A notícia chegou pelo telefone: o namorado, com quem se preparava para casar, tinha morrido. Com 29 anos na altura, Maria Botelho Moniz diz que lhe desapareceu da frente o presente e o futuro. Diz, aliás, que não há sequer uma palavra para descrever o que se sente nesse momento: “Só alguém que recebeu uma notícia como essa sabe o que é deixar de existir, que era como eu me sentia”.
Numa entrevista inserida na série “Labirinto — Conversas sobre Saúde Mental“, uma iniciativa do Observador e da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), a apresentadora de televisão conta que, nos primeiros 15 dias, foi uma espécie de vulto, que se levantava, ia à cozinha, sentava-se no sofá e voltava para a cama. Depois dessas duas semanas, decidiu sozinha que tinha de sair de casa e trabalhar, mas foi preciso que a obrigassem a ir à primeira consulta de psicoterapia. Mais do que achar que não precisava de ajuda — “toda a gente, ao longo da sua vida, vai ter de fazer o luto de alguém que ama” —, não percebia porque é que devia procurar alguém para a ajudar a ultrapassar uma coisa inultrapassável, que nem sequer queria deixar de sentir, até por respeito a quem tinha morrido.
Acabou por perceber mais tarde que era a sua saúde mental que estava em causa e seguiram-se mais de dois anos até ter alta. Pelo caminho, irritou-se com as “falinhas mansas” de quem lhe dizia que tinha de “andar para a frente”; aprendeu que é difícil falar sobre a morte e que muitos, não sabendo o que dizer, preferem não dizer nada; e teve de lidar com a culpa de voltar a rir e de continuar a viver quando a pessoa que se perdeu já cá não está.
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Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.
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