Um “bom início de conversa” sobre diálogos à esquerda estragado por um tropeção do Livre. Foi mais ou menos esta a mensagem que Mariana Mortágua deixou na noite desta quinta-feira, num comício em Leiria, durante o qual aproveitou para deixar um ralhete a Rui Tavares por ter admitido conversar com a direita (e depois corrigido o tiro): ““Devemos estar totalmente concentrados em derrotar a aliança PSD-IL e não em projetos de diálogo com essa aliança. Este é o momento de votar, não de confundir”.

O discurso da coordenadora do Bloco tinha começado por uma série de fortes ataques à maioria absoluta do PS, mas com um bocadinho de esperança no futuro (leia-se no pedronunismo). Primeiro, sobre Saúde: “De norte a sul o governo vai puxando as pontas mas não consegue esconder que a manta é curta demais, e só encolheu durante a maioria absoluta”.

Os ataques à maioria continuaram a subir de tom e chegar ao ponto de colar ao “ministro da Saúde da maioria absoluta”, Manuel Pizarro, uma frase outrora usada por Luís Montenegro: “Falta pouco para o ouvirmos dizer que o SNS está melhor, só o acesso ao SNS é que não está melhor”, ironizou (em 2014, Montenegro disse que o país estava melhor mas os portugueses não, uma ideia que se colou à pele do atual líder do PSD, então líder parlamentar da troika).

Para Pedro Nuno Santos havia um sinal mais simpático: ao dizer que não dará nenhum “passo atrás” no Estado social, fez “um bom início de conversa”. Mas o Bloco quer que vá mais longe: não é suficiente “deixar tudo como está” nem dar passos atrás, mas antes “fazer o contrário, fazer diferente do que fez a maioria absoluta”. Será preciso ter “coragem para desbloquear bloqueios que a maioria absoluta deixou”, seja na melhoria das condições dos médicos ou dos professores, para “reconstruir” tanto o SNS como a escola pública, argumentou Mortágua.

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Aberta a porta a conversas sobre diálogos à esquerda — os diálogos que o Bloco tem pedido — partiu ao ataque contra Rui Tavares, que esta quinta-feira teve de se corrigir depois de ter admitido conversas com a “direita democrática”, declarações que deixaram o Bloco em brasa. A líder do BE, que disputa eleitorado com o Livre, não foi meiga na “nota” que fez questão de deixar sobre aquelas declarações: “Devemos estar totalmente concentrados em derrotar a aliança PSD-IL e não em projetos de direita. Este é o momento de votar, não de confundir. É possível derrotar a direita e não desistimos desse objetivo”.

Livre esclarece que não admite coligação ou apoio a maioria de direita. “Seremos parte de uma oposição responsável e dialogante”

E, tentando mostrar que está focada no objetivo, voltou a defender a necessidade de uma “esquerda forte”, que condicione um governo para que este “resolva as crises que alimentam o ressentimento e a desilusão”. Para isso, será preciso um “entendimento mobilizador” à esquerda, contra toda a direita, sobre Habitação, SNS e salários, avisou. “Temos oito dias para garantir a vitória, e ela vai fazer-se de clareza, proposta e compromisso”. São oito dias para contrariar as sondagens e tentar provar que a esquerda ainda consegue chegar à maioria.