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A instalação artística intitulada "Masayume", um balão de ar quente com cerca de 25 metros de diâmetro que será lançado durante os próximos dias na Praça do Comércio (21 de julho), Jardim da Torre de Belém (22 de julho) e Alameda D. Afonso Henriques (23 de julho)
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A instalação artística intitulada "Masayume", um balão de ar quente com cerca de 25 metros de diâmetro que será lançado durante os próximos dias na Praça do Comércio (21 de julho), Jardim da Torre de Belém (22 de julho) e Alameda D. Afonso Henriques (23 de julho)

A instalação artística intitulada "Masayume", um balão de ar quente com cerca de 25 metros de diâmetro que será lançado durante os próximos dias na Praça do Comércio (21 de julho), Jardim da Torre de Belém (22 de julho) e Alameda D. Afonso Henriques (23 de julho)

Os 40 anos do CAM, a arte japonesa e um balão a sobrevoar Lisboa

Performances, música e instalações mostram o melhor da arte nipónica contemporânea. São o mote para celebrar os 40 anos do Centro de Arte Moderna e a ligação histórica entre Portugal e o Japão.

E se de repente, pairasse nos céus de Lisboa o rosto gigante de uma mulher? Por mais estranho que pareça é isso mesmo que irá suceder ao longo dos próximos dias e faz tudo parte da instalação artística intitulada “Masayume” (‘Sonho que se torna real’, em tradução portuguesa), um projeto de grande impacto visual criado pelo coletivo de artistas Mé, constituído por Haruka Kojin, Kenji Minamigawa e Hirofumi Masui, que será pela primeira vez mostrado fora do Japão. Com cerca de 25 metros de diâmetro, trata-se de um balão de ar quente que será lançado durante os próximos dias na Praça do Comércio (21 de julho), Jardim da Torre de Belém (22 de julho) e Alameda D. Afonso Henriques (23 de julho). O momento serve de mote para a celebração do 40.º aniversário do Centro de Arte Moderna Gulbenkian (CAM), que irá (re)abrir portas no primeiro semestre do próximo ano, depois de um período encerrado para obras de reconversão.

Além desta impactante instalação, a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta um programa dedicado à arte contemporânea japonesa intitulado “Engawa”, palavra-conceito que está na base do projeto do arquiteto japonês Kengo Kuma para o edifício do CAM, e que designa um espaço de passagem feito em madeira, simultaneamente interior e exterior, característico das casas tradicionais japonesas. Reunindo diferentes colaborações com artistas e instituições culturais na cidade de Lisboa, a temporada, que junta performance, músicas e diversas instalações, serve igualmente como forma de simbolizar a ligação histórica entre Portugal e o Japão, bem como os muitos laços culturais que motivam este diálogo inusitado entre os dois países.

Mieko Shiomi e Ami Yamasaki, dois nomes que fazem parte desta temporada japonesa e cujo trabalho está integrado no programa a partir de setembro

Cruzam-se assim diferentes práticas e disciplinas artísticas, sustentado por um trabalho curatorial de Emmanuelle de Montgazon, que irá utilizar a cidade como pano de fundo, mas também os jardins da fundação. Ao Observador, a curadora francesa convidada para o efeito, sublinha que este será o primeiro grande momento da temporada do novo CAM, que assume também a premissa de repensar o que pode ser um centro de arte contemporânea no futuro, no contexto das cidades e dos desafios que as mesmas enfrentam hoje em dia. “Propomo-nos a pensar no CAM como um espaço de intervenção que rompe as suas próprias fronteiras físicas e que ultrapassa as lógicas estáticas de uma exposição”, salienta ao Observador, invocando o espírito do serviço ACARTE, que durante os primeiros anos do CAM, inaugurado em 1983, imprimiram um espírito “livre e transversal” ao centro, através da multidisciplinariedade.

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Um novo primeiro contacto

Num aspeto central desta temporada japonesa, está também o momento em que se assinalam o 480.º aniversário das relações entre Portugal e o Japão, e uma relação histórica que se espera reavivada através da arte e da cultura. “Para os japoneses, a chegada dos portugueses foi o primeiro grande contacto com os povos não-asiáticos”, explica a curadora. “Desse momento ficou uma relação histórica que agora acontece em sentido contrário. Agora, é o Japão que chega a Portugal”, destaca em entrevista ao Observador.

“No fundo, o que interessa nesta obra é esse contacto visual, mas sobretudo o processo de montar e lançar este balão”, que ficará preso a uma base fixa no solo, e levará cerca de 10 minutos a levantar, até pairar a uma altura que poderá chegar aos 90 metros do solo. O trabalho de escolha dos locais, começou há um ano, quando o coletivo viajou pela primeira vez até Lisboa.

Voltamos a “Masayume”, a instalação do coletivo Mé, que simbolicamente representa esse primeiro olhar nipónico que paira sobre Lisboa. Ao Observador, o coletivo artístico explica como há um momento de serendipidade no facto de trazerem esta instalação até à capital portuguesa. “É um encontro coincidente, mas era como se estivesse destinado a acontecer”, dizem. A ideia para esta verdadeira performance nos céus, completam, terá surgido de um sonho. Aos 14 anos, a artista Haruka Kojin (membro do coletivo) sonhou com um rosto enorme flutuando no céu e a imagem ficou com ela. Infelizmente, quando os artistas começaram a trabalhar em Masayume, Kojin não se conseguia lembrar do tipo de rosto que tinha visto. Assim, o coletivo de arte lançou uma open call para encorajar pessoas de todas as idades, géneros e nacionalidades a enviar fotos de seus próprios rostos, chegando por fim a um resultado que mantém anónimo esse mesmo rosto.

“No fundo, o que interessa nesta obra é esse contacto visual, mas sobretudo o processo de montar e lançar este balão”, que ficará preso a uma base fixa no solo, e levará cerca de 10 minutos a levantar, até pairar a uma altura que poderá chegar aos 90 metros do solo. O trabalho de escolha dos locais, começou há um ano, quando o coletivo viajou pela primeira vez até Lisboa.

Performance e instalação audiovisual "100 Cymbals", do compositor e artista visual Ryoji Ikeda, interpretada pelo reputado ensemble Les Percussions de Strasbourg

“Ao sairmos do avião, quando vimos a cidade de Lisboa, pensámos: ‘É mesmo isto’. Desde os telhados das casas às paisagens urbanas, já para não falar da beleza da luz, é raro encontrar uma cidade com uma topografia tão cénica, com tantas subidas e descidas numa distância de poucos quilómetros, e isso é muito importante para a forma de apresentar esta peça. No curto espaço de tempo que passámos na cidade, rapidamente ficámos fascinados com a comida e com as pessoas de Lisboa, com a sua arquitetura e decoração, com o hábito que as pessoas têm de se reunirem em zonas elevadas ao fim do dia para apreciarem o pôr do sol e pela atmosfera que assim criam na cidade. Deste modo, o que oferece a nossa peça a este lugar? O que pode nascer aqui, sem discursos preparados nem preconceitos? Foi nisso que continuámos a pensar”, explica o coletivo no texto que apresentam sobre Masayume.

O futuro do CAM e uma arte “site-specific”

Para Emmanuelle de Montgazon, o princípio orientador da sua escolha como curadora foi a procura por artistas que desenvolvem um trabalho site-specific, que não é estático e que relaciona a dimensão espacial com as comunidades que trazem vida aos diferentes locais públicos. A relação entre a cidade e as pessoas, e neste caso, entre o CAM e os seus visitantes, implica um “pensamento transversal sobre o papel da arte na sociedade”, sintetiza a curadora. “É suposto que isso traga uma outra filosofia para este importante centro de arte que vai reabrir portas e que será, certamente, marcado por uma lógica muito dominada pelos cruzamentos disciplinares, agregando as várias valências da fundação, que não se dedica apenas ao campo artístico, mas também da ciência ou da economia social”, refere.

A programação que ganha forma ao longo dos próximos dias, recorde-se, pretende celebrar os 40 anos de abertura do CAM, inaugurado a 20 de julho de 1983 como o primeiro espaço em Portugal com uma exposição permanente de arte moderna e contemporânea – com 540 obras de arte portuguesa e internacional de 252 artistas.

A pensar nisso mesmo, esta programação prossegue no dia 21 de julho, no Grande Auditório da Gulbenkian, com a performance e instalação audiovisual “100 Cymbals”, do compositor e artista visual Ryoji Ikeda, interpretada pelo reputado ensemble Les Percussions de Strasbourg. Trata-se de uma experiência auditiva ímpar que se desenvolve na ténue linha que separa o ruído da ressonância harmónica, onde será também apresentado um tributo de Ikeda a John Cage, através da interpretação livre da obra “But what about the noise of crumpling paper”, composta em 1985 pelo compositor americano, pioneiro da música aleatória e eletroacústica. Já no domingo, dia 23, será a vez da artista Lei Saito apresentar uma paisagem comestível, a que chamou “Cozinha Existencial” [“Cuisine Existentielle”], inspirada na sua investigação sobre a culinária, a história e o planeamento urbano da cidade de Lisboa. Tendo o Jardim Gulbenkian como pano de fundo, Lei Saito cria uma instalação com vários alimentos e objetos cerâmicos, oferecendo ao público uma surpreendente experiência estética e sensorial.

Lei Saito apresenta uma paisagem comestível, a que chamou "Cozinha Existencial" ["Cuisine Existentielle"], inspirada na sua investigação sobre a culinária, a história e o planeamento urbano de Lisboa

A temporada retoma em setembro, com uma presença de vulto, a artista Mieko Shiomi, que se tornou membro do Fluxus em 1964, movimento que teve em Yoko Ono um dos seus mais mediáticos expoentes. A célebre artista, com 84 anos de idade, apresenta uma obra inédita em outros espaços da fundação, interpretada por músicos e artistas portugueses. Nesse mês, destaca-se igualmente a presença da artista multidisciplinar Ami Yamasaki, que utiliza o próprio corpo como instrumento, emitindo sons que refletem todo o tipo de vibrações invisíveis do que nos rodeia e que irá apresentar a performance “Manga Scroll” de Christian Marclay, um dos mais importantes artistas a trabalhar entre o som e a arte visual e também uma performance a solo e em dueto com o músico Ko Ishikawa, um reconhecido intérprete de Sho.

A programação que ganha forma ao longo dos próximos dias, recorde-se, pretende celebrar os 40 anos de abertura do CAM, inaugurado a 20 de julho de 1983 como o primeiro espaço em Portugal com uma exposição permanente de arte moderna e contemporânea – com 540 obras de arte portuguesa e internacional de 252 artistas –, sendo que o arquiteto José Sommer Ribeiro viria a ser o seu primeiro diretor. Quatro décadas volvidas, e vários diretores depois, o CAM pretende afirmar-se como espaço de diálogo entre as diferentes disciplinas artísticas e os seus espectadores. Por agora, esse legado começa a espalhar-se com espírito nipónico nos céus de Lisboa.

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