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KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

KIMMY SIMÕES/OBSERVADOR

"Guerra dos Tronos". Cinco teorias para o final por cinco argumentistas

A pergunta era simples: "Se dependesse de si, como terminaria a Guerra dos Tronos?" As respostas de cinco argumentistas têm pontos em comum, mas também muitas diferenças. Ainda assim, o anão vive.

Pode surgir uma outra, daqui a algum tempo, que a supere, mas a tarefa não será fácil. A “Guerra dos Tronos” é a série mais popular de sempre, ponto final. Os números, os fãs, as notícias, os comentários e as teorias multiplicam-se. Aliás, quase que juramos que depois de ter sido transmitido o último episódio, na madrugada de domingo para segunda, tudo vai continuar e haverá alguém (ou muita gente) a dizer que isto ainda não acabou, que ainda vai acontecer mais alguma coisa, que afinal até Ned Stark está vivo. Sabe-se lá.

A curiosidade de saber quem ficará no Trono de Ferro quando toda esta mortandade acabar é muita. E também o é em Portugal, país recheado de fãs da produção da HBO. Por isso, fomos à procura de cinco deles que, além de fãs, também fossem argumentistas. Ou seja, gente com conhecimentos técnicos para poder escrever um último episódio com as próprias mãos. E fizemos a mais simples das perguntas: como é que a Guerra dos Tronos vai acabar? Estas são as respostas. E fica o aviso: qualquer semelhança com a futura realidade que ainda ninguém conhece é pura coincidência.

[as primeira imagens do último episódio de “Guerra dos Tronos”:]

Alexandre Borges

O que fica do que sobra

Houve um tempo em que todos éramos treinadores de bancada, outro em que todos éramos comediantes; até domingo, vivemos oficialmente a época em que somos todos guionistas e realizadores da “Guerra dos Tronos” – connosco, que escrevemos na imprensa, à cabeça.

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A temporada final prepara-se para ser o que está a ser: até petições a exigirem a reescrita “por escritores competentes” correm por aí – um exagero pedante, ao espírito do tempo, que se acha muito liberal, mas adora atirar corpos para a fogueira.

Dito isto, que faríamos com o que há? Eu faria isto que se segue:

Cersei ainda está viva. Porque tem de ser Arya a matá-la: é o primeiro nome da lista dela desde o final da temporada 1 e ainda precisamos de ver morrer em grande aquela que foi, consistentemente, a grande vilã de GoT;

Jon Snow mata o dragão, qual São Jorge. Jon tem o perfil de santo, desde o princípio, muito mais que o de rei. Sempre recusou o poder temporal, fez o juramento da Patrulha da Noite (que se confundia com os votos de uma ordem de monges), quase recusou os prazeres da carne depois da morte de Ygritte (tirando uma volta ou outra com a tia, sempre meio desconfortável). Provavelmente, morre na sequência dos ferimentos sofridos na luta, uma vez que terá cumprido a missão para a qual foi ressuscitado. Ou então não. Morre de velho, servindo na muralha, como o tio Targaryen, quase cego, e dando razão ao carácter aparentemente profético da estátua que o representava velho na cripta de Winterfell;

Daenerys morre um pouco antes, caindo do dorso do dragão para as chamas. Jon chora muito, mas não é ele que a pode matar. Arya também não a pode matar, dizemos nós. Apesar de tudo, foram demasiados anos a fazer-nos gostar de Daenerys; dificilmente perdoaremos à personagem que a mate. E nem Jon nem Arya podem despedir-se do espectador carregando esse fardo;

Sansa e Tyrion sobem ao trono de ferro e governam os sete reinos em paz e prosperidade. Starks e Lannisters juntos (ou Targaryens, se ainda houver espaço para concretizar a teoria de que Tyrion é, na verdade, um “dragão”). Mas governam mesmo os dois, como casal real, e não apenas tendo Sansa como rainha e Tyrion como “mão”. Afinal de contas, ainda são formalmente casados (julgo). E poderão cumprir o grande projeto político de governar em democracia e liberdade;

Como aparece Sansa nesta história, tendo em conta que estamos retidos a Sul? Vem, com Brienne, Gendry e Yara Greyjoy e toda a tropa que poder, em socorro de Jon na batalha contra o dragão, respondendo ao pedido de socorro de Davos Seaworth (o recado que Tyrion lhe pediu no episódio 5);

Reconsiderando: alguém pode matar Daenerys, sim. Sem ferir especialmente os sentimentos do espectador. É Sansa;

Arya fica senhora de Winterfell; Bronn dos High Gardens; Gendry de Storm’s End; Yara das Ilhas de Ferro; Brienne, Sam e Davos de mais outros tantos reinos, começando novas dinastias;

Os mortos vêm buscar Jon, Bran descobre o porno, e tudo o mais é o que quiserem.

