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Sarah Snook, que interpreta Siobhan Roy, e Jeremy Strong, que desempenha o papel de Kendall Roy
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Sarah Snook, que interpreta Siobhan Roy, e Jeremy Strong, que desempenha o papel de Kendall Roy

Sarah Snook, que interpreta Siobhan Roy, e Jeremy Strong, que desempenha o papel de Kendall Roy

Jesse Armstrong, criador de "Succession", sobre o fim da terceira temporada: "Sei para onde vai esta história"

Em entrevista, o criador da série, Jesse Armstrong, desfaz algumas dúvidas sobre o fim da terceira temporada, foge a umas quantas perguntas e diz-nos: "Era isto que tinha de acontecer às personagens".

[AVISO: este artigo contém spoilers sobre o final da terceira temporada de “Succession”. Se ainda não viu e não quer saber nada, então pare aqui, veja os episódios e depois regresse]

Já era expectável que o final da temporada tivesse uma reviravolta na dança das cadeiras de “Succession”. Foi assim na primeira temporada, quando Kendall Roy (Jeremy Strong) foi responsável pela morte de um empregado de mesa; foi assim na segunda, quando o mesmo Kendall se fartou de ser o cordeirinho do pai, Logan (Brian Cox), e se virou contra ele; e é assim na terceira, com o patriarca, e possivelmente o pior (ou o melhor, dependendo do ponto de vista) elemento desta família de pessoas horríveis (ou apenas demasiado normais?), a mostrar que não está acabado e que consegue ser mais esperto e rápido do que todos os outros.

A Waystar Royco vai ser vendida e os herdeiros Roy podem todos “fuck off” — uma forma bastante agressiva de mandar alguém dar uma, volta mas também a expressão favorita do chefe Logan. O melhor de tudo isto é tentar perceber quem é que revelou ao magnata o que Shiv (Sarah Snook), Roman (Kieran Culkin) e Kendall (Jeremy Strong) estavam a planear fazer para travar o negócio – permitindo assim que o velho Roy se adiantasse.

Logo após a estreia do nono e último episódio deste ano — disponível na HBO desde esta segunda-feira, 13 de dezembro —, o Observador falou, juntamente com jornalistas de outros pontos do mundo, com Jesse Armstrong, criador e guionista de “Succession”.

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Há muita coisa que o britânico não quer revelar, garante que o segredo fica na sala de guionistas, mas confirma que o cheirinho a “O Padrinho” que se revela aqui e ali no final da terceira temporada é propositado. Quanto aos diálogos brilhantes, que são o trunfo mais forte da série, dão muito trabalho até chegarem ao resultado que vemos. Os guiões chegam a ser reescritos 40 vezes. Agora, cuidado com os spoilers que se seguem. É proibido ler esta entrevista antes de ver “All the Bells Say”.

Jesse Armstrong

Jesse Armstrong, o inglês que criou "Succession" e que dirige a equipa de guionistas que escreve os episódios da série

Getty Images

Neste último episódio ficou no ar a possibilidade de um novo herdeiro Roy. Logan bebe smoothies de maca [uma planta] preparados por Kerry, a assistente com quem está envolvido. Teve de pesquisar que tipo de substância é que ele teria de tomar para continuar fértil?
Sim, pesquisámos todos os produtos que alegam que podem ajudar, sobretudo quando se avança na idade. Posso confirmar que isso é pesquisa para a série, não para a minha vida pessoal.

Havendo a possibilidade de uma nova criança, para onde é que isso pode levar a história? Ou é só uma possibilidade que pode vir a usar no futuro?
Se pensarmos nisso, é um detalhe tonto, mas também lógico para alguém que começa a pensar na mortalidade. É usado como um elemento cómico no último episódio. É algo que não desenvolvo em público, falo com os meus guionistas, e que para mim vive numa confortável zona cinzenta. Sei para onde vai esta história, mas, se alguém apresentar argumentos fortes, podemos ir noutra direção.

O Greg pode tornar-se um membro secundário da realeza europeia. Também teve de haver muita pesquisa aí?
Há pesquisa limpa e pesquisa suja. A limpa é estudar o que aconteceria, quais seriam os melhores locais, como funciona a linhagem do Grão-Ducado do Luxemburgo. Depois, a suja, que é encontrar as palavras mais engraçadas. A seguir é tentar casar essas duas para que pareça real.

O momento em que estão todos a jogar Monopoly, já tinha essa ideia há muito na cabeça ou achou que seria uma boa forma de abrir aquela cena?
Na sala [de guionistas] temos um quadro com isto e aquilo de coisas que pretendíamos fazer, mas que geralmente não são usadas. Ocasionalmente conseguimos. Havia algo interessante na ideia de jogarem Monopoly. OK, são férias de família e este é um momento de descontração, mas também de tensão.

