, pelo que agora até se notou um menor número em circulação. Não se acabou de vez com as notas. Os bancos comerciais estão autorizados a entregar notas de 500 euros, mas quando há excesso entregam ao banco central para serem destruídas. E desde 27 janeiro de 2019 que não se fornece à economia notas 500 euros. Segundo dados avançados pelo Banco de Portugal ao Observador, desde 28 janeiro de 2019 e até final de novembro deste ano o banco central nacional recebeu 2,3 milhões de notas de 500 euros que foram destruídas. No final de novembro 2021 ainda se encontrava em circulação em todo o mundo 376 milhões de notas deste valor facial, ou seja 188 mil milhões de euros.

Notas de 500 euros que nunca tiveram produção em Portugal. Mas há notas a ser impressas no país?

Fábrica do Carregado pensada para o euro

O euro foi lançado a 1 de janeiro de 1999, mas apenas para operações contabilísticas. 12 Estados-membros, já unidos na União, uniram-se numa moeda, que hoje é de 19 países.

Decidida a existência do euro, havia que cumprir os chamados critérios de convergência — estabilidade de preços, dívida até 60% do PIB, défices abaixo de 3%, taxas de juro e então taxas de câmbio. E Portugal, que tinha em 1998 no Ministério das Finanças Sousa Franco, cumpriu. E entrou. Durante três anos o euro seria invisível, para a 1 de janeiro 2002 começar a ter rosto.

O BCE apelida esta mudança como a “maior transição monetária jamais realizada no mundo, envolvendo o setor bancário, empresas de transporte de valores, retalhistas, a indústria de máquinas que operam com numerário e, naturalmente, o público em geral”. Em setembro de 2001 começou a logística da entrega. Mas a produção começou antes.

A produção de notas de euro teve início em julho de 1999 em 15 fábricas em toda a União Europeia. Até 1 de janeiro de 2002, produziram-se, em todo o bloco, 14.890 milhões de notas com um valor facial total de cerca de 633 mil milhões de euros. Segundo o BCE, “as notas, se colocadas em fila, cobririam cinco vezes a distância entre a Terra e a Lua”. E cerca de 52 mil milhões de moedas, com um valor de 15.750 milhões de euros, foram cunhadas em 16 casas da moeda europeias, tendo sido utilizadas 250 mil toneladas de metal.

Portugal foi um dos países que contribuiu para essa produção.

E com o euro à espreita o Banco de Portugal tomou a decisão de criar uma empresa para imprimir dinheiro. Num acordo feito com uma gráfica criou a Valora, na qual detinha inicialmente uma posição de 75% e que hoje é de 100%. Foi assim que nasceu no Carregado a “casa de papel” portuguesa.

Pedro Marques não se esquece da data. A 20 abril de 1999 arrancou a Valora para começar a produzir em 2000, tendo-se decidido não imprimir em Portugal notas de 100, 200 e 500 euros. “Tinha elementos de segurança mais complicados, o que implicaria um investimento muito grande, e são notas que têm uma circulação pequena em Portugal”. Daí que a opção foi produzir 5, 10, 20 e 50 euros.

Até à entrada em circulação, a 1 de janeiro de 2002, produziram-se no Carregado 535 milhões de notas, número que cresceu até aos 5,5 mil milhões até aos dias de hoje (sendo 4,5 mil milhões notas de euros — 3 mil milhões da primeira série e 1,5 mil milhões da segunda — e o restante de outros países).

O dinheiro impresso passava para o Banco de Portugal que ainda recebia de outros países outras notas. A produção das moedas acontece na Imprensa Nacional da Casa da Moeda.

Nesse ano de 2001 foram, então, distribuídas ao sistema bancário 2.019 milhões de euros. Foi o montante colocado para o arranque do euro em Portugal.

Nos bancos outras máquinas tiveram de começar a operar. As caixas multibanco tinham de ser abastecidas.

Uma operação rápida nas caixas de multibanco

O trabalho na SIBS começou também antes de 1999, para que quando o euro entrasse em vigor os sistemas comportassem as duas moedas. Euro e escudos conviveram em toda a contabilidade nesses primeiros anos, e ainda conviveram fisicamente até 28 de fevereiro de 2002.

“Alguns anos antes de 2002 começámos a alterar as nossas aplicações para poder suportar as duas moedas”, recorda Valentim Oliveira, para que tanto terminais de pagamento como caixas automáticas conseguissem responder. Havia mais de 100 mil terminais de pagamento e cerca de 8.500 ATM.

À meia noite de 31 de dezembro de 2001 já havia caixas multibanco com euros e escudos. Até ao último dia do ano havia que dispensar escudos. A partir de 1 de janeiro já teria de sair da boca do multibanco euros. Nessa altura, esses terminais tinham, na maioria, quatro cacifos com notas, pelo que havia que substituir esses cacifos rapidamente para aqueles que continham euros. “Podiam ser intervenções rápidas”, lembra o responsável da SIBS que assim garantiu que no final de 1 janeiro de 2002 estavam 63% ATM a funcionar com euros e ao fim de quatro dias chegou aos 100%.

Mais demorado foi o processo de  mudança dos próprios terminais, já que alguns deles tinham teclas com escudos. Mas mesmo essa alteração não levou muito tempo, recorda.

caixas multibanco 2005

Exemplo de uma caixa multibanco em 2005. Imagem: SIBS

O BCE realça que, a 3 de janeiro de 2002, 96% dos caixas automáticos na área do euro disponibilizavam notas da moeda única.

No final de 2001, antes da entrada do euro em termos físicos, havia a circular 5.823 milhões de euros em notas/moedas de escudos. Ora, conta Pedro Marques, durante 2002 foram retiradas notas e moedas de escudos equivalentes a 5.575 milhões de euros, ou seja 96% do montante em circulação em final de 2001. Foi, “sem dúvida”, o ano com mais entregas de escudos. Já na Zona Euro, até março de 2002 foram retirados de circulação mais de seis mil milhões de notas e cerca de 30 mil milhões de moedas nacionais.

Ainda hoje o Banco de Portugal se debate com a não entrega de escudos. Ainda há cerca de 11 milhões de notas, cujo valor estimado é de 95 milhões de euros (o equivalente a quase 20 mil milhões de escudos), em circulação (guardadas, já que não podem ser utilizadas). E a última série produzida de escudos — designada série dos Descobrimentos — só pode ser trocada até 28 de fevereiro de 2002.

Últimas notas de escudo podem ser trocadas até 28 de fevereiro de 2022

A maior “transição monetária jamais realizada no mundo” aconteceu em 2002. Faz agora 20 anos. Decorreu, lembra Guilherme d’Oliveira Martins, “sem sobressaltos e dentro dos prazos”. O contacto entre ministro das Finanças e o governador do Banco de Portugal — Vítor Constâncio — era constante. Em menos de um mês, 90% das transações já eram feitas em euros, mas o ex-ministro admite que a rede de ATM e a digitalização do país contribuíram para essa transição. Recorda o consenso quase generalizado entre os partidos — o PS seria Governo por mais uns meses — nomeadamente os designados por partidos do arco da governação.

Em 23 dias, recorda, a passagem de testemunho estava feita. O euro vivia. O escudo morria. A 1 de janeiro de 2002 as caixas multibanco e o comércio começavam a debitar notas e moedas com o símbolo do euro que, com perturbações pelo caminho, se mantém como a segunda moeda mais utilizada em todo o mundo.

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