In the lord of light we trust.

Daenerys Targaryen

Ana Markl

A tia com mau feitio e o pequeno grande rei

O penúltimo episódio de Guerra dos Tronos acabou com um faustoso barbecue no quintal de Cersei. Isto deixou-nos com um cliffhanger de génio para o derradeiro episódio: quem irá limpar aquela porcaria toda? Arya saiu à francesa, por isso vai ter de ser a chata da Daenerys, que foi a única que não bebeu porque tinha de conduzir o dragão.

Na verdade, é um castigo merecido: a festa acabou cedo porque toda a gente bebeu de mais e a culpa foi precisamente de Daenerys, que disse que percebia de grelhados mas deixou queimar tudo.

Enquanto anda por lá a apanhar corpos — perdão, copos –, Daenerys maldiz a sua vida, até que encontra Jon Snow.

Jon Snow
Sempre com esse mau feitio…

Daenerys
Seu estúpido, eu não sou assim, tu é que me obrigas a fazer estas coisas.

Jon Snow
Ó tia, deixe lá isso que eu arrumo.

Ao ouvir a palavra “tia”, Daenerys passa-se outra vez. O dragão aproxima-se de Jon Snow de forma ameaçadora e ele aproveita para acender um cigarro porque, durante o churrasco, alguém lhe gamou o isqueiro. Enfim, o costume. Perante a reação de Daenerys, Snow atrapalha-se.

Jon Snow
(tentando desculpar-se)
Não é “tia” nesse sentido… é tipo Cascais, percebe?

Daenerys
(desconfiada)
Hmmm. Desta vez passa. Vá, beijinho à tia.

Daenerys e Jon Snow beijam-se na boca apaixonadamente.

Entretanto, Tyrion Lannister chega ao barbecue atrasado, como é seu costume e interrompe a cena escaldante entre Jon Snow e Daenerys, pigarreando para se fazer notar. Vai pigarreando cada vez mais alto, sendo que é sempre muito baixo. Ao fim de poucos minutos, os dois amantes lá reparam, recompõem-se e disfarçam.

Tyrion
Onde é que anda a minha irmã Cersei?

Daenerys
(tentando disfarçar)
Bebeu de mais, está para aí caída em qualquer lado.

Tyrion
Então e agora quem é que vai tomar conta disto tudo?

Os três entreolham-se em silêncio, tensos.
Um gajo qualquer do povo, que estava ali caído de bêbado mas a ouvir tudo, levanta-se — cambaleante, porém assertivo.

Um gajo qualquer do povo
(apontando para Daenerys)
Olhem, essa gaja deu cabo da festa. Não é bem-vinda nas próximas churrascadas!

Outros bêbados para ali caídos balbuciam qualquer coisa em concordância.
Daenarys, furiosa, monta o seu dragão e põe-se a andar.
Jon Snow faz a sua habitual cara de traseiro.

Jon Snow
Não olhem para mim, que eu não quero ter nada a ver com isso.

Um gajo qualquer do povo
Por mim, fica o anão a organizar os próximos eventos. Como é irmão da Cersei, continua tudo em família e não há-de ser pior que ela.

Tyrion
Eu ia agora dar um workshop de bom senso, mas não me importo de ficar a tomar conta deste tasco. Tragam-me só um jarro de vinho e umas badalhocas, que eu já estou farto de ser moralmente irrepreensível.

Todos gritam: “Viva o rei! Viva!”
Entusiasmados, ainda pensam em enfiar Tyrion num canhão para celebrar, mas rapidamente se apercebem de que é só uma péssima ideia.

FIM.

Jon Snow

Cátia Domingues

E no fim eles dançam

Os argumentistas de “Guerra dos Tronos” acharam que mais de um ano de espera não tinha sido cruel o suficiente e decidiram finalizar esta Mona Lisa da ficção, esta Guernica das séries, com lápis de cera depois de terem sido mastigados por uma turma do externato O Baloiço.

Portanto, dado que cumprir a intenção dos livros não está a valer, mal por mal, vamos a um episódio final alternativo. Provavelmente mais fidedigno, justo e credível que o que nos apresentaram.

