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Para desacelerar nasceu também a Oficina na Escola, onde é possível pôr as mãos no barro e fazer uma aula de ioga numa antiga escola primária. © Jorge Vieira
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Para desacelerar nasceu também a Oficina na Escola, onde é possível pôr as mãos no barro e fazer uma aula de ioga numa antiga escola primária. © Jorge Vieira

Para desacelerar nasceu também a Oficina na Escola, onde é possível pôr as mãos no barro e fazer uma aula de ioga numa antiga escola primária. © Jorge Vieira

Há Vida na Vila para além do verão

Perto do mar, do campo e do centro de Vila Nova de Mil Fontes, as casas Vida na Vila são um convite para descobrir o Sudoeste alentejano fora da época alta.

Há 13 anos a viver no Sudoeste alentejano, oito deles à frente do turismo rural Cerca do Sul, Sara Serrão aprendeu a observar quem chega e vai. “Temos enchentes nos meses quentes, mas há turistas que gostam de vir também fora da época alta, e que preferem ficar em vilas ou aldeias, onde há mais oferta e pessoas todo o ano”, diz. Foi a pensar nelas que abriu, em abril, o Vida na Vila: um conjunto de quatro casas modernas, em Vila Nova de Mil Fontes, “para viver a vida na vila para além do verão”.

É fora da época alta, defende Sara, que se pode desfrutar da verdadeira essência do Sudoeste alentejano, região que tem sofrido “terríveis pressões turísticas e agrícolas nos últimos anos”. “Costumo dizer que é no outono, inverno e primavera que me reconcilio com este território e que acabamos por receber os turistas mais respeitosos com a comunidade local, que vêm pela vida simples e para estarem próximos da natureza.”

Perto da foz do rio Mira e não longe do centro, o alojamento Vida na Vila convida a esse desacelerar e a passeios a pé, seja num dos dois percursos da Rota Vicentina que passam nas redondezas (Porto Covo-Mil Fontes, e Mil Fontes-Almograve), seja para ir tomar um brunch numa esplanada das ruas pedonais (recomendamos a 18 e Piques).

© Jorge Vieira

As casas também foram pensadas para serem confortáveis o ano inteiro. Construídas de raiz pelo ateliê de arquitetura Ark Studio, reinventam o casario branco alentejano com linhas modernas e uma escala generosa para tudo: janelas grandes e respetivas portadas, pé direito alto, alvenarias caiadas, e um pátio partilhado com uma piscina comprida inspirada nos tradicionais tanques.

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Cada casa tem dois andares, muito branco à vista, teto e chão de cimento aquecido, plantas aqui e ali. No piso de baixo fica a sala de estar com lareira e um ecrã para streaming, a cozinha equipada e a zona de jantar em open space. No de cima os dois quartos e respetivas casas de banho, com apontamentos de decoração simples e que privilegiam o artesanato e os criadores portugueses. As cadeiras de madeira são Origem Comum, por exemplo, nas cabeceiras das camas estão painéis de Rita Sevilha ou cianotipias do projeto Da Terra ao Papel feitas na Oficina da Escola (o projeto que Sara abriu em paralelo com a Vida na Vila, numa antiga escola primária a cerca de 15 minutos de carro), e um pouco por todo o lado há barro do interior alentejano e até peças decorativas feitas a partir de restos de madeira e outros objetos recolhidos ali mesmo nas praias.

As casas são reservadas em regime de self catering, mas no primeiro dia é deixado um cabaz com produtos locais – escolhidos pela proprietária nas visitas regulares às feiras e mercados da zona –, assim como toalhas de praia no verão e uma caixa de lenha no inverno. Devido à proximidade das casas e à arquitetura – “as escadas são totalmente abertas e a piscina igualmente” –, só são permitidas crianças a partir dos 12 anos, pelo que está já em obras um outro pequeno alojamento, Vida na Aldeia, mais a pensar em famílias. “É uma casa térrea com um pequeno olival onde vou plantar um pomar, que fica em São Luís, uma aldeia que tem vindo a atrair uma comunidade multicultural de gente ligada às artes e à sustentabilidade ambiental, com inúmeras iniciativas a acontecer”, diz a proprietária.

Ela própria tem tido um papel dinamizador e muito ativo na região, sobretudo desde que vendeu a Cerca do Sul, o projeto de turismo anterior, para se mudar para o Três Marias, o turismo rural do companheiro. Para além de fazer parte da direção da associação Rota Vicentina, que reúne os antigos caminhos de pescadores e agricultores em mais de 700 quilómetros de percursos pedestres sinalizados, Sara é uma das fundadoras do movimento Juntos Pelo Sudoeste, criado em 2019 para “colocar o tema da agricultura intensiva na agenda mediática e política”. “Somos um movimento ambientalista mas há aqui casos de polícia”, diz, referindo-se aos circuitos de imigração ilegal e às condições de vida dos trabalhadores das estufas que têm sido denunciados na comunicação social.

“Costumo dizer que parece que estamos no canto mais remoto da Europa, mas na realidade aqui convergem todos os temas essenciais que preocupam o mundo: alterações climáticas, seca, migrações, a linha ténue entre turismo sustentável e excesso de turismo, e o contraste entre projetos de agricultura respeitadores e adaptados à escala local e outros que são tão globais que estão totalmente desligados do seu impacto tremendo na região”, defende.

Para valorizar a vida local e contribuir para que o Sudoeste não seja apenas “um local de veraneio e uma mina de onde se extraem recursos”, paralelamente à Vida na Vila, Sara Serrão abriu também a Oficina na Escola, na antiga escola primária de Ribeira da Azenha. Como o nome indica, a ideia é pôr as mãos (e o corpo) a mexer, com oficinas regulares de iniciação à cerâmica – dados pela própria ou por Joana Sarmento (do @jostudio.pt) – e também ioga na antiga sala de aulas, em parceria com Nina Briot (@yoga_maono), uma das muitas estrangeiras que escolheu o Sudoeste alentejano para viver. As três são a cara da programação da escola e dizem, quase em coro, que “para andar para a frente é preciso trabalhar em comunidade”.

Como muitas das escolas do Plano dos Centenários de Salazar, a escola primária de Ribeira da Azenha estava fechada e foi a Câmara Municipal de Odemira que abriu “um concurso de concessão do espaço enquanto Centro de Promoção de Artesanato e Produtos Locais”, conta Sara, explicando como foi parar a esta fachada banhada de luz, virada a sul. Logo à entrada, passando a típica porta em arco, está essa parte da Oficina, com artigos de artesanato à venda da associação CACO, que reúne os artesãos do concelho, e algumas peças de cerâmica cozidas ali mesmo.

Pontualmente, a Oficina na Escola promove ainda outras iniciativas como workshops de desenho e weaving, ou até brunches na mesa ao ar livre. Para a primavera – antes do verão chegar com toda a sua confusão – está já a ser planeado um retiro de cerâmica, ioga e caminhada.

Vida na Vila, Rua dos Medos, 6B. 931 105 167. Estadia a partir de 140€ por noite (estadia mínima de 3 noites)

Este artigo foi originalmente publicado na revista Observador Lifestyle n.18, lançada em dezembro de 2022.

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