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YASUYOSHI CHIBA/AFP/Getty Images

YASUYOSHI CHIBA/AFP/Getty Images

"Gosto de inspirar os mais novos"

Fez um stop nos estudos para dedicar-se aos JO. Quer inspirar os jovens e luta diariamente contra o ego, colocando a fasquia mais longe. A máxima é "um sonho de cada vez". A estreia é hoje, às 00h30.

É a maior inspiração de Filipa Martins. Dominque Moceanu, uma norte-americana nascida em Hollywood, Los Angeles, foi medalha de ouro por equipas nos Jogos Olímpicos de 1996. A caminhada até ali é que foi complicada, devido à relação dura com o pai, que a chegou a agredir. Aos 14 anos venceu essa medalha de ouro, a primeira da ginástica americana. Dois anos depois pediu a emancipação dos seus pais. Com sucesso.

Moceanu deixou a ginástica em 2006 e casou. Quando esperava o primeiro filho, aos 26 anos, recebeu uma carta de alguém que dizia ser sua irmã. Os pais haviam dado Jennifer para adoção, por imposição do pai. A mãe de Dominique nem chegou a pegar em Jennifer. E quando falaram pela primeira vez ao telefone, as peças começaram a juntar-se: Jennifer nascera sem pernas. O pai das meninas era obcecado pela carreira na ginástica de Dominique. A parte surreal aqui é que Jennifer, que também competiu em voleibol, basquetebol e ginástica, seguiu os Jogos Olímpicos de Atlanta, de 1996, com especial atenção. O ídolo era… Dominique Monceanu.

"Dominque Monceanu é a minha preferida, era uma grande inspiração, porque tinha mesmo orgulho e gosto em fazer aquilo, via-se a cada prova"
Filipa Martins

“É a minha preferida, era uma grande inspiração, porque tinha mesmo orgulho e gosto em fazer aquilo, via-se a cada prova”, conta ao Observador Filipa Martins, ali bem ao lado da Aldeia Olímpica. A ginasta portuguesa estreia-se nos Jogos Olímpicos, o sonho de sempre, esta noite na Arena Olímpica — 00h30 em Portugal.

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“Quando comecei a competir e vi que tinha algum jeito para a modalidade, o sonho, desde início, foi ir aos Jogos Olímpicos. Não tenho outro, tenho 20 anos. Um sonho de cada vez. Depois deste, penso no próximo”, diz, sempre entre sorrisos abertos.

Captura de ecrã 2016-08-07, às 10.43.45

A caminhada para o samba

Filipa Martins é uma das revelações deste trajeto até aos JO no Rio de Janeiro, é o próprio Comité Olímpico que o diz. A atleta do Sport Club do Porto conseguiu, em 2013, algo inédito para a ginástica portuguesa: apuramento para a final de All-Around no Campeonato da Europa de Ginástica Artística, em Moscovo. Terminou em 15º lugar.

Em 2014, a menina da Invicta garantiu mais um feito inédito em Portugal: foi a primeira a apurar-se para uma final de All-Around de um Campeonato do Mundo. Ficou em 16º, em Nanning, na China.

A atleta que pratica ginástica desde os quatro anos tem somado belas participações em Taças de Mundo. A prova são as três medalhas — ouro, prata e bronze — conquistadas em Anadia, em 2014. Na Colômbia, em Medellin, meteu ao bolso mais uma de ouro e outra de bronze. Sem fastio, voltou a ser número 1 no circuito de Taças do Mundo FIG de Paralelas Assimétricas.

Em abril de 2016 chegou a notícia mais esperada: o Rio de Janeiro será uma realidade. "Estou muito contente, mas ainda não caí bem em mim. Se calhar amanhã festejo de outra maneira", disse então.

Em 2015 continuou com o vento a favor, e o sonho dos Jogos continuava a ser bem palpável. Na Taça do Mundo de Cottbus, na Alemanha, ganhou duas medalhas de bronze. Depois mais uma de prata em Anadia e uma de bronze na Trave na 28ª edição das Universíadas de Verão que decorreram em Gwangju, na Coreia do Sul.

Em abril de 2016 chegou a notícia mais esperada: o Rio de Janeiro será uma realidade. “Estou muito contente, mas ainda não caí bem em mim. Se calhar amanhã festejo de outra maneira”, disse então.

A escola, o ego, a inspiração e o amanhã

Tudo começou aos quatro anos, por iniciativa dos pais. Nunca praticou outros desportos. Só ginástica. Os olhos dizem o mesmo. Brilham, hesitam pouco. Mas os sacrifícios — os jovens valorizam pouco, diz — estiveram sempre presentes. A escola foi um deles.