Arya Stark: Com um aspeto de sobrevivente dos bombardeamentos da Síria, vemos a Queen Slayer e ex-membro do clube das virgens Arya Stark a pegar num cavalo e a fugir da destruição que se transformou King’s Landing. Culmina surpreendentemente com uma subtil mensagem feminista: nós não estamos à espera de um príncipe num cavalo branco que nos salve. Pelo contrário. Porém, ao contrário dos nossos desejos, Arya desiste da missão de salvar o mundo da injustiça, porque como “No-One” e a capacidade de mudar de cara e voz, deixou a precariedade e arranjou um emprego com contrato na venda porta-a-porta numa empresa de telecomunicações.

Tormund: depois de rumar a norte da muralha com um lobo que adotou de um amigo que teve uma proposta de trabalho lá fora, assina 3 temporadas de um programa na TV cabo como Tormund Milan, o encantador de canis lupus. Um sucesso de audiência entre a comunidade dos Free Folks presos a contratos de fidelização.

Bran: o nosso Three-eyed raven preferido decide capitalizar o seu talento. Nos tempos livres, pela falta de apoios reais, Bran toma consciência da falta oportunidade e diversidade profissional e abre a sua associação de inclusão de pessoas com mobilidade reduzida. Torna-se um sucesso após a estreia da sua rubrica de futurologia num programa da manhã e ser convidado a co-apresentá-lo ao lado de Nuno Eiró.

Sansa: após ficar senhora de Winterfell, Sansa entrará numa fase muito solitária e é convencida pela sua melhor amiga Brienne a experimentar o Tinder. Percebe que é bastante popular ao nível dos matches e é aí que Sansa começa a reavaliar a sua vida e percebe que nem todas as mulheres precisam de casar e podem ser perfeitamente felizes com relações casuais.

Davos: Este exímio traficante do Mar Estreito, desde sempre nos habituou às demonstrações de grande sensibilidade com a petizada da série. É por isso que, ao perceber que Daenerys aniquilou toda uma geração, Davos decide ir para os Estados Unidos salvar crianças, depois de ver um programa do Toddlers and Tiaras.

Depois de uma valente polémica com os incêndios e o escândalo com os contratos dos sete reinos com o SIRESP, inicia-se uma revolta popular, que ficará conhecida na História como “Primavera de Westeros”. Após grande pressão, Daenerys abdicará do poder alegando problemas de saúde e o povo é chamado a ir às urnas. O que, após a morte do Night King, se tornaram sítios agradáveis, embora um pouco estranho para meter cabines de voto. Após uma campanha eleitoral com mais abstenção que as Europeias em Portugal, os eleitores dividem-se entre a candidata de esquerda, assumidamente lésbica, Yara Greyjoy e o intelectual conservador pela família tradicional Samwell Tarly.

Tyrion: tal e qual como no filme do Shrek, também aqui o burro da história fica com o dragão. Ao início, como qualquer sogra com filho único, Daenerys é contra e só aceita se puder ir viver com eles. Constroem um anexo no jardim mas nas férias de verão deixam-na nas urgências de um hospital.

Jon Snow: conhecido pela sua lealdade e o seu apurado sentido de justiça, Jon obviamente acaba na miséria. O que é triste, porque já nem um cão para ir fazer bolhas de sabão para a Baixa, tem. Assim, alguns anos como sem-abrigo e ser considerado inimputável por estar sempre a dizer que é filho de não sei quem, Jon entra num programa de cultura geral apresentado pelo Vasco Palmeirim e ganha o prémio final. Um grande manguito àquela primeira namorada que dizia que ele não sabia nada e agora olha, a ver onde é que ele está.

(Entram créditos finais e dança com todos os personagens ao som de música de Bollywood)

Sansa Stark

Guilherme Fonseca

O fim está escrito, mas estava escuro para ler

Há uns anos vi um comediante fazer um texto sobre amigos que nos contam histórias. Dizia ele que não há nada pior do que estarem a contar-nos uma trivialidade e pedirem-nos para tentar adivinhar uma parte. “Adivinha lá quanto é que ele ficou a receber de ordenado, adivinha…” O comediante defendia não há uma resposta que caia bem. Ou acertamos no valor e estragamos o momento; ou dizemos de menos e passamos por parvos; ou dizemos de mais e estragamos o suspense do orador.

