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Montenegro foi o centro de todos os ataques. Quem atacou quem na primeira semana de campanha

Luís Montenegro foi o mais atacado na primeira semana de campanha. Centrão preferiu atacar-se entre si. Ventura atacou todos, mas foi ignorado por PS e PSD. Esquerda só furou não-agressão num caso.

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O incumbente é, por norma, o mais atacado nas campanhas das legislativas, mas desta vez não existe. A campanha tem girado em torno da AD: os temas e as polémicas têm tido origem na campanha de Luís Montenegro. Não será, por isso, uma surpresa que Luís Montenegro tenha sido o mais atacado pelos seus adversários na primeira semana de campanha, sendo alvo de 53 ataques. Já Pedro Nuno Santos, que carrega o peso de ser o partido que governa, foi o segundo mais atacado. Os ataques seguiram, aliás, o peso dos partidos no Parlamento, com a exceção de Rui Tavares e Sousa Real, em que o líder do Livre acabou mais atacado do que a porta-voz do PAN.

Pedro Nuno Santos não se desfocou e atacou exclusivamente Luís Montenegro, resistindo mesmo a dar um puxão de orelhas a Rui Tavares sobre conversas com a direita democrática. O líder do PSD também se centrou no ataque ao principal adversário, ignorando por completo André Ventura (de quem só falou quando questionado diretamente) e deixando um pequeno ataque para a esquerda do PS. Já o líder do Chega atacou tudo e todos, mas — na nova estratégia de equiparar o PSD ao PS — atacou com a mesma força o desejado parceiro e os socialistas.

A Iniciativa Liberal atacou mais o PS, mas também visou a AD, com jeitinho, para não espantar o eleitorado que vê numa coligação AD-IL a solução para o futuro governo. O Bloco centrou-se no ataque a Montenegro e companhia, depois a André Ventura e, só timidamente, criticou o PS. E sempre o PS de Costa, não o de Pedro Nuno Santos. Paulo Raimundo atacou com a mesma força o PS absoluto do que a direita (onde incluiu a AD e os seus “sucedâneos”, Chega e IL). Inês Sousa Real e Rui Tavares preferiram atacar Montenegro e pouparam Pedro Nuno Santos. A porta-voz do PAN fez apenas um ataque ao PS, mas o líder do Livre nem isso. E só atacou a esquerda quando Mariana Mortágua o “obrigou a isso”.

PS. Pedro Nuno tem adversário único (e outro que ajuda à narrativa)

Ataques a Luís Montenegro: 13
Ataques a André Ventura: 0

Ataques a Rui Rocha: 0
Ataques a Mariana Mortágua: 0
Ataques a Paulo Raimundo: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Pedro Nuno Santos assume que tem apenas um adversário nesta campanha: a Aliança Democrática. As contas aos ataque que foi desferindo — 13 diferentes em cinco dias apenas — comprovam isso mesmo, já que não há outros alvos para o líder do PS que cavou um trincheira entre o “nós” e o “eles”, para marcar tudo aquilo em que o seu PS se difere da AD de Luís Montenegro, mas também (e sobretudo) da AD de Pedro Passos Coelho.

O líder socialista já tinha feito a sugestão quando disse, na passagem pelo distrito de Évora, que Montenegro se preparava para deixar cortes para alguém que viesse a seguir a ele fazer. Uma exploração encapotada da possibilidade de Montenegro poder cair na sequência destas eleições, que foi assumida sem mais rodeios esta sexta-feira, quando Pedro Nuno Santos afirmou, em Castelo Branco, que já percebeu que “Passos Coelho será o futuro adversário” do PS. A participação do ex-líder do PSD nesta campanha animou os socialistas e grande parte dos ataques à AD foram feitos por essa via, com a memória do corte nas pensões na era troika — e o mais que o Tribunal Constitucional chumbou — e também dos 13º e 14º meses a serem aproveitados.

