Podiam recordar-se os versos de uma canção de José Mário Branco: “Porque a vida não se pode resumir numa canção/ Mudar de vida? / Mudar de vida é uma questão que ainda não está resolvida”. Não é tanto sobre mudar de vida, mas sim sobre mudar de ideias, aquilo que traz Maria João Pires de volta aos palcos, porque – como diz a própria– “todos dizemos ou ambicionamos muitas coisas que depois não fazemos na vida”. Aos 79 anos, quase a virar octogenária, a pianista mantém-se de espírito aberto, ainda que muito do que tem mapeado o seu percurso pareça estar a chegar a um momento de término ou aparente suspensão. Ainda assim, de regresso a Portugal depois de um conjunto de concertos na Europa, sobe esta semana ao palco do grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, para um ciclo de apresentações dedicadas à obra do compositor austríaco Franz Schubert (entre os dias 21 e 23, ou seja, de quinta a sábado).

Os quatro concertos recuperam o espírito das célebres “Schubertiades”: as sessões de salão que marcaram Viena no início do século XIX, com o compositor Franz Schubert como figura central e onde o próprio e outros artistas interpretavam e celebravam as composições do austríaco. Mantendo esse mesmo espírito, Maria João Pires irá partilhar o palco com vários músicos convidados, recriando esses momentos íntimos de partilha, nos quais a arte (e a música em particular) ocupava um lugar central. Partindo deste mesmo ciclo, a pianista esteve à conversa com o Observador, onde falou da sua relação com Schubert, do momento de vida que atravessa, mas também de Belgais e da sua relação com Portugal.

Distinguida com a Medalha de Mérito Cultural, em 2019, Maria João Pires mostra-se feliz e pacificada com Portugal, com desejos e ambições para o futuro, mas com vontade de deixar os palcos para segundo plano. O centro de artes que tentou construir em Belgais é um projeto terminado, explica, mas isso não é sinónimo do fim da educação pela arte, que a continua a motivar diariamente. Quanto ao panorama da música clássica descreve-o como dominado por uma ideia de mercado, onde se mistura a competição com a arte. “Todos somos únicos. Um artista e a sua arte também é única, por isso não pode ser remetida à competição”, frisa.

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