É assim que me sinto quando me pedem para prever o que se vai passar no último episódio de “Guerra dos Tronos”. Passei anos obcecado com teorias sobre o que se poderia passar. Vivi 8 anos numa espécie de Prolongamento da TVI, em que teorizei sobre a Arya como se discutisse penáltis e critiquei a Cersei como se insultasse o VAR. Sou um autêntico Pedro Guerra dos Tronos, é o que é.

A verdade é que expectativa é tudo na vida e a espera por esta última temporada lixou tudo. O último episódio da sétima série foi para o ar a 27 de Agosto de 2017, o primeiro da oitava estreou a 14 de Abril de 2019. Foram exatamente 595 dias que serviram para se conjeturar todo o tipo de teorias sobre quem vive, quem morre e, mais importante, os talentos do Podrick na cama.

Quando há centenas de teorias na net fica complicado ninguém acertar ou pior, não se terem ideias fixas de como deverá acabar. Na época do entretenimento em que vivemos, ou os episódios saem todos de uma vez e não se tem tempo de respirar entre eles, ou qualquer pessoa com wifi consegue acertar no que se vai passar. As teorias sobre a oitava temporada eram tantas e tão díspares que até quem tenha previsto que abriria um Starbucks em Westeros acertou em alguma coisa.

De uma forma irónica, o que se passa com a série é o mesmo que se passa com a Daenerys. Estivemos anos a vê-la crescer, a ficar mais forte e mais popular, e na reta final ela surpreende-nos. Não concordo que as ideias dos guionistas sejam más. São boas mas feitas à pressa, como se estivessem em versão tweet quando se queria um calhamaço tipo Guerra e Paz. Shame.

A grande questão do último episódio é esta: quem mata a mãe dos dragões? O Jon Snow? A Arya? Ou o Tyrion? A este ponto pode acontecer qualquer coisa, depois de Cersei Lannister ter sido morta pela Mota Engil. Não sei quem é a construtora de Kings Landing, mas quando um tijolo mata a maior vilã da série, quem sabe se não é um teto com amianto a despachar a Daenerys.

Tendo tudo isto em conta, aqui ficam as minhas previsões para o que se passará no último episódio de “Guerra dos Tronos”:

As mensagens que o Varys escreveu antes de ser morto vão ser importantes: aqueles corvos terão impacto no desfecho da série. A minha previsão é que a “sms” que Varys envia antes de morrer cairá na caixa do correio de lordes como Yara Greyjoy e dirá algo como: “Migas, venham rápido que a loiraça ‘tá doida. Atenção que quando chegarem não vão ser só os testículos que me vão faltar. Jokas.”

O Tyrion é Targaryen: é das minhas teorias favoritas e a única capaz de salvar a temporada para a personagem. Depois de 8 anos de série a ser o mais esperto, a inteligência de Tyrion tem ficado muito abaixo da média (aqui fica a minha piada de anões). Saber que é da família da nova Rainha é capaz dar jeito, da mesma maneira que ter “César” no BI tem ajudado no PS e no Governo.

A Daenerys Targaryen morre: GoT não tem um historial prisional muito grande. Digamos que se uma pessoa comete um crime, geralmente acaba sem cabeça. Ou pior, sem cabeça do pénis. Ora, se é este o sistema judicial de Westeros, não acredito que a Daenerys acabe com pulseira em prisão domiciliária ou na Carregueira.

Será a Arya a matar a Daenerys: tudo indica que sim mas preferia que não. A Arya é uma espécie de Cristiano Ronaldo de Westeros (até mesmo na parte de mandar pessoas tirarem as calças), resolvendo a maior parte dos jogos do campeonato e até despachando o Night King na final da taça com uma bela finta. A Arya Stark dos Santos Aveiro tem sido a Bola de Ouro indiscutível da série e por isso espero que não marque também no último jogo, da mesma maneira que fomos campeões da Europa com um golo do insuspeito Éder.

Vamos ver o truque das “caras” mais uma vez: A Arya Stark tem o trunfo de trocar de cara quando quer e não o tem usado desde a temporada anterior. Suponho que seja hora de aparecer Arya Stark na sua versão Carnaval de Torres uma última vez.

O Jon Snow morre: convenhamos que o Jon Snow já está em tempo de descontos. “Valar Morghulis”, mesmo os que sejam repetentes.

A Sansa Stark ficará no Trono de Ferro: temos acompanhado a Sansa Stark a crescer da mesma maneira que vimos a Ana Malhoa. Começou como uma criança inocente e hoje em dia é uma máquina que despachava qualquer um de nós em três tempos. Encaixa no trono, baby, encaixa.

