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Nuno e Francisco seguram o leme da Poetria desde 2017 e asseguram que irão ser "muito felizes" na nova morada
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Nuno e Francisco seguram o leme da Poetria desde 2017 e asseguram que irão ser "muito felizes" na nova morada

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Nuno e Francisco seguram o leme da Poetria desde 2017 e asseguram que irão ser "muito felizes" na nova morada

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Poetria: a história da livraria do Porto que sobreviveu ao despejo, mudou de casa e agora quer chegar a todos

A única livraria especializada em poesia e teatro do país sobreviveu às ordens de despejo e conseguiu renascer. Agora quer chegar às escolas, lançar edições próprias, um guia literário e um podcast.

Depois de um processo de despejo e de uma batalha judicial, a livraria Poetria mudou de casa graças ao apoio da autarquia do Porto e até quer ter Marcelo Rebelo de Sousa na inauguração. Na manga tem projetos como criar um guia literário pela cidade, realizar parcerias com escolas situadas em ambientes desfavorecidos, fazer um podcast e lançar mais edições próprias. Mas para perceber a nova vida deste negócio com quase duas décadas de vida é preciso recuar no tempo.

Em 2003, Dina Ferreira da Silva, depois de se reformar como professora de português e francês, fundou a Poetria, a única livraria do país especializada em teatro e poesia, e instalou-a nas míticas Galerias Lumière, numa loja com apenas quatro metros quadrados. O edifício construído na década de 70, projetado pelo arquiteto Magalhães Carneiro, já integrou duas salas de cinema e até uma discoteca, em 2014 o imóvel de dois andares, que liga a Rua das Oliveiras e a Rua de José Falcão, passou a funcionar como uma galeria comercial, albergando lojas, restaurantes e escritórios.

A proximidade com o Teatro Carlos Alberto, as iniciativas que organizava e a montra virada para a rua, repleta de livros e com um quadro de ardósia onde diariamente eram citados autores ou estados de espírito, fizeram da Poetria uma das casas mais emblemáticas da cidade do Porto — o escritor Valter Hugo Mãe apelidou-a mesmo de “livraria gourmet“. Francisco Reis e Nuno Queirós Pereira eram clientes assíduos e em 2017 perceberam que Dina Ferreira estava cansada de segurar o leme da livraria e pretendia “fechá-la em silêncio”. Foi aí que ambos se juntaram para “salvar” o negócio.

Sem qualquer experiência como livreiros, a dupla responsável contou sempre com a presença da fundadora e em pouco tempo aumentou a oferta nas prateleiras, lançou a Fresca, uma editora própria dedicada a autores nascidos depois de 1980, a maioria deles portuenses, e já com 14 livros lançados, e fez parcerias com negócios vizinhos, organizando noites e jantares dedicados à poesia.

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Depois de ordens de despejos e quase três anos de luta judicial, os responsáveis pelo projeto podem respirar de alívio

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“Foram dois anos muito duros, mas que valeram a pena”

Dois anos depois, Nuno e Francisco foram surpreendidos com um novo obstáculo. Em outubro de 2019 era anunciado o fim das Galerias Lumière, cuja administração tinha a intenção de transformar o edifício num hotel, os comerciantes queixavam-se da pressão exercida para chegarem a um acordo para saírem, da falta de comunicação e dos erros relativamente aos contratos de arrendamento. Muitos acordaram indemnizações e saíram, mas Francisco Reis e Nuno Queirós Pereira resistiram a todas as ordens de despejo e rejeitaram qualquer indemnização por parte da empresa imobiliária proprietária, por considerarem que o contrato de aluguer seria válido até 2025.

O fim das Galerias Lumière: uns lutam com advogados, outros rendem-se e fecham a porta

O anúncio feito nas redes sociais da livraria suscitou uma onda de solidariedade quase imediata, com direito a uma petição pública e várias mobilizações cívicas contra o encerramento definitivo, mas durante mais de dois anos a Poetria viveu dias de angústia e incerteza. “Não havia limpeza, nós é que tínhamos de abrir as portas para a rua, sentimos mesmo bullying, recorda Francisco Reis ao Observador.

Logo no final de 2019, Nuno e Francisco reuniram-se com o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, que lhes prometeu uma solução, mas a pandemia atrasou o processo, obrigou a Poetria fechar as portas temporariamente, deixou quebras significativas na faturação, projetos na gaveta e mesmo as vendas online “foram residuais”.

Só durante a Feira do Livro do ano passado é que Rui Moreira, acompanhado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, visitou a banca de Nuno e Francisco e lhes anunciou uma nova morada, a 100 metros da casa original. “Felizmente a autarquia percebeu que a Poetria é mais do que uma empresa, é um ativo cultural da cidade, sendo também uma editora que dá voz a tantos talentos do Porto. Foram dois anos de luta muito duros, mas valeram a pena”, afirmou Nuno Pereira ao Observador em setembro passado, numa altura em que a câmara aprovou por unanimidade a decisão de ceder o espaço no número 115 da Rua de Sá Noronha, através de um contrato de dois anos renovável e uma renda mensal “simbólica” de 50€.