Os filhos Roy a jogarem um jogo de tabuleiro de riqueza também tem alguma ironia. Mas em “Succession” há muito drama, já não é um jogo.
Certo, mas há certas coisas que me incomodam desconstruir. Por isso vou dizer que isso é justo e um bom comentário.

"Tentamos mostrar estas pessoas e o que fazem no mundo. Às vezes há coisas que consideramos mau comportamento, que julgamos, mas é complicado porque nesta série vemos a razão de as pessoas terem ficado assim. Entramos numa boa zona cinzenta para os seres humanos."

Os finais de temporada mudam sempre o jogo. Quando começou a escrever esta temporada já sabia como seria a última cena?
Passámos as três ou quatro primeiras semanas a construir a forma. Depois, cada um escreve os seus episódios separadamente, não os escrevemos na sala mas construímos o enredo na sala. Criamos um arco narrativo e depois damos-lhe conteúdo. É importante para mim saber para onde vamos porque, se não, podia não fazer sentido nenhum. A nível técnico também é muito importante porque temos os episódios e eu depois reescrevo algumas coisas. Resumindo, muitas vezes não tenho muito tempo para escrever os dois [episódios] finais. Se estivesse literalmente a inventar, seria um grande problema. Temos a possibilidade de sermos criativos dentro de uma estrutura que conheço a nível psicológico e a nível de negócios. É satisfatório, significa que o jogo de saber o que são as cenas é um jogo agradável e não assustador.

O último episódio prova novamente que o Kendall e a Shiv são mais poderosos quando se unem. Usam esses momentos estrategicamente?
Sim, um pouco. Tal como a pesquisa limpa e a suja, não gosto de pensar muito na mecânica da coisa. Quem está no contrato, para onde vamos, podemos voar hoje? Tento não ter isso na cabeça. Tal como não penso se podemos ou não ter muito este duo porque vamos gastá-lo ou este grupo que devíamos guardar. Só quero pensar no que aconteceria ali. Se chegasse à sala de guionistas e percebesse que a temporada devia tê-los sempre juntos, não me oporia. Não fazemos muito isso mas não teria medo, acho que seria ótimo.

A segunda temporada acabou com aquilo que pareceu uma detonação. Desta vez é uma implosão?
É uma boa descrição. Esses pensamentos podem ser úteis para mim quando estou a escrever o arco da narrativa mas tipicamente estou a seguir a lógica financeira, psicológica, de negócios da personagem e vou até ao fim, seja ele doce ou amargo. Dou sempre prioridade à verdade da personagem em vez de tentar encaixar a história numa forma, por mais que ela seja cool.

Logan decidiu vender a Waystar Royco e vai afastar-se, de certa forma está a acontecer uma sucessão. Mesmo que os filhos não saiam de cena facilmente, isto significa que a história se aproxima do fim?
Vou invocar a quinta emenda [direito que garante que um cidadão não pode ser obrigado a dizer algo que o incrimine]. Parte de mim é protetora e quer guardar isto privado e outra parte pode ser evasiva. Ainda não me dediquei a isso [ao que acontece depois].

"Acho que ninguém nasce mau, acho que somos moldados. Penso que a série é intrigante para as pessoas. Estamos constantemente a julgar"

Graeme Hunter

Brian Cox escreveu no livro dele que ao discutir a personagem do Logan Roy consigo perguntou se ele amava os filhos e o Jesse respondeu que sim. Continua a ser assim?
Sim, diria que os atores pegam naquilo que é útil para eles e pode ser importante para um debate maior. Se o Logan simplesmente ama os filhos ou se só ama os filhos? Bem, tenho alguns apontamentos sobre isso. Mas ama-os? A resposta instintiva é “sim”. Sim, ama, mas a forma como alguém demonstra amor pode ser complicada, perversa, incomum e pode não parecer amor. Mas acho que foi útil para o Brian saber que esta não era só uma personagem que tinha tido uma espécie de transplante emocional de coração ou uma extração do coração.

A temporada é muito cinematográfica. O último episódio, particularmente, faz lembrar “O Padrinho”. A forma como o Tom possivelmente trai a Shiv, por exemplo. Numa entrevista, o Jesse disse que ia ser uma espécie de encontro entre a série “Dallas” e o filme “A Festa”, certo?
“A Festa” foi uma influência desde o início em termos da brutal dinâmica familiar, a sensação de documentário, a forma como se colocam as câmaras para dar a sensação de que estamos na sala. Com “O Padrinho” estamos a falar de uma história americana de família, patriarcado, mortalidade. Gosto muito desses filmes. Ocasionalmente, lembro-me deles quando fazemos uma ou outra cena, são grandes referências, mas não definem o formato da série.