É isto que prevejo que aconteça. Desde já as minhas desculpas aos leitores se acertar ou ao Observador se falhar. My watch has ended.

Tyrion Lannister

Susana Romana

Ganha a irmã do bonitão e o anão sobrevive

Para mim, o final da “Guerra dos Tronos” era óbvio — eu estava do lado da Cersei. Quando digo isto em voz alta as pessoas olham para mim com desconfiança, mais ou menos como olham quando eu digo que sou Escorpião (apesar de eu acreditar tanto no zodíaco como nas boas intenções do Joe Berardo em relação à banca). Os motivos são de duas ordens: GoT é uma série que, pelo que construiu, podia dar-se ao luxo de um final infeliz; e além disso esta coisa de quem são os bons e quem são os maus é tudo uma questão de perspetiva.

Vamos por partes: se a “Guerra dos Tronos” matou Ned Stark, herói impoluto clássico, logo no início da narrativa, então é porque é uma série que podia ter a coragem de dizer que a honra, tantas vezes, não pode nada contra a ambição. Que o mundo é um lugar complexo, que o poder nem sempre é justo, que ser maquiavélico compensa quando vale tudo para mandar nos Sete Reinos. Já pelo menos desde os “Sopranos” que percebemos que a vilanagem é um terreno fértil para as melhores personagens e os melhores arcos narrativos – porque não ousar em pegar na série mais importante da década e dar-lhe um final no qual as boas intençõezinhas nada podem perante a avidez desmesurada? Porque não marcar uma posição que o cor-de-rosismo da ficção norte-americana nunca teve túbaros para fazer? Nesta altura concreta da história da humanidade, com tantos líderes e regimes a afastarem-se da democracia e da igualdade, porque não aceitar sem medos fazer de alegoria para o estado atual da política, como fez subtilmente tantas vezes (uma das minhas cenas preferidas será sempre aquela na qual Tyrion Lannister explica porque se endividam os reinos)?

Além disso, numa série na qual todos matam e (quase todos) querem é sentar os seus glúteos num claramente desconfortável Trono de Ferro, o que faz um vilão ser um vilão? Cersei sofreu, perdeu todos os seus filhos, aturou um marido abusador e uma vingança pública numa passeata desnuda que fica para a história da televisão. Se foi cruel e agarrada ao poder? Foi, mas numa narrativa contada de outro ângulo ficaríamos a achar que quis simplesmente manter o que sempre achou que era seu por direito. Outros personagens, mais empáticos, teriam feito o mesmo em condições semelhantes. Na verdade, é isso que exemplifica a descida de Daenerys à loucura – ser bom ou mau, afinal que raio quer isso dizer?

Mas Cersei já não manterá o trono no derradeiro episódio, já que entretanto morreu esmagada entre Jaime, entulho e cinzas. Quem resta? O triângulo amoroso (não do amor carnal, mas do amor ao poder) tem nos seus vértices Daenerys, John Snow e Sansa Stark. Se Cersei teve de ser castigada pela sua ambição sem meios, a Mãe dos Dragões não poderá passar incólume, não depois de andar a fazer barbecue de criancinhas em Kings Landing. Morta, louca ou simplesmente exilada, tudo indica que ninguém (nem sequer o seu amado ou a sua Mão) lhe permitirá ser a vencedora.

Sobram Jon Snow e Sansa Stark. Um, já disse repetidamente que não quer o poder. A outra, quer os Stark no lugar que merecem desde o primeiro genérico. Snow terá percebido, finalmente, que o amor é muito lindo mas que Daenerys não pode ser a sua rainha (nota: e ainda bem que a química entre ambas as personagens é nula, parecem aquilo que são: familiares a beijarem-se, numa ceia de Natal muito desconfortável). Por isso, ao que tudo indica, irá conquistar o poder para o dar à irmã. Sansa poderá voltar a casar com o seu ex, qual Elizabeth Taylor e Richard Burton, e voltar para Tyrion – o que daria ânimo a um dos pedidos mais recorrentes dos fãs, já que ouvi mil vezes “se matam o anão, deixo de ver aquela porcaria”. O anão sobrevive e progride, suspeito.

No seu derradeiro suspiro, “Guerra dos Tronos” está a sofrer do mesmo problema que o Lost: uma sala cheia de guionistas não consegue competir com uma internet cheia de milhões de devotos a desenrolarem teorias. Durante anos, circularam finais incríveis para a série. Infelizmente, não vamos ter nenhum desses.

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