E também contribuiu para a narrativa da deriva radical do PSD, bem como Paulo Núncio (do CDS) e Eduardo Oliveira e Sousa (cabeça de lista da AD em Santarém) — outros dois alvos referidos pelo líder socialista para acusar a AD de querer “andar para trás”. Subjacente a esta crítica está outra a outro partido, mas Pedro Nuno Santos tem feito para não referir o Chega pelo nome e deixá-lo apenas nas entrelinhas dos argumentos que utiliza na tentativa de radicalizar o PSD. O partido de André Ventura é atacado, mas por tabela e não diretamente e muito menos pelo nome — o exemplo mais claro da resistência em referir o partido é aquilo que fez Eurico Brilhante Dias que, em Leiria, quando comparou a associação de imigração a insegurança, feita por Passos, ao que fazem partidos como a AFD alemã ou a União Nacional francesa, disse apenas que “sabemos bem quem o faz em Portugal”.

Já em direção à esquerda do PS, a hostilidade é nula. Não há ataques registados, nem mesmo paralelos ou nas entrelinhas ou por portas travessas — mostrando uma estratégia alinhada com os eventuais parceiros. O líder socialista pura e simplesmente não entra por aqui e, sempre que é necessário, regressa à memória da geringonça e da prova que deu de “estabilidade” e “capacidade de diálogo” à esquerda — isto quando precisa de fazer o contraponto com aquilo que já chamou e “bagunça” à direita. Nem mesmo quando Rui Tavares espantou socialistas ao escancarar as portas à “direita democrática”, esta quinta-feira. Quando os jornalistas tentaram Pedro Nuno com essa posição, o líder do PS recusou responder e refugiou-se na capacidade da esquerda “de construir coisas em conjunto”.

Recordar troika, evitar agressões e recuperar memórias felizes. O guião comum da esquerda para tentar uma maioria

PSD. Montenegro tem um adversário principal e ignora totalmente Ventura

Ataques a Pedro Nuno Santos: 9
Ataques a André Ventura: 0
Ataques a Rui Rocha: o
Ataques a Mariana Mortágua: 1
Ataques a Paulo Raimundo: 1
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Luís Montenegro tem uma estratégia declarada para esta corrida eleitoral e não se desvia dela: não permitir que a campanha se transforme num bate-boca entre ele e o adversário direto. Em quase todos os comícios vai repetindo que “não se quer distrair muito” a falar dos outros, ainda que passe uma parte do tempo a denunciar os pecados socialistas. É fácil de perceber: o líder social-democrata sente que vai na frente e sabe que responder às críticas de Pedro Nuno Santos só servirá para galvanizar as tropas socialistas e deixar os dois no mesmo plano.

Montenegro não só não tem respondido diretamente às provocações do socialista, como raramente se refere ao rival pelo nome. Mais: faz sempre questão de colar Pedro Nuno aos oito anos de governação socialista, tentando neutralizar a narrativa do adversário para esta campanha — a tal ideia de que o PS aprendeu com os erros e insuficiências. Numa campanha controlada e avessa ao risco — apesar dos golpes autoinfligidos –, o facto de Luís Montenegro ter reduzido a sua exposição às questões dos jornalistas aos mínimos olímpicos ajuda-o a manter o guião. Ler um discurso a partir do púlpito não é o mesmo que responder a perguntas no momento — com menos espaço para o improviso, há menos erros.

Isso também tem permitido a Montenegro manter o guião praticamente intacto e tocar as teclas certas: afirmar-se como o candidato seguro, moderado, estável e preparado por oposição a um adversário que é “instável“, “impreparado“, desistiu de ter ambição para o país, um homem que decidiu sempre mal quando foi chamado a decidir (TAP, aeroporto, ferrovia) e que é um vazio de promessas, exemplo vivo de um partido que promete muito e não faz nada, um candidato a “fazedor de powerpoints“, como disse na Guarda. Um candidato que está obcecado com os “arranjos partidários“, ao ponto de estar disposto a abdicar das suas convicções para se aliar a dois partidos anti-Nato e eurocéticos — a única referência que fez a BE e PCP, sem os nomear, e a uma possível geringonça.

Os ataques a Pedro Nuno Santos e ao PS, ainda assim, são feitos com conta, peso e medida. Nesta campanha, Luís Montenegro procura assumidamente captar os eleitores que votaram anteriormente no PS e que se sentem “defraudados” com a falta de resposta dos socialistas — hostilizar abertamente esses eleitores seria um erro em relação à estratégia definida pela Aliança Democrática. A despesa dos ataques mais duros tem sido assumida pelos convidados de honra que se têm juntado à campanha — Passos Coelho, Carlos Moedas, Assunção Cristas, Durão Barroso –, o que permite outra coisa: Montenegro conseguir descolar da imagem de guerrilheiro político..