A última cena entre a Shiv e o Tom sugere que ele acaba de trair a mulher e de beneficiar o sogro. A forma como foi filmada foi pensada desde o início?
O movimento das câmaras não está explícito no guião, mas pode haver sugestões. Penso que o guião sugeria que soubéssemos que a traição tinha acontecido. Aquela cena foi longa, os dias foram longos, podíamos ver pelas interpretações que os atores estavam a trabalhar arduamente. Foi um golpe artístico, diria eu, da parte do Mark [Mylod, o realizador] ao encontrar especificamente aquela forma de terminar [o episódio e a temporada].

As personagens são horríveis mas não conseguimos não gostar delas, certo?
Há uma dicotomia. Tentamos mostrar estas pessoas e o que fazem no mundo. Às vezes há coisas que consideramos mau comportamento, que julgamos, mas é complicado porque nesta série vemos a razão de as pessoas terem ficado assim. Entramos numa boa zona cinzenta para os seres humanos. Até que ponto é que as nossas experiências antigas podem desculpar as nossas ações? Se alguém tiver uma resposta para isso, diria que é um idiota ou um Prémio Nobel. Algumas ações são tão terríveis que são imperdoáveis, independentemente das experiências que tivemos. E algumas são mais facilmente explicadas. Acho que ninguém nasce mau, acho que somos moldados. Penso que a série é intrigante para as pessoas. Estamos constantemente a julgar. Primeiro, o que pensamos do que fizeram? E, depois, há simpatia suficiente por eles para entender?

"A série chamava-se “Succession” e pensei que seria interessante perceber o que aconteceria quando o Logan saísse de cena. Assim que escrevi o episódio piloto, percebi que não queria que ele morresse ali e bastante cedo na temporada percebemos que, se o fizéssemos, tínhamos de estar preparados para consequências dramáticas."

A cena em que o Roman envia sem querer uma foto do pénis ao pai é uma das melhores da temporada. A reação do Kieran [Culkin] quando percebe o que acabou de fazer é um grande plano memorável. Como é que conseguiram que funcionasse tão bem?
Dá muito trabalho fazer uma cena dessas para que não seja uma piada ao lado. Escrevemos e entregamos a atores incríveis. Ninguém disse ao Kieran como tinha de fazer a cena, ele faz e é incrível.

Quando é que percebeu que a série era um fenómeno?
Vou aos EUA e nem toda a gente conhece a série, portanto não quero estar a exagerar nas proporções. É muito gratificante que se fale mundialmente e que as pessoas gostem, sim.

Os atores improvisam?
Trabalhamos arduamente para termos as palavras certas, até à vírgula. Faço 30, 40 versões do guião, por isso é mesmo aquilo que queremos fazer. Mas há coisas, como a cena do Kieran de que falámos, que não conseguimos controlar e o que interessa é o que passa para o ecrã. Quando gravamos, os atores decoraram o texto palavra a palavra mas onde se posicionam ou se há algo de que não gostam, não tenho problemas de mudar no próprio dia. Encorajamos, se temos tempo, a explorar diferentes opções. Temos dois ou três guionistas no local com falas ou piadas alternativas que podemos usar. Temos alguma liberdade e, apesar de toda a gente saber que o texto é bastante rígido, não é “A Bíblia”. Não vou perder a cabeça se as coisas mudarem no set.

"Claro que nos apegamos às pessoas, apegamo-nos emocionalmente a estas pessoas fictícias que têm de parecer reais. Se não, não não funcionaria, não conseguiria escrever sobre elas"

Disse algumas vezes que a ideia era matar Logan logo no início. Consegue imaginar uma série completamente diferente agora? Até parece uma ideia bizarra.
Se calhar só tinha durado uma temporada. Tive muitas más ideias que podiam ter estado na série e é parte do meu trabalho, acho, tê-las e realmente pensar bem para as descartar ou aproveitar. A série chamava-se “Succession” e pensei que seria interessante perceber o que aconteceria quando o Logan saísse de cena. Assim que escrevi o episódio piloto, percebi que não queria que ele morresse ali e bastante cedo na temporada percebemos que, se o fizéssemos, tínhamos de estar preparados para consequências dramáticas.

Já disse algumas vezes que não gosta muito que os fãs torçam por esta ou por aquela personagem, mas, ao mesmo tempo, elas estão muito presentes na sua vida. Não torce por ninguém?
Claro que nos apegamos às pessoas, apegamo-nos emocionalmente a estas pessoas fictícias que têm de parecer reais. Se não, não não funcionaria, não conseguiria escrever sobre elas. Mas temos de ser um pouco mais picantes na forma como desenvolvemos a série. Eu adoro os seres humanos com quem trabalho e sei que eles querem fazer o melhor em cada cena mas, no final, tenho de honrar a história e a série. Temos de seguir a história de forma fria ou brutal e isso descarta todas as outras perguntas. A história é assim, é para aqui que tem de ir e isto era o que tinha de lhes acontecer, lamento. Às vezes é incrível para as personagens e outras é terrível.

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