“Estou a estudar Ciências do Desporto na Universidade do Porto, mas este ano congelei a matrícula para me dedicar aos Jogos Olímpicos. Tem sido difícil conciliar. Desde o sétimo ano que treino de manhã e de tarde, não tem sido fácil desde essa altura. Tive de faltar a algumas aulas, apanhar a matéria mais tarde. Só foi possível com a ajuda dos meus pais e treinador, que me iam buscar e levar ao treino”, conta.

"Na ginástica aprendemos muito para a vida futura e pessoal, porque temos muita disciplina, muitas regras. Isso ajuda-nos um bocadinho, para quando deixarmos a ginástica, a sermos melhores pessoas."

“Agora na faculdade é mais difícil, porque tenho muitas aulas práticas e torna-se cansativo ao final do dia ainda conseguir treinar.” Filipa Martins treina entre três horas e meia a seis horas por dia. Não resiste a esboçar uma gargalhada quando vê os olhos do entrevistador a esbugalhar.

Vamos lá a assuntos sérios, então. Agora que é uma atleta olímpica, dorme-se melhor ou pior? Sai mais uma risada para a mesa do canto. “Não sei bem. Durmo melhor porque estou aqui e porque sei que é um objetivo que tinha, mas ao mesmo tempo estou sempre preocupada com a prova. Só depois de passar a prova é que vou dormir mesmo bem”, admite.

Ana Filipa da Silva Martins (1.63m e 56 quilos) fica mais séria quando o Observador lhe pergunta como é que a ginástica a mudou, ou moldou. Afinal, são 16 anos na sombra uma da outra. “Aprendemos muito para a vida futura e pessoal, porque temos muita disciplina, muitas regras. Isso ajuda-nos um bocadinho, para quando deixarmos a ginástica, a sermos melhores pessoas.”

Os sacrifícios, o desafio diário, a superação, a dor e a correria para levar a melhor sobre a malvada, são algo que fomenta nas redes sociais. A ginasta de 20 anos é muito ativa no Instagram e Facebook, publicando momentos de treino e lazer. Há equilíbrio. Escreve, sobretudo, mensagens de quem quer que os outros à volta levantem o queixo e sigam a luta.

“Gosto de inspirar os mais novos a fazerem desporto. Não só por fazer e lazer, mas também para terem motivação para sofrer, porque muitos jovens, hoje em dia, não sabem o espírito de sacrifício para chegar mais longe. Uso também, obviamente, para sentir o carinho das pessoas, sobretudo por mensagens. É muito bom.”

"Gosto de inspirar os mais novos a fazerem desporto. Não só por fazer e lazer, mas também para terem motivação para sofrer, porque muitos jovens, hoje em dia, não sabem o espírito de sacrifício para chegar mais longe"
Filipa Martins

A dança entre entrevistado e entrevistador é sempre a mesma, sendo que têm objetivos opostos: um tenta surpreender, outro tenta não ser surpreendido. Quaisquer cinco segundos de pausa, em suspenso, de silêncio, é uma vitória. “E como é gerir o fantasma do ego? Ele existe?” Tic-tac, tic-tac (com sorrisos muitos, claro)…

“Existe. Tento inspirar-me todos os dias em muitos ginastas melhores e que já foram campeões olímpicos. Tento motivar-me a mim própria a cada treino, para superar-me, para chegar mais longe.” Ou seja, o ego controla-se colocando a fasquia mais à frente, mais longe, qual cenourinha impossível de alcançar.

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O sucesso nunca atrapalhou, diz. As derrotas já dão mais trabalho, porque não cair é uma luta diária. “Com cada vitória e derrota conseguimos aprender. Tento superar essa derrota para ser melhor. Uma derrota não nos pode deitar abaixo. Serve, sim, para querermos ser melhores.”

"Queria tentar ir aos próximos Jogos Olímpicos de Tóquio e, quem sabe, os próximos"
Filipa Martins

A ginasta não quer apontar a medalhas, será difícil. O objetivo passa por garantir a final de All-Around e desfrutar da vida olímpica. “Está a ser uma experiência única. O objetivo é aproveitar ao máximo todos os momentos aqui. Sei que medalhas é muito difícil. Está tudo tranquilo, um treino de cada vez, um dia de cada vez”, atira, reconhecendo ainda que o aparelho para o qual estará melhor preparada é em paralelas. “O que está ao meu alcance é o All-Around”, repete.

Filipa Martins não quer ficar por aqui. “Queria tentar ir aos próximos Jogos Olímpicos de Tóquio e, quem sabe, os próximos.” A portuguesa estreia-se este domingo na Arena Olímpica, pelas 20h30 brasileiras (00h30 em Portugal).

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