A mesma regra da não-hostilização gratuita tem valido para André Ventura: o líder do Chega tem ficado sem reposta apesar das várias provocações que têm feito ao longo da campanha. Na única vez que foi desafiado a comentar uma acusação do seu adversário à direita, limitou-se a dizer: “Ninguém o ouve“. O assunto morreu ali. Todavia, nos últimos discursos que foi fazendo, Montenegro intensificou o apelo ao voto útil, falando para todos aqueles que, estando desiludidos, podem estar tentados em optar pelo protesto.

“Sentimos em muitos eleitores que estão desgastados, desiludidos e frustrados. Eu compreendo. É apelativo utilizar o voto para dar nota dessa desilusão. Mas as eleições devem ser aproveitadas para exprimir uma opção de solução. A dispersão do voto vai favorecer o PS. O único voto que muda de governo é o voto na Aliança Democrática”, apelou Montenegro.

Chega. Ventura sem tréguas para ninguém

Ataques a Pedro Nuno Santos: 10
Ataques a Luís Montenegro: 10
Ataques a Rui Rocha: 2
Ataques a Mariana Mortágua: 5
Ataques a Paulo Raimundo: 5
Ataques a Inês Sousa Real: 3
Ataques a Rui Tavares: 5

André Ventura não dá tréguas a ninguém e, cada vez que fala, tudo serve de arma de arremesso… a todos. Antes da campanha ainda houve uma espécie de sprint final para que o PSD abrisse portas ao Chega num cenário pós-eleitoral, mas a assertividade de Luís Montenegro no “não é não” levou André Ventura a colocar o líder social-democrata exatamente no mesmo saco de todos os outros. E nem sequer é um saco repleto de ataques moderados, é mesmo um regresso confirmado ao discurso mais radical com que Ventura ganhou espaço na política nacional.

Aliás, não se fica pelos ataques e parte mesmo para as ofensas. De “corruptos” a “miseráveis”, de “incompetentes” a “mentirosos”, de “vendilhão” a “idiotas úteis” e até “burlona” ou “frouxo” — há de tudo na linguagem ofensiva do líder do Chega. Da esquerda à direita, do passado ao presente, Ventura usa todos os trunfos para menorizar os adversários políticos — e até vai buscar António Costa e José Sócrates para atacar os socialistas.

Tem colado, com chuva de críticas, o PSD ao PS e responsabiliza ambos, de igual forma, pelos 50 anos de governação, ao recordar constantemente os tempos em que Pedro Nuno Santos foi governante (“Não sei se é o mais impreparado e o mais incapaz da história do PS, mas é o mais mentiroso”) e também o currículo de Luís Montenegro como líder parlamentar (“É o mais frouxo que há num político”).

E se estes tempos servem de crítica a Luís Montenegro, o mesmo não acontece com Passos Coelho — provavelmente o único que apenas mereceu elogios de André Ventura durante a campanha (“Fez um bom serviço à democracia” ou ​​”basicamente disse ‘ponham os olhos no Chega’”). Ainda assim, até estas palavras positivas para Passos serviram de inspiração a mais ataques de Montenegro, com o líder do Chega a capitalizar a aparição de alguém que tem em muito boa conta para assegurar que foi à campanha dar “dois estalos” e mostrar a Montenegro o que devia andar a fazer desde que chegou a presidente do PSD.

O tom que recuperou acaba por superar barreiras quando toca na esquerda, em particular na reação à posição de Rui Tavares (quando disse que há questões em que pode negociar com a AD e IL) que levou Ventura a sugerir que é dos que “vendiam a mãe para se manter no poder”, e também quando fala de Mortágua, a quem chamou “mentirosa” e “burlona”. Pelo meio, até a Iniciativa Liberal tem sido acusada de ter perdido as convicções de partido de direita. Feitas as contas, ainda a campanha vai a meio e ninguém escapou aos ataques de Ventura.

IL: contra a esquerda sempre — e contra a AD também, mas com jeitinho

Ataques a Pedro Nuno Santos: 9
Ataques a Luís Montenegro: 5
Ataques a André Ventura: 2
Ataques a Paulo Raimundo: 3
Ataques a Mariana Mortágua: 5
Ataques a Inês Sousa Real: 1
Ataques a Rui Tavares: 1

A contabilização dos ataques da Iniciativa Liberal mostra a responsabilização permanente da esquerda (PS/PCP/BE) por tudo o que Rui Rocha entende que deve ser mudado, desde a reversão das Parcerias Público Privadas na saúde até à gestão da TAP e aos impostos.

Também evidencia a ostracização do Chega, que não conta para o Governo sonhado por Rui Rocha, que no entanto não se coibiu de fazer um violento ataque à natureza do partido de André Ventura, a responder a uma pergunta sobre os cenários pós-eleitorais.

Expõe a irrelevância atribuída ao Livre e ao PAN, que só atacou para comentar a alegada disponibilidade dos dois partidos para fazerem acordos com o centro-direita que excluam o Chega.

Mas acima de tudo denuncia a dança especial com a AD, o único parceiro de governo que a IL admite, mas também a maior ameaça ao seu eleitorado, à medida que aumenta a pressão pelo voto útil. Rui Rocha costuma dizer que Luís Montenegro defende uma mudança de ritmo mais lento, para depois assinalar que a Iniciativa Liberal propõe mudanças em tom mais acelerado. Não perdoou a tirada de Paulo Núncio sobre o referendo ao aborto, nem a ameaça das milícias populares de agricultores feitas pelo cabeça de lista da AD por Santarém, nem o facto de não terem avançado com o Hospital Central do Algarve nos anos em que estiveram poder. E ainda atirou uma indireta a Luís Montenegro por ter dito num vídeo de campanha que o seu clube era a Seleção Nacional quando toda a gente sabe que é adepto do FC Porto.

Bloco. Contra a direita e o PS absoluto (mas não o de Pedro Nuno)

A coordenadora Nacional do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, intervém num almoço com ativistas laborais que apoiam a candidatura do BE às eleições de 10 de março, em Lisboa, 22 de fevereiro de 2024. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Ataques a Luís Montenegro: 12
Ataques a Pedro Nuno Santos: 3
Ataques a André Ventura: 7
Ataques a Rui Rocha: 4
Ataques a Paulo Raimundo: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 1

Não são raras as vezes em que o Bloco ataca a direita como um todo: fá-lo para a apresentar como uma espécie de pacote completo, vote-num-eleja-todos, em que as ideias de todos se cruzam e se contaminam, sobretudo as mais “retrógradas” e que lembram o “passado”. Por isso mesmo, Mariana Mortágua tem feito questão de puxar pela aparição de Pedro Passos Coelho e outras figuras do passado, como Durão Barroso e Assunção Cristas — tudo nomes que, para o Bloco, agitam sobre o “povo” o espectro dos “tempos sombrios” da troika. Mas também fala das atuais figuras da AD, incluindo as que têm provocado mais embaraços na campanha, de Paulo Núncio (pela defesa que fez de um referendo à legalização do aborto) a Eduardo Oliveira e Sousa (pelas declarações do ex-líder da CAP sobre clima e agricultura), passando pelo inevitável Gonçalo da Câmara Pereira (pelas declarações polémicas sobre violência doméstica). São figuras que Montenegro tem precisado de “esconder” ou “desdizer” pelas tais posições que representam um “regresso ao passado”, vai atirando Mortágua.

Como seria de esperar, IL e Chega também são brindados com farpas recorrentes, seja por causa dos “milionários” e “interesses” que financiam os dois partidos ou por causa de propostas que constam dos seus programas eleitorais — o BE dedica-se sobretudo a tentar desmontar propostas dos liberais, que acusa de quererem “privatizar” a Segurança Social e de apresentarem contas “irresponsáveis”.

O PS é alvo, mas em menor grau, e não no que toca ao seu programa atual: os ataques de bloquistas contra socialistas focam-se sobretudo na “desastrosa” maioria absoluta de António Costa, que o partido acusa de agravar “bloqueios” e desigualdades que fizeram o Chega crescer. O que o Bloco pretende é distanciar-se destes últimos dois anos em que o PS governou sozinho, assegurando que uma governação mais à esquerda traria medidas diferentes. Vale a pena fazer uma menção a Manuel Pizarro, o único “ministro da maioria absoluta” que já mereceu duas críticas violentas, incluindo a acusação de “ofender os direitos das mulheres” por não garantir na prática o acesso ao aborto no SNS.

O Bloco tem poupado a restante esquerda, junto da qual se quer apresentar numa frente unida, com uma exceção: os bloquistas não resistiram a aproveitar as declarações equívocas de Rui Tavares sobre diálogos com a direita para lhe chamar a atenção e defenderem, pela voz de Mortágua, que o momento é de mobilizar o eleitorado de esquerda, não de o confundir. Ficou picado o ponto, entre dois partidos que disputam eleitorado de forma muito direta, e os bloquistas não cavalgaram mais o assunto: não convém exagerar e passar a ideia de que este lado do espectro político está em guerra ou não se entende.

PCP. O PS de Costa, o PSD e os seus sucedâneos foram os alvos dos comunistas

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, intervem durante um comício da Coligação Democrática Unitária (CDU), em Almada, 27 de fevereiro de 2024. No dia 25, começou oficialmente a campanha eleitoral, nos termos da legislação, acabando no dia 8 de março, em contagem decrescente para as eleições legislativas de 10 de março, convocadas após a demissão do primeiro-ministro, António Costa, a 7 de outubro. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Ataques a Pedro Nuno Santos: 9
Ataques a Luís Montenegro: 9
Ataques a André Ventura:9
Ataques a Rui Rocha: 9
Ataques a Mariana Mortágua – 0 
Ataques a Inês Sousa Real – 0 
Ataques a Rui Tavares – 1 

Não houve nenhuma ação de campanha que faltassem ataques a “PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal” ou a “PSD, CDS e seus sucedâneos” ou até “àqueles que querem regressar aos tempos sombrios da troika”. Paulo Raimundo discriminou apenas uma vez para atacar as “juras de amizade” de André Ventura e as “confissões de fidelidade do voto” de Rui Rocha em Passos Coelho.

Passos Coelho foi presença frequente no discurso do secretário-geral do PCP. E os ataques à direita foram originais. Incluíram até comparações com Donald Trump e com… dinossauros, quando questionado sobre a polémica a envolver Eduardo Oliveira e Sousa, cabeça de lista da AD por Santarém.

A CDU parte para a segunda semana de campanha com os alvos bem definidos. O ataque à direita é tão importante como visar os socialistas, mas com um distinção: atacar principalmente o PS absoluto “de consciência pesada” e poupar o PS dos tempos da geringonça. À esquerda do PS, só um tiro amigo (e de raspão) a Rui Tavares. Desvalorizou a polémica declaração do líder do Livre sobre diálogos à direita, mas deu um puxão de orelhas, para pedir que a campanha fosse centrada na melhoria das condições de vida da população. Fora dos ataques políticos, apenas o ataque recorrente foi mesmo, como seria de esperar, aos lucros “escandalosos” dos “grandes grupos económicos”, que faz lembrar o programa “Preço Certo”.

PAN. Sousa Real contra Montenegro e a AD que vive “em 1970”

A porta-voz do partido Pessoas - Animais - Natureza (PAN), Inês Sousa Real, na apresentação do programa eleitoral do PAN para as Eleições Legislativas 2024, Porto. 17 de fevereiro de 2024. FERNANDO VELUDO/LUSA

Ataques a Pedro Nuno Santos: 1
Ataques a Luís Montenegro: 4
Ataques a André Ventura: 2
Ataques a Rui Rocha: 0
Ataques a Mariana Mortágua: 0

Ataques a Paulo Raimundo: 1
Ataques a Inês Sousa Real: 0
Ataques a Rui Tavares: 0

Os ataques de Inês Sousa Real têm sido, na sua maioria, dirigidos a Luís Montenegro, por considerar que este está a “dar a mão ao conservadorismo” e de se extremar à direita. Assim, afasta-se cada vez mais de um apoio à Aliança Democrática que “ignora o respeito pela vida animal e as alterações climáticas”. Na sexta-feira, salientou uma “campanha digna dos tempos de 1970” e acusou o líder do PSD de “não acompanhar o progresso civilizacional”. Reagia às recentes declarações do cabeça-de-lista da AD por Santarém, Eduardo Oliveira e Sousa, antigo presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal, sobre a agricultura.

Antes disso, já tinha criticado cada uma das polémicas que a coligação de direita colecionou durante a primeira semana de campanha. Quando andava por Beja, logo após as declarações de Passos Coelho sobre imigração, acusou a AD e Montenegro de se aproximarem da agenda do Chega. Depois de Paulo Núncio colocar a hipótese de um novo referendo à interrupção voluntária da gravidez, Sousa Real acusou o mesmo líder da AD de querer “afrontar” os direitos das mulheres.

No início da campanha, quando as polémicas da AD ainda não tinham estalado, a porta-voz do PAN fez um duplo ataque ao PS e PSD que acusou de votarem “alinhados muitas das vezes em matérias estruturais, como acontece nos avanços que pretendemos fazer no combate à corrupção e fomento da transparência, ou até na revisão dos escalões do IRS”, pretendia, assim, apelar ao voto útil no PAN. Poupou quase todos os candidatos da esquerda, com exceção de Paulo Raimundo, ao qual deixa um alerta em caso de  coligação à esquerda: “O PCP terá que ter uma posição diferente em relação à guerra na Ucrânia”. “Trata-se de um drama humanitário ao qual nenhuma força política pode ficar indiferente. Não é uma questão de diferença ideológica”, defendeu.

Sem ser o centro do seu ataque, mas sem nunca esquecer André Ventura e o Chega, Inês Sousa Real, que até andou por Mem Martins em campanha, avisou que a solução para o país “não passa por um voto em forças populistas e antidemocráticas como as que representa André Ventura”. O aviso tem sido repetido ao longo da campanha, foram várias as vezes que a porta-voz do PAN lembrou que votar no Chega coloca em perigo os “direitos humanos”.

Livre. Rui Tavares atirou à direita e foi forçado a contra-atacar Mortágua

Ataques a Pedro Nuno Santos – 0
Ataques a Luís Montenegro – 3
Ataques a André Ventura – 3
Ataques a Rui Rocha: 1
Ataques a Mariana Mortágua: 1
Ataques a Paulo Raimundo: 0
Ataques a Inês Sousa Real: 0

O ataque de Rui Tavares estava traçado desde o último debate que juntou os líderes com assento parlamentar nas rádios. Com Ventura a faltar, mas sempre classificado pelo Livre como à parte do espetro democrático, os alvos foram o PSD e a Iniciativa Liberal que foram desafiados nesse momento e ao longo de toda a semana da campanha a responder se votam favoravelmente (ou não) uma moção de rejeição do Chega a um governo de maioria relativa à esquerda. Luís Montenegro foi colocado em xeque nesta ocasião e em outras quem envolvem a AD, desde Passos Coelho a Paulo Núncio.

O porta-voz do Livre considerou “indesculpável” um antigo primeiro-ministro ter relacionado imigração e alegada insegurança, apontando ser “mais fácil encontrar gente com cadastro, suspeita de crimes, alguns deles violentos, nas listas de certos partidos políticos nestas eleições do que entre os imigrantes”. Disse não acreditar em fantasmas, referindo-se ao de Passos, e lamentou que a direita pretenda reabrir debates na sociedade que considera encerrados, aludindo ao aborto, uma das polémicas da semana.

Improvável acabou por ser o ataque da esquerda para a esquerda. O de Rui Tavares foi, no entanto, mais um contra-ataque a Mariana Mortágua, depois de o Bloco de Esquerda, nas palavras do deputado único, ter “cavalgado” a “descontextualização” de uma frase sua em que apelava à necessidade de diálogo construtivo com a direita democrática. Depois de esclarecer que o Livre é, em qualquer ocasião, oposição à direita e apoio à esquerda, Rui Tavares atirou, em tom de amargura: “Nunca cavalgámos descontextualizações feitas para atacar outros partidos de esquerda.”

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