Porto. Após uma luta judicial de dois anos, a Livraria Poetria deixa as Galerias Lumière e tem nova morada

“É uma loja francamente maior, com dois andares, onde podemos organizar eventos como apresentações de livros ou debates. Nunca foi utilizada antes, por isso serão necessárias algumas obras no chão, que está em bruto, e na parte de eletricidade”, adiantou o responsável na época. Após um período de remodelações profundas, Nuno e Francisco transportaram em caixas os mais de seis mil livros de teatro, poesia, ficção, edições infantis e de língua inglesa — Edgar Alan Poe, Adília Lopes, Jorge de Sena, Fernando Pessoa, Bocage ou Vasco Graça Moura são apenas alguns exemplos — de um espaço para o outro e este mês abriram as portas ao público. “Sim, ainda faltam algumas coisas como desempacotar e organizar livros, comprar um letreiro, pendurar luzes e um novo vinil para escrevermos poemas, mas as saudades apertam e a ânsia de partilharmos a nova casa da Poetria também”, anunciaram recentemente nas redes sociais.

Apresentações de livros, concursos de poesia e ilustração, roteiros literários e até um podcast, ideias não faltam para a nova vida da Poetria

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A inauguração oficial será só em maio, mês do 19.º aniversário da livraria, e Marcelo Rebelo de Sousa será um dos convidados. “Queremos fazer uma grande festa, fechar a rua e convidar o Sr. Presidente da República que na Feira do Livro prometeu que viria. Ainda estamos a planear o que poderá acontecer, mas este espaço é a nossa verdadeira festa. Graças a ele sabemos que a livraria vai continuar e tenho a certeza que iremos ser muito felizes aqui“, sublinha Francisco Reis.

Um guia literário pela cidade, um podcast e um concurso para os mais novos

Apesar de estar numa zona pedonal e menos exposta, a nova morada trouxe à Poetria um mundo de possibilidades. “Foram quase três anos de dispersão a nível de ideias, agora queremos retomar o nosso foco”, começa por explicar Francisco Reis, nomeando exemplos como apresentações de livros na nova loja, a criação de um podcast sobre literatura ou estabelecer colaborações com o Teatro Nacional São João, a Reitoria da Universidade do Porto, bares e restaurantes vizinhos, onde seja possível desenhar uma programação cultural aberta ao público.

Dina Ferreira, a fundadora da livraria que nunca deixou de estar ligada ao projeto, irá coordenar uma espécie de roteiro literário pela cidade todos os sábados de manhã, a partir do próximo mês. “A ideia partiu dela e pretende dar a conhecer a história de alguns autores portuenses — onde nasceram, que cafés frequentavam ou onde estudaram – percorrendo determinadas ruas e identificando locais emblemáticos. Outra ideia da Dina é contar a história da livraria através de imagens antigas, depois iremos decidir se este trabalho de pesquisa poderá ser apresentado online ou materializado num livro”, acrescenta o responsável.

A Câmara do Porto cedeu um novo espaço à livraria, o contrato é de pelo menos dois anos com oportunidade de renovação

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A ganhar forma está também uma instalação artística que irá ocupar uma das janelas da Poetria, com a assinatura do projeto Lágrima, e um desafio dedicado aos mais novos. “Vamos lançar um concurso de poesia aos alunos do 5.º ao 9.º ano e vamos privilegiar escolas situadas em bairros ou ambientes socialmente mais desfavorecidos da cidade. A ideia é desafiá-los a escrever um poema ou a fazer uma ilustração e depois compilar essas ideias num livro, na próxima edição da Feira do Livro, no verão, já queremos ter exemplares deste trabalho. As crianças e jovens estão cada vez mais desligados do mundo literário, trazê-los desde cedo para o universo poético é algo que poderá acompanhá-los para sempre.”

A partir de março, a Poetria vai ainda co-editar seis peças de teatro assinadas por Ana Moreira, Jorge Louraço Figueira, Nuno M. Cardoso, Jorge Patinhas, Marta Freitas, Rui Pina Coelho e Vanessa Sotelo, e lançar quatro novos títulos da editora Fresca, assinados por jovens poetas portuenses em ascensão – Hugo Miguel Santos, João Cardona, Lourenço Quintão e Kallie Falandays –, e cujas capas dos livros nascerão de colaborações com vários artistas plásticos.

Na mira da livraria prestes a completar duas décadas de existência estão também a candidatura ao Porto de Tradição, o programa municipal que, desde 2016, distingue e apoia lojas e marcas de interesse histórico, cultural e social na cidade. “Fazer parte deste programa seria muito significativo para nós, esta iniciativa tem circuitos próprios e protege o comércio tradicional, lançar essa primeira pedra seria muito importante”, esclarece Francisco Reis.

Rua Sá de Noronha, 115 (Porto). Segunda a sábado, 12h às 19h. Tel.: 92 